Datos del trabajo


Título

ATENDIMENTO A INDÍGENAS COLOMBIANOS E PERUANOS EM MUNICÍPIO DA REGIÃO DO ALTO SOLIMÕES, AMAZONAS, BRASIL

Introdução

Existem características no atendimento de saúde a indígenas, que os diferem das populações não indígenas,1 sendo estas, peculiaridades aplicadas a saúde indígena em diversos países.2 Nos municípios fronteiriços da Amazônia Legal é comum o atendimento de saúde a estrangeiros, sendo que muitos desses atendimentos são direcionados a indígenas. No Município de Tabatinga, Estado do Amazonas a demanda de atendimento a indígenas proveniente do Peru e da Colômbia é uma realidade na rotina diária dos serviços de saúde. Porém o cuidado a esta população baseado no modelo biopsicossocial, por vezes pode esbarrar em questões que estão além do controle dos profissionais de saúde que os atendem, pois pelo desconhecimento das especificidades de uma população que não integram o seu território, nem sempre é possível, considerar suas crenças e valores.3 Assim, discutir como se dá o atendimento a uma população tão especifica, como indígenas estrangeiros, poderá contribuir para reflexões sobre a assistência prestada a eles. Considerando este contexto, este estudo se norteou na questão de pesquisa: como ocorre a atenção à saúde a indígenas estrangeiros no município de Tabatinga/AM?

Objetivos

Analisar a atenção à saúde prestada a populações indígenas provenientes do Colômbia e do Peru no município de Tabatinga/AM

Método

Este trabalho representa parte de estudo de caso único com unidades integradas4 que tem como caso o município de Tabatinga, no Estado do Amazonas, Brasil e que investiga a atenção à saúde de estrangeiros na tríplice fronteira Brasil, Colômbia e Peru. Neste recorte serão apresentados os resultados relativos ao atendimento de saúde a populações indígenas peruanas e colombianas. Este município é componente da tríplice fronteira Amazônica e está situado a 1.105 quilômetros de Manaus (capital do Estado do Amazonas) e conta com uma população estimada de mais de 60 mil habitantes.5 O estudo de caso utilizou três fontes de evidências, análise de documentos dos sites oficiais do Ministério da Saúde, Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas e Secretaria Municipal de Saúde de Tabatinga/AM, entrevistas com gestores das Secretarias de Estado de Saúde do Amazonas e Municipal de Saúde de Tabatinga/AM e observações não participativas em dois serviços de atenção primária, um serviço de média complexidade e um serviço de especialidade. A coleta de dados aconteceu entre os meses de abril a dezembro de 2017 e a organização e análise dos dados foi realizada com o auxilio do software MaxQDA12®. Com base nas análises, emergiram duas categorias que responderam a questão de pesquisa e o objetivo proposto. A pesquisa seguiu preceitos éticos conforme legislação brasileira,6 sendo aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina em 04 de maio de 2017 (Número do Parecer: 2.047.137).

Resultados

A análise dos dados permitiu a criação de duas categorias, sendo estas: O atendimento de saúde a indígenas estrangeiros no município de Tabatinga/AM; e Dificuldades no atendimento de saúde a indígenas estrangeiros no município de Tabatinga/AM. Na primeira categoria, pôde-se evidenciar pelas três fontes de dados que as populações indígenas colombianas e peruanas procuram atendimento nos serviços de saúde de Tabatinga/AM. 1. Análise de documentos: “...o mesmo adicionou algumas especificidades da região, dizendo que aqui é uma fronteira internacional, onde...os indígenas, normalmente peruanos vêm para receber recursos de serviços de saúde...”(Ata de Reunião do grupo Condutor do QUALISSUS); 2. Entrevista: “A população indígena desses países tem toda uma atenção diferenciada do lado do Brasil...” (Gestor 9); 3. Observações não participativas: “Durante a observação chegou para atendimento uma senhora e uma jovem...elas eram provenientes de Santa Rosa/Peru...ela disse que mora muito além de Santa Rosa em uma comunidade indígena...” (observação na UBSF Dídimo Pires). Verificou-se que esta população representa uma parcela importante dos estrangeiros atendidos no município. Na segunda categoria, pôde-se verificar que as dificuldades que mais se destacaram foram: dificuldade de comunicação, pois os indígenas estrangeiros, além de extremamente reservados e tímidos, não falam nem compreendem bem o português, o que dificulta o processo de comunicação e a interação profissional de saúde/paciente; e o não conhecimento, pelos profissionais de saúde, das reais necessidades de saúde dessa população. “...existe a questão do idioma que é uma das dificuldades que eu percebo até para a qualidade da informação que está sendo repassada...”(Gestor 2); “...dentro do âmbito das necessidades sentidas por cada um...por questões culturais...os indígenas podem achar que não estão sendo bem atendidos...”(Gestor 7).

Considerações Finais

Apesar das dificuldades, os serviços de saúde de Tabatinga/AM empreendem esforços para prestar atendimento aos indígenas estrangeiros, porém verifica-se que pode haver falhas no processo assistencial, em decorrência da baixa qualidade da comunicação entre pacientes e profissionais de saúde e pelo desconhecimento das reais necessidades de saúde desta população, que pode levar a um cuidado hegemônico baseado nas queixas sugeridas no momento da consulta. Assim é necessário o desenvolvimento de estratégias que possam instrumentalizar os profissionais de saúde aquela região para o atendimento a esta parcela da população.

Referências:
1. Ribeiro AA, Arantes CIS, Gualda DMR, Ross LA. Aspectos culturais e históricos na produção do cuidado em um serviço de atenção à saúde indígena. Ciência & Saúde Coletiva. 2017; 22(6):2003-2012.
2. Clifford A, Mccalman J, Bainbridge R, Tsey K. Interventions to improve cultural competency in health care for Indigenous peoples of Australia, New Zealand, Canada and the USA: a systematic review. International Journal for Quality in Health Care. 2015; 27(2): 89–98. 3. Ribeiro AA, Fortuna CM, Arantes CIS. O trabalho de enfermagem em uma instituição de apoio ao indígena. Texto Contexto Enferm.2015; 24(1): 138-145.
4. Yin R. Estudo de caso: planejamento e método. 5ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2015, 290p.
5. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE Cidades [Acesso em 24 de maio de 2018]. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas-novoportal/por-cidade-estado-estatisticas.html?t=destaques&c=1304062.
6. Brasil. Ministério da Saúde/Conselho Nacional de Saúde. Diretrizes e Normas Regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Resolução 466/2012. Brasília, dez. 2012.

Palavras Chave

Saúde de Populações Indígenas; Áreas de Fronteira; Políticas Públicas de Saúde

Area

Saúde Internacional

Autores

Giane Zupellari Santos-Melo, Selma Regina Andrade