Datos del trabajo


Título

ATENÇAO A MULHER NO POS-PARTO: REFLEXOES SOBRE MEDICALIZAÇAO

Introdução

Os dias e semanas após o parto é uma fase crítica na vida das mulheres e crianças, em que a maioria das mortes maternas e infantis ocorre durante este período, e acontecem intensas mudanças física, mental e social na vida da mulher e família. A fim de prevenir agravos e/ou restabelecer a condição de saúde das mulheres, o período do puerpério sofre intervenções médicas, causando um processo de medicalização, entendido como a transformação de problemas não médicos em problemas médicos1. No presente estudo é abordada a questão da medicalização de processos comuns da vida, como é o caso do puerpério, considerado uma fase natural do ciclo reprodutivo, em que o profissional de saúde apropria-se e intervém na mesma.

Objetivos

Refletir sobre o processo de medicalização do puerpério

Desenvolvimento

Diretrizes clínicas internacionais2,3 estabelecem os principais cuidados a serem prestados às mulheres no puerpério, e são baseadas em alto grau de evidência científica, indicando a importância de tais intervenções para reduzir a morbimortalidade materna. A provisão de cuidado e suporte puerperal oportuno e eficaz pode ter um impacto significativo na saúde e no bem-estar em longo prazo para as mulheres e suas famílias. O cuidado pós-parto deve ser prestado na configuração mais adequada, com o mais alto padrão de qualidade e atender às necessidades do indivíduo. A grande questão a ser discutida sobre o tema é sobre medicalizar “além do necessário”, tornando todo o puerpério alvo de intervenções médicas, e fazendo das mulheres reféns da assistência em saúde. Sobre esse aspecto Illich4 trata da iatrogênese social, que se refere ao efeito social indesejado e prejudicial da medicina, e corresponde ao aumento da dependência da população para com intervenções médicas. O autor4 ainda trata de outra forma de iatrogênese social, o controle social pelo diagnóstico, que resulta em etiquetas iatrogênicas em diferentes fases da vida humana, em que as pessoas consideram “normal” ou “natural” os cuidados de rotina, como é o caso do tema tratado no presente estudo, o puerpério. Ressalta-se que não se pode radicalizar e seguir fidedignamente os pressupostos de Illich, mas sim como afirma Camargo Jr5, deve-se refletir e prestar apenas o cuidado necessário, para manter a autonomia as pessoas e não torná-las reféns da medicina em todos os processos da vida. Diretrizes internacionais2,3 que orientam a atenção ao puerpério ressaltam a necessidade de manter a autonomia da mulher, e prestar a assistência conforme suas necessidades. Além disso, afirmam que a diretriz é um processo orientador do cuidado, mas não único, que deve ser avaliada quanto a necessidade de seu uso conforme cada situação. Assim, pode-se inferir que apesar da necessidade de medicalizar determinados aspectos do puerpério, é preciso fazer esse processo com cautela, mantendo um “equilíbrio” entre a autonomia e heteronomia. Nessa linha de pensamento é importante trazer a prevenção quaternária, que deve ser considerada em todo o processo de cuidado no puerpério, e se refere a ação de identificar pessoas em risco de medicalização excessiva e protegê-las de novas intervenções desnecessárias, o que evita danos iatrogênicos6. Para praticar a prevenção quaternária o profissional de saúde precisa fazer um rigoroso controle de si próprio, para manter-se consciente do que é realmente necessário intervir, e, além disso, manter uma verdadeira relação terapêutica com a mulher, respeitando sua autonomia6. Sobre os aspectos medicalizados no puerpério, destaca-se que é um período com diversos valores, crenças, culturas e práticas populares, que precisam ser considerados no cuidado. Entretanto, facilmente é encontrado na literatura artigos científicos que tratam sobre a influência “negativa” de tais fatores para o cuidado em saúde, considerando o saber médico soberano, ilegitimando o saber popular e tornando a mulher e família incapazes de lidar com esse processo natural da vida. Sobre essa questão, Illich4 trata da iatrogênese cultural, em que o potencial cultural de uma pessoa/população de lidar de forma autônoma com situações da vida (como doença, dor e morte) é destruído. A medicalização da cultura faz com que o homem torne-se desamparado e incompetente, deixando a cargo do médico, o qual não é familiarizado com as questões da tradição e vida pessoal do paciente, e desagregador das relações entrelaçadoras do homem com sua doença, seu meio, a natureza, seus próximos e com ele mesmo.

Considerações Finais

Pode-se identificar a necessidade de medicalizar o puerpério a fim de reduzir a morbimortalidade materna, já que se constitui em um problema de saúde pública, e a atenção ao puerpério tem se mostrado estratégia importante para superar tal problema. Para medicalizar o puerpério é necessário haver um equilíbrio entre autonomia e heteronomia, e a prevenção quaternária é uma ferramenta importante para a prestação do cuidado por meio de uma medicalização “não excessiva”, mas necessária.

Referências

1. CONRAD P. The medicalization of society: on the transformation of human conditions into treatable disorders. Baltimore: The Johns Hopkins University Press; 2007.
2. NICE. National Institute for Health and Care Excellence. Postnatal care. NICE
clinical guideline 37. 2014.
3. WHO. World Health Organization. WHO recommendations on Postnatal care of the mother and newborn. Geneva: WHO Library Cataloguing-in- Publication Data, 2013.
4. ILLICH, I. A expropriação da saúde: nêmesis da Medicina. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.
5. CAMARGO JR, K.R. Medicalização, farmacologização e imperialismo sanitário. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 29(5):844-846, mai, 2013.
6. JAMOULLE, M. Prevenção quaternária: primeiro não causar dano. Rev Bras Med Fam Comum. 2015;10(35):1-3. https://doi.org/10.5712/rbmfc10(35)1064

Palavras Chave

Descritores: período pós-parto; saúde da mulher; medicalização.

Area

Saúde Coletiva

Autores

Tatiane Baratieri, Sonia Natal