Datos del trabajo


Título

ANULAÇAO DO HOMEM DURANTE O PERIODO POS-PARTO: A SOCIEDADE E AS DESIGUALDADES DE GENERO

Introdução

O pós-parto é um período único na vida da mulher, com alterações biopsicossociais. É vasta a literatura que aborda os determinados cuidados à mulher durante esse período, como amamentação e planejamento reprodutivo, claramente importantes, mas em geral limitados à visão da mulher enquanto reprodutora. São raros os estudos que discutem a figura do homem nesse contexto, enquanto participante e fundamental nesse processo. Ressalta-se que os meios de comunicação são um importante disseminador de informações e de formação, consolidação de opiniões, contribuindo também para manter e/ou mudar a visão da sociedade quanto a temas como desigualdade de gênero.

Objetivos

Refletir sobre a figura do homem no período do puerpério, explicitando as desigualdades de gênero, trazendo o contexto dos meios de comunicação na disseminação de informações.

Método

Estudo de abordagem qualitativa, do tipo netnografia usada como uma ferramenta exploratória para estudar tópicos em geral1. Procedeu-se a busca de reportagens recentes que abordem a mulher no período pós-parto em mídias de alcance nacional, como Folha de São Paulo, portal do G1, Estadão e Revista Época, sendo selecionadas pelos pesquisadores algumas reportagens representativas para discussão, consideradas por esses de maior impacto e que proporcionassem uma discussão pertinente ao objetivo do estudo.

Resultados

Foi selecionada a reportagem exibida no dia 07 de outubro de 2016, pela televisão local do Estado da Paraíba no Jornal Bom Dia Paraíba, intitulada: Bom dia Paraíba dá dicas de como as mamães devem cuidar do pós-parto e dos bebês. A julgar pelo título, este já reduz a mulher ao papel de mãe e única responsável pelos cuidados pela criança. No decorrer da matéria, essa ideia se perpetua, fortalecendo que a manutenção da saúde dos bebês é de responsabilidade das mães. Sequer a figura paterna aparece, quanto mais o homem. Ao final, no fechamento da matéria a repórter faz um comentário intrigante: “E o pai? Super a vontade com o bebê no colo, você viu? Não é todo homem assim, que tem esse jeito não!” E a médica entrevistada complementa “Traquejo bom né?”. Dá-se seguimento à reportagem entrevistando uma médica ginecologista, em que o foco continua na mãe: cuidado com ela, com sua higiene, com a amamentação, estar tranquila para poder amamentar. Na reportagem o homem aparece somente em uma pergunta de um internauta: Quando a mulher está liberada para ter relação sexual? A resposta da profissional é basicamente biologicista, com foco incipiente na mulher e no casal na decisão desse processo. Reportagens como a apresentada acima são comuns de serem encontradas, e nos faz compreender o quanto a mídia tem grande poder na disseminação da visão que a sociedade tem da mulher enquanto reprodutora, e do homem “alheio” ao processo. No decorrer das buscas foram encontradas inúmeras matérias sobre depressão pós-parto, tratando desde os cuidados que as mães devem ter nesse período até relatos de experiências. Destacou-se sobre o tema a reportagem sobre a cantora e compositora Adele Laurie Blue Adkins, encontrada na página do G1, datada de 31 de outubro de 2016, intitulada: Adele fala sobre depressão pós-parto: “você não quer estar com sua criança”. No texto Adele afirma “eu era obcecada com o meu filho. Eu me sentia muito incapaz. Eu senti como se tivesse feito a pior decisão da minha vida”. Aspectos de culpabilização de que a mulher tem consigo mesma enquanto única responsável pelos cuidados com a criança é decorrente de um contexto histórico que tem arraigada essa questão. Outras duas reportagens encontradas, que chamaram muito a atenção, trazem a presença do homem, enquanto pai, no processo de parto e fomentam a caracterização da mulher enquanto mãe. A primeira reportagem é da Folha de São Paulo, datada de 20 de fevereiro de 2016: “Procon-RJ abre investigação contra hospital que impediu pai de ver parto da filha”, e a segunda na página do G1, de 09 de maio de 2016: “Após entrar com ação, pai consegue assistir parto do 1° filho em Rondônia”. Ambas as reportagens tratam sobre o não cumprimento da Lei nº 11.108, de 07 de abril de 2005, que garante às parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. Durante os textos é reforçada a garantia do direito que a mãe, não a mulher, tem de ter um acompanhante, no caso em questão o pai¸ não seu companheiro. Além disso, a figura masculina aparece não enquanto homem, mas sim enquanto pai¸ e sua presença se dá principalmente para acompanhar o nascimento do filho, não de sua companheira. Outro fato interessante é que a palavra mulher aparece apenas na primeira reportagem citada (do Rio de Janeiro), conotando sempre a mulher como uma propriedade do marido: “[...] acompanhar o parto da mulher [...], [...]pode ficar perto da mulher”. No Brasil, o crescimento acelerado do processo de modernização industrial não caminhou no mesmo ritmo no campo das subjetividades, especialmente na masculina. O homem é ensinado, desde o início de sua vida, a comportar-se sem sinais de sensibilidade, afetividade, até mesmo com os filhos. Instituições como igreja, família, sempre disseminam a mesma verdade de que homem não chora. Assim, “são verdades sociais, impossíveis de relativização, que estruturam as disposições duráveis dos homens e mulheres”, e desse modo, a mudança na compreensão e na ação para a igualdade de gênero é lenta e árdua, já que a racionalidade de que determinado comportamento é “errado” não é sinônimo de que imediatamente haverá mudança desse comportamento, que esse passará a inexistir2.

Considerações Finais

É lamentável a visão massiva da sociedade brasileira sobre o papel da mulher enquanto um útero que reproduz, anulando o homem enquanto participante ativo do processo. Cabe aqui, chamar atenção sobre a necessidade de abertura de novos espaços de discussão sobre o papel da mulher e do homem no processo de reprodução.

Palavras Chave

DESCRITORES: período pós-parto; gênero e saúde; saúde da mulher.

REFERÊNCIAS
1. Kozinets RVT. Click to connect: netnography and tribal advertising. Journal of
Advertising Research. p. 279-288, sep. 2006.
2. Bento B. Homem não tece a dor: queixas e perplexidades masculinas. 2. ed. Natal,. RN: EDUFRN, 2015.

Area

Gênero, Sexualidade e Saúde

Autores

Tatiane Baratieri, Sonia Natal, Rodrigo Otávio Moretti-Pires