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Título

A COMUNICAÇAO ENTRE A MULHER GESTANTE HAITIANA E O ENFERMEIRO: DESAFIOS NO PROCESSO DE CUIDADO

Introdução

Faz parte da história da humanidade o seu deslocamento de um lugar para o outro; e esse fenômeno se dá, na maioria das vezes, por necessidades específicas de um determinado contexto histórico, social, econômico e ambiental. Os intensos movimentos migratórios acontecem por influência de longas guerras civis, catástrofes naturais, a fome entre outros problemas sociais(1). Atualmente no Brasil a chegada de haitianos tem sido intensa, em virtudes de sequenciais desastres ambientais vivenciados neste país. Segundo o Observatório das Migrações Internacionais a República do Haiti contabilizou entre os anos de 2010 a 2016 o quantitativo de 80.998 mil haitianos imigrantes, destes 24.523 são mulheres(2). Dentre as unidades da federação brasileira, a que mais oferece oportunidades de emprego para os haitianos (as) é o Estado de Santa Catarina(2). Devido a multifatores, como por exemplo, pelas fragilidades ou inexistência de políticas de cooperação internacional entre os países de origem, trânsito e destino, o migrante geralmente sofre e se depara com diversos problemas sociais, estruturais, de saúde e adaptativos. Algumas dificuldades experienciadas pelos migrantes podem ser descritas, desde a emissão de documentação legal para a permanência no país, acesso aos serviços de saúde e de educação, trabalho essencialmente formal, comunicação, processo de aculturação, preconceito, ambientação, entre outros. Diante destas dificuldades e de todo processo migratório já vivenciado, estes indivíduos poderão apresentar vulnerabilidades a patologias, diariamente expostos a transtornos como estresse pós traumático, depressão, esquizofrenia, além de exposição ao álcool e drogas(3). Estes fatores de risco potencializam-se quando este indivíduo migrante encontra-se gestante. É necessário buscar parcerias nacionais e internacionais para melhorias neste atendimento, uma vez que “a migração internacional é considerada um dos maiores desafios da saúde pública a nível mundial” (3)

Objetivos

Descrever uma reflexão teórica sobre a comunicação, aculturação e acolhimento da mulher gestante haitiana e sua família nos serviços de saúde brasileiros.

Desenvolvimento

A feminização das migrações está associada às dificuldades que afetam as mulheres contemporâneas, como a inserção no mercado de trabalho, o acesso à educação, à saúde e às redes de informação, a falta de autonomia e a vulnerabilidade à violência e a pobreza(4). É fato que a barreira linguística existente dificulta por si só a efetividade da relação interpessoal, comunicação, formação de vínculos afetivos entre profissional e a gestante haitiana, em um atendimento na fase gravídica-puerperal de qualidade. Aprofundar os conhecimentos teóricos e práticos sobre as necessidades não satisfeitas no âmbito da saúde materno-infantil e reprodutiva entre as populações migrantes tornou-se indispensável(5).Todo esse processo deve ser acompanhado pelos profissionais dos serviços de saúde e permeados de orientações, resolutibilidade, promoção e educação em saúde a partir das necessidades da mulher/recém-nascido/família. Todas as ações de promoção e educação em saúde não devem ser interrompidas ou fragmentadas quando a mulher possui uma comunicação fragilizada por diferenças na língua oficial do país e/ou cultura distinta e desconhecida. A relevância da assistência técnica, científica, a partir de uma abordagem integral aos determinantes de saúde e doença da gestante migrante permitem que ela seja protagonista principal do seu cuidado e de seu bebê. Sob a ótica feminina, a migração é, principalmente, um projeto familiar, que envolve tanto os membros da família que ficam quanto os que partem(4). Os profissionais de saúde precisam ampliar a assistência para além dos protocolos, prescrições, visando experimentar o novo, buscar conhecimento e estratégias para favorecer o processo de comunicação e consequentemente estabelecer vínculos, reconhecer e respeitar a cultura tão distinta desta mulher migrante. A adequada comunicação entre a mulher migrante haitiana neste momento do ciclo vital e o profissional de saúde pode possibilitar a garantia do entendimento sobre vários direitos à saúde, a assistência integral, ao plano de parto e ao momento do parto propriamente dito. É importante que a chegada desse bebê seja contextualizado juntamente com as necessidades e a realidade dessa família, compreendendo seus medos, seus ritos e seu modo de organização. O cuidado para com as pacientes migrantes das autóctones é de uma diferença notável. Preservar a dignidade humana frente um momento frágil e ápice da feminilidade da paciente e de sua família, é contribuir na execução de sua cidadania. Realizar o trabalho com equidade significa atender as necessidades e particularidades em um estado de vulnerabilidade que se encontram as mulheres migrantes no nosso país. Como campo de atuação, encontram-se as consultas de pré natal de baixo risco, contendo um leque de intervenções e orientações que podem ser realizadas, principalmente quando a gravidez favorece a “entrada” das haitianas no Sistema Único de Saúde(6). Assim, o processo de enfermagem ganha destaque como instrumento de trabalho na atenção primária, fornecendo dados e informações para toda a rede de saúde a qual essa gestante esteja inserida.

Considerações Finais

Ressalta-se a importância do enfermeiro neste processo de acolhimento, comunicação, entendimento da cultura, assistência integral e conhecimento técnico-científico para implementação das políticas públicas à população haitiana residente em nosso país. O olhar integral e do enfermeiro ao usuário do serviço, o vínculo que se forma e a atenção para com os problemas socioambientais, são evidentes quando falamos na Atenção Primária em Saúde. É de suma importância que o enfermeiro assuma posições nas criações de políticas públicas internacionais, visando salvaguardar os direitos humanos de toda a população, mas principalmente do imigrante que muito provavelmente teve seus direitos feridos em seu país de origem.

Palavras Chave

Saúde Materno-Infantil; Migração Internacional; Processo de Enfermagem.


Referências:

1. Padilha MI; Borenstein MS; Santos I (Org.). Enfermagem: História de uma profissão. 2. ed. Florianópolis: Difusão Editora, 2015


2. Cavalcanti L, Brasil E, Dutra D. A movimentação dos imigrantes no mercado de trabalho formal: admissões e demissões. In: Cavalcanti L, Oliveira, AT, Araujo D. A inserção dos imigrantes no mercado de trabalho brasileiro. Relatório Anual 2016. Brasília, DF: OBMigra, 2016, p.75-125.


3. Dias S, Gonçalves A. Migração e saúde. Revista Migrações, Lisboa, v. 1, p. 15-26, 2007.

4. Mejia MRG, Cazarotto RT. O papel das mulheres imigrantes na família transnacional que mobiliza a migração haitiana no Brasil.Repocs, Maranhão, v.14, n.27, p.171-190, 2017 http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rpcsoc/article/viewFile/6452/4117


5. Padilla B. Health and Migration: participative methodologies as tools to promote citizenship. Interface (Botucatu). 2017; 21(61):273-84. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/icse/v21n61/1414-3283-icse-21-61-0273.pdf


6. Santos FV. A inclusão dos migrantes internacionais nas políticas do sistema de saúde brasileiro: o caso dos haitianos no Amazonas. Hist. cienc. saude-Manguinhos [Internet]. 2016 Jun [citado 2018 Maio 18] ; 23( 2 ): 477-494. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702016000200477&lng=pt.

Area

Processos migratórios e saúde

Autores

Isabela Soter Corrêa, Nicole Schulka, Luana Cláudia dos Passos Aires, Lidiane Ferreira Schultz