Datos del trabajo


Título

O BRINQUEDO TERAPEUTICO COMO ESTRATEGIA DE COLETA DE DADOS PARA PESQUISA QUALITATIVA COM CRIANÇAS

Introdução

Pesquisar o universo da criança tem sido objeto de estudos de áreas do conhecimento, como Ciências da Saúde, Ciências Sociais Aplicadas e Ciências Humanas. Os métodos utilizados para desenvolver pesquisas com crianças são similares aos utilizados com adultos, podendo ser quantitativos ou qualitativos. No entanto, para a coleta dos dados emergem algumas diferenças em função das particularidades que a criança apresenta, atreladas ao seu desenvolvimento. A pesquisa qualitativa está voltada para a compreensão dos significados que as pessoas dão as coisas e a vida em seu ambiente natural, buscando sentido às suas vivências, sendo que os participantes são propositalmente selecionados por sua experiência de acordo com os fenômenos de interesse. Sendo assim, nesse modo de investigação, enfatiza-se a compreensão da experiência humana como é vivida, por meio da observação e dos discursos dos participantes. Nesse contexto, torna-se possível investigar fenômenos pela ótica das crianças, valorizando o significado que elas atribuem às suas experiências. Entretanto, destaca-se que, devido às características do desenvolvimento infantil, os recursos de comunicação verbal nem sempre são suficientes para que ela se expresse com clareza. Assim, o brincar, considerado a linguagem da criança, pode colaborar na expressão das experiências infantis sobre determinado fenômeno. Brincando, a criança não apenas expressa sua visão de mundo, mas adquire conhecimentos sobre o mundo, aprendendo a distinguir a realidade da fantasia, elaborando conflitos e exteriorizando tensões. Desse modo, para realizar uma pesquisa com criança é necessário que o pesquisador utilize recursos criativos e familiares ao universo infantil, de acordo com a faixa etária da criança. Dentre as estratégicas lúdicas - desenho, desenho-história, fantoches, fotografias – que podem ser facilitadoras da coleta de dados com crianças, há o brinquedo terapêutico. O brinquedo terapêutico é uma brincadeira estruturada, indicada para crianças com idade entre três e 12 anos, que possibilita aliviar os anseios gerados por situações atípicas para a idade, devendo ser utilizado quando há a percepção de que a criança está com dificuldades para compreender e lidar com as suas experiências. Pode ser utilizado para qualquer criança, hospitalizada ou não e, em qualquer local que seja conveniente, podendo, cada sessão, variar de 15 a 45 minutos. Pode ser classificado em três tipos: instrucional, que visa preparar a criança para procedimentos a que será submetida; capacitador de funções fisiológicas, cuja meta é potencializar o uso das funções fisiológicas da criança, de acordo com a sua condição e o dramático ou catártico, que visa à descarga emocional da criança, permitindo exteriorizar sentimentos e reviver situações desagradáveis, na tentativa de dominá-las. Não há dúvidas da eficácia do brinquedo terapêutico na assistência de enfermagem à criança e à sua família, uma vez que sua utilização possibilita uma melhor compreensão da situação que a criança está vivenciando e, consequentemente, permite que o enfermeiro desenvolva ações relacionadas às reais necessidades da criança.

Objetivos

Descrever o uso do brinquedo terapêutico como estratégia de coleta de dados para pesquisa qualitativa com crianças.

Desenvolvimento

A literatura, especialmente da área de enfermagem, apresenta estudos que utilizaram o brinquedo terapêutico como estratégia de coleta de dados com crianças nas modalidades dramática e instrucional. Na modalidade dramática, o fizeram com materiais de acordo com o recomendado, ou seja, brinquedos que propiciam à criança dramatizar as situações vivenciadas. Bonecos de pano representando a família e profissionais da saúde, fantoches, animais, utensílios domésticos, carrinhos, material hospitalar real e fictício (agulha, seringa, garrote, termômetro, entre outros) e de pintura (lápis de cor, giz de cera e papel sulfite em branco) são descritos nos estudos. O número de sessões variou de uma até seis por criança, com duração de 10 a 50 minutos, a depender do objetivo, finalidade e modalidade de pesquisa qualitativa adotada, além da vontade da criança de continuar brincando. O local onde as sessões foram realizadas são os mais diversos, como casa de apoio para tratamento oncológico, centro de referência em diabetes, acampamento para jovens com diabetes e o próprio leito hospitalar, o que corrobora com a literatura quando esta afirma que o ambiente apenas deverá ser seguro e aconchegante para que a criança possa se expressar livremente. Já na modalidade instrucional, os estudos destacam o preparo da criança para punção venosa, realização de curativos, administração de medicações intravenosas, cirurgias, vacinas, inalações e autocateterização do dispositivo mitrofanoff. Para o desenvolvimento das sessões, utilizaram-se materiais que possibilitaram a dramatização do procedimento o qual a criança seria submetida. A técnica utilizada incluiu história similar a da criança, cujo enredo contempla o boneco e a necessidade do mesmo ser submetido ao procedimento que a criança vivenciará, de forma simples, com linguagem adequada à faixa etária. As crianças foram convidadas a participar da demonstração do procedimento após explanação do pesquisador, porém sem insistência. As sessões de brinquedo intrucional tiveram duração média de 20 minutos. Vale ressaltar que as sessões de brinquedo terapêutico foram gravadas em audio digital e, em alguns estudos, filmadas, de acordo com o referencial metodológico adotado pelo autor. Além disso, a utilização do diário de campo foi essencial em todos os estudos, independente do referencial teórico- metodológico adotado. Em atenção ao cuidado ético, os estudos apontam a necessidade da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos responsáveis, assim como, a preocupação em respeitar a liberdade de participação da criança, com a utilização do termo de assentimento, por vezes, lúdico.

Considerações Finais

os resultados advindos de estudos da área de enfermagem, utilizando o brinquedo terapêutico como estratégia de coleta de dados em pesquisa qualitativa com criança, tem demonstrado benefícios diretos para as crianças participantes, pois possibilitam que estas se expressem, compreendam sua realidade e falem sobre si mesmas, o que revela a característica intervencionista da pesquisa. A sua aplicabilidade vai além da compreensão de fenômenos e a obtenção de bons dados para pesquisa, pois ao utilizar o brinquedo terapêutico como estratégia adequada de aproximação e abordagem para a criança, de acordo com a sua faixa etária e características de desenvolvimento, o pesquisador estará assegurando o rigor ético e metodológico da pesquisa, bem como a proteção e os direitos da criança.

Palavras Chave

Criança. Coleta de dados. Jogos e brinquedos. Pesquisa qualitativa.

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Area

Saúde da Criança

Autores

Marcela Astolphi Souza, Edmara Bazoni Soares Maia, Circéa Amália Ribeiro, Luciana Lione Melo