Datos del trabajo


Título

SAUDE INDIGENA: O PERCURSO ASSISTENCIAL DAS GESTANTES INDIGENAS KAINGANG NO OESTE DE SANTA CATARINA

Introdução

A Atenção à Saúde Indígena é desenvolvida em âmbito da atenção Primária e caracteriza-se por um conjunto de ações relacionadas à assistência à saúde prestada aos povos indígenas que, preferencialmente, residam nas terras indígenas. Sua organização está vinculada ao Ministério da Saúde e à Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), a qual é responsável pelo gerenciamento e execução das ações em saúde para os povos indígenas. A política indigenista de assistência à saúde garante o direito ao atendimento diferenciado, respeitando os aspectos cosmológicos e culturais. A assistência às mulheres indígenas, durante a gestação é direcionada pela Estratégia Rede Cegonha (ERC), neste sentido indago a real articulação desta estratégias com a singularidade indígena, de respeitar as dimensão cosmológica das gestantes e do sistema tradicional de atenção à saúde.

Objetivos

descrever e analisar o percurso assistencial percorrido pelas gestantes indígenas kaingang em um município do Oeste de Santa Catarina.

Método

estudo de abordagem qualitativa, de caráter exploratório e com enfoque etnográfico. Para coleta produção de dados, utilizou-se a técnica da observação participante, sendo que a vivência em campo ocorreu através de inserções em uma Terra Indígena no Oeste de Santa Catarina, no período de março/ abril de 2018. Esse estudo é um recorte exploratórioprévio de uma pesquisa do Programa de Doutorado em Saúde Coletiva da UNISINOS, em andamento.

Resultados

A assistência na comunidade indígena é realizada na Unidade Básica de Saúde (UBS), localizada dentro da Terra Indígena. Os profissionais que atuam na comunidade, pertencentes a equipe multidisciplinar de saúde indígena (EMSI), acolhem, acompanham e assistem às gestantes de baixo risco gestacional na aldeia. A EMSI é composta pelos seguintes profissionais: uma enfermeira (40hs), um médico (20hs), um odontólogo, (20hs) duas técnicas de enfermagem indígenas (40hs), quatro Agentes Indígenas de Saúde (AIS) (40hs) e um Agente de Saneamento Indígena (AISAN). Essa equipe desenvolve as ações na promoção, prevenção e recuperação da saúde na comunidade. Na aldeia, havia dezessete gestantes no momento da observação. Em relação à assistência, percebeu-se que o acesso das indígenas ao pré-natal inicia-se através dos Agentes Indígenas de Saúde, pois uma das funções dos AIS é realizar diariamente as visitas domiciliares na aldeia e, nessa rotina de visitas domiciliares, dialogam com as indígenas, desvelando informações sobre o processo saúde-doença e a saúde da mulher. Esse momento é fundamental, uma vez que visa captar e identificar precocemente as possíveis gestantes para encaminha-las para assistência da equipe. Conforme observado, o primeiro acesso das gestantes se inicia pelos AIS, que buscam captá-las precocemente e as quais orientá-las a procurar a UBS. Outro canal de acesso visualizado na assistência é a enfermeira da equipe. Segundo relatos dessa enfermeira, as mulheres da comunidade a procuram para buscar formas de esclarecer ou confirmar sobre a suspeita da gravidez. Ela ressalta ainda que as gestantes que apresentam baixo risco gestacional são acompanhadas mensalmente pela EMSI na comunidade e, em média, realizam em torno de 6 a 8 consultas pré-natais, intercaladas entre o profissional médico e enfermeiro. Por outro lado, aquelas que apresentam alto risco gestacional são encaminhadas para a clínica de referência do município de Chapecó, que é a Clínica da Mulher, para a condução do pré-natal, mas também recebem o acompanhamento da EMSI durante a gestação período-gravídico. Os exames laboratoriais e de ultrassonografias são de responsabilidade da Secretaria de Saúde de Chapecó e os exames complementares na gestação – laboratoriais – são realizados em um Centro de Saúde da Família, local fora da aldeia, onde são realizadas as coletas de materiais, e os exames de imagem, como ultrassonografias, são encaminhados para as clínicas de referência do município. As gestantes ainda são assistidas pelo odontólogo, que realiza orientação e atendimento individualizado voltado para a recuperação bucal. Além disso, as gestantes são acompanhadas mensalmente pelo programa de Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), uma forma de acompanhar e controlar as condições nutricionais para promover informação contínua sobre as condições da população. Esse cenário nos faz refletir sobre o impacto da hegemonia das práticas biomédicas, inseridas pelas EMSI nas comunidades indígenas, sendo que nesse processo não parece ser integrado o princípio de atenção diferenciada e um diálogo intercultural sobre concepções de corpo, gravidez e maternidade entre as kaingang. As gestantes ainda são assistidas pelo odontólogo, que realiza orientação e atendimento individualizado voltado para a recuperação bucal. Além disso, as gestantes são acompanhadas mensalmente pelo programa de Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), uma forma de acompanhar e controlar as condições nutricionais para promover informação contínua sobre as condições da população.

Considerações Finais

Conhecer, visualizar e compreender os itinerários de cuidados percorridos pelos usuários, no caso as gestantes, é fundamental para qualificar a assistência à saúde, entendendo e visualizando diferentes formas de atenção existentes na prática de cuidado. A descrição do fluxo de atendimento às gestantes indígenas de baixo risco demonstra um olhar profissional sobre o caminho percorrido por essa gestante. No caso da assistência pré-natal observado esse itinerário de cuidado, fica explicitada a concepção definida apenas pelas práticas profissionais, reforçando o conhecimento unilateral da biomedicina, o que reforça a hegemonia das práticas médicas presentes na assistência à saúde indígena. Poucas iniciativas indicam estratégias e ações que foram desenvolvidas de modo a possibilitar à prática de um modelo diferenciado de atenção, articulado com as práticas de intermedicalidade. Portanto, a ampliação do nosso olhar para outros tipos de sistemas de atenção cuidados em saúde dessas gestantes no seus cotidianos para além dos serviços de saúde é imprescindível para poder entender como, no caso analisado, poderia ser efetivada através de uma assistência à saúde diferenciada para as mulheres kaingang, pois para estabelecermos um cuidado integral, necessitamos dialogar, conhecer e reconhecer novas formas de cuidado, estabelecendo delineando junto aos usuários e comunidade as práticas de cuidado.

Palavras Chave

Saúde Indígena; Saúde da Mulher; Período gravídico-puerperal

Area

Saúde e etnia

Instituciones

UNISINOS - Rio Grande do Sul - Brasil

Autores

Francielli Girardi, Laura López