Datos del trabajo


Título

REFLEXOES ACERCA DE ADOLESCENTES QUE SE MUTILAM SOB A OTICA DA GESTALT TERAPIA

Introdução

Este trabalho é uma reflexão realizada a partir da observação e análise das pessoas adolescentes que frequentam um Serviço de Atenção Psicológica de uma universidade pública do sul do país e, mais especificadamente, no serviço de Acolhimento desta instituição. A automutilação é definida atualmente como qualquer comportamento intencional envolvendo agressão direta a si próprio. As formas mais frequentes de automutilação são cortar a própria pele, queimar-se, bater em si mesmo, morder-se e arranhar-se. A automutilação é considerada uma categoria diagnóstica a parte das demais, não sendo encarada apenas como manifestação ou sintoma de comportamentos suicidas1. Entretanto, este comportamento apresenta um risco significativo para a integridade física e psicológica daquele que o pratica, podendo evoluir para ideações suicidas ou à uma elevação tal da frequência e força empregados na automutilação, que a pessoa é levada à morte, intencionalmente ou não.

Objetivos

Refletir sobre a automutilação realizada por adolescentes a luz da gestal terapia.

Desenvolvimento

A reflexão se deu a partir da observação do cotidiano de um Serviço de Atenção Psicológica de uma universidade pública do sul do país no atendimento a adolescentes vìtimas de automutilação como parte de sua vida e a analise destas situaçoes a partir das literaturas sobre o tema e a corrente teorica da gestal terapia. A automutilação é precedida por uma elevação de afetos, estes podendo ser: tensão, raiva, ansiedade, tristeza, disforia e sensação de perda de controle, entre outros inúmeros. São frequentes as sensações de rejeição ou abandono (real ou fantasioso), culpa e “vazio”2. Estas sensações e emoções podem se sobrepor tanto como estimulantes para a automutilação ou como resultados desta, gerando uma ambivalência entre o bem-estar e alívio momentâneos e os sentimentos negativos. Ao se automutilar, a pessoa ou, no caso, o adolescente apresenta sua dor para o mundo externo. É possível inferir que o comportamento de automutilação é uma tentativa de sair de um lugar de invisibilidade para a visibilidade, através do corpo. “O sujeito que não era visto, impõe-se a nós”3:215. À luz da Gestalt terapia e encarando a automutilação como uma forma de ser-no-mundo e lidar com este, esta reflexao propõe o desenvolvimento de estratégias de escuta terapêutica de Acolhimento para tratar da automutilação como fenômeno-em-si na vivência dos adolescentes. A Gestalt entende ser a concretude da existência do ser-no-mundo que se manifesta em cada adolescente. Esta concretude inclui, mas não se limita, nem se organiza a partir do aspecto fisiológico das mudanças corporais. É um fenômeno global que integra em um todo singular as diversas forças do ser-no-campo e não como mera etapa em direção à maturidade. Nesta abordagem, o encontro entre o homem e o ambiente é chamado de “fronteira”. É nessa fronteira que o sujeito se diferencia do meio, mas que também mantém contato com ele. A fronteira de contato do adolescente – limite que contém e protege o organismo ao mesmo tempo em que contata o ambiente – está se constituindo, amadurecendo e sendo lapidada diante dos novos desafios4 . A fronteira não é algo rígido ou fixo, mas um “[...] órgão de uma relação específica entre organismo e o ambiente”5:44 . É nessa fronteira que o sujeito se diferencia do meio, mas que também mantém contato com ele, onde os processos de mediação entre o organismo e o ambiente se estabelecem e se ajustam entre si. A partir de Fritz Perls6, a “fronteira” pode ser interpretada como um órgão que faz tanto o contato com o outro como o que delimita e afasta. É um processo de aceitação e rejeição. A partir do consenso de que a formas mais comuns da automutilação são direcionadas à pele, podemos originar do pressuposto de que o corpo, em especial a epiderme, é o recurso mais imediato de contato com o mundo, afetando diretamente a alteração e interação com este. Portanto, ao manipular e redesenhar as fronteiras da pele em si, o indivíduo consequentemente também manipula a forma com ele próprio se relaciona com o mundo e como o mundo se relaciona com ele. A pele tanto serve para separar o sujeito do meio como para o conectar. Originalmente, estabeleceu-se quatro ajustamentos neuróticos utilizados para restaurar e administrar nossos equilíbrios internos, frente aos estímulos externos a nós, chamados de: Confluência, Introjeção, Projeção e Retroflexão. O comportamento da automutilação pertenceria à “Retroflexão”, significando, literalmente, voltar-se contra si a energia mobilizada. Quando impossibilitado de lidar com o meio ambiente, o sujeito investe sua energia em autoaniquilamento.

Considerações Finais

Mesmo que “presos” aos limites do Acolhimento, é pertinente que pensemos no que está ao nosso alcance para ser feito a respeito do cuidado do sujeito em sofrimento psíquico. Isto pode incluir um contato direto com outros componentes da Rede e o encaminhamento imediato ou até a continuidade dos acolhimentos até que o paciente encontre uma outra instituição ou profissional que possa acolher seu caso. Não se pode ficar alheio ao comportamento da automutilação, mesmo que haja receio em lidar com uma demanda tão multifacetada quanto esta. O desespero existencial que pode envolver e permear este comportamento deve ser acolhido e trabalhado pelo terapeuta, com respeito, calma e ética. Pontuei aqui algumas maneiras que serviram como norte em minhas sessões, principalmente como a Gestalt Terapia pode auxiliar na abordagem e significados individuais desse comportamento, mas também em minhas vivências particulares e entendimentos como Psicóloga.
Referências
1American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-V). Arlington, VA: American Psychiatric Association, 2013.
2Giusti, JS. Automutilação: características clínicas e comparação com pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo, [Tese] São Paulo. Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Programa de Psiquiatria; 2013.
3Athayde, Celso et al. Invisibilidade e reconhecimento. In: Cabeça de porco. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.
4Baroncelli, Lauane. Adolescência: Fenômeno Singular e de Campo. Revista da Abordagem Gestáltica, 2012 May, [cited 2018 maio 25] XVIII (2): 188-196 .
5Perls, F., Hefferline, R, & Goodman, P. Gestalt-terapia (F. R. Ribeiro, Trad.). São Paulo: Summus, 1997.
6Perls, FA Abordagem Gestáltica e Testemunha Ocular da Terapia. Rio de Janeiro: LTC,1998

Palavras Chave

Adolescente, automutilaçao, psicologia, terapeutica, gestalt terapia

Area

Saúde Mental

Autores

MARIA EDUARDA P. GIAMATTEY