Datos del trabajo


Título

ADAPTAÇOES DO UNIFORME A ENTRADA DO HOMEM NA ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY (1971)

Introdução

Sabe-se que o vestuário é uma forma de manifestação de identidades, sendo o uniforme representante da identidade coletiva. A indumentária ultrapassa a ideia de ser apenas o vestuário. Sua linguagem é determinada pelo conjunto constituído por roupas, calçados, bolsas e acessórios, cada qual com suas significações particulares que, somados, definem o aspecto exterior do indivíduo. Sendo assim, a roupa, independentemente da época, tem a função de distinguir a classe social à qual o indivíduo pertence e significar o papel que ele representa na sociedade, bem como a função que desempenha em determinado grupo social. Em 1971, os primeiros homens ingressam no Curso de Graduação da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, por força da Reforma Universitária. Dentre os desafios enfrentados pelas dirigentes do Curso, até então exclusivamente para mulheres, estava o uso de uniforme. Devido suas características, a adaptação do uniforme para ser uma indumentária masculina passou a ser uma questão polêmica na Escola, desencadeante de embates entre professores e estudantes.

Objetivos

Discutir as repercussões da entrada do homem na EEAN associada ao contexto da moda vigente e às estratégias para garantir a manutenção e preservação do uso do uniforme como elemento simbólico e disciplinador

Método

Pesquisa sócio-histórica de abordagem qualitativa. Foram utilizados como fontes diretas documentos escritos e fotográficos que registram o uniforme usado pelos estudantes de graduação da EEAN no período estudado, pertencentes ao banco de fotografias do Centro de Documentação da EEAN e ao acervo pessoal dos colaboradores. Também foram produzidos, pela técnica de História Oral Temática, documentos orais, tendo como colaboradores 20 ex-alunos da EEAN, que vivenciaram o período do estudo na condição de estudantes. A análise fotográfica considerou o conceito de vestuário imagético de Roland Barthes e a técnica de triangulação de fontes foi realizada para se chegar aos resultados.

Resultados

A entrada do homem foi inevitável apesar de todos os esforços da EEAN para manter a tradição de ser uma escola para mulheres. A implantação do vestibular unificado para ingresso nas universidades públicas retirou das Unidades Acadêmicas a premissa de fazer a seleção para seus cursos. Com a entrada do homem, o perfil do corpo social da EEAN foi drasticamente alterado. A dificuldade em lidar com o gênero masculino fez a Escola adaptar-se com mais rigorosidade para manter sua tradição. Alguns destes estudantes desistiram do curso, tanto pela rígida disciplina, quanto pelo encalço que o gênero masculino sofria na Escola. No que diz respeito aos rituais da EEAN, as cerimônias de Recepção de Toucas/Imposição de Insígnias e de formatura não sofreram grandes transformações em sua essência. Entretanto, foi preciso criar a versão masculina dos uniformes nos diferentes cenários de prática. Os ajustamentos pelos quais passou a EEAN foram se dando gradativamente e pode-se perceber que esse caminhar avançava lentamente, porém, firmemente. Cabe destacar que o desconforto não era apenas a presença do homem como estudante, mas o fato da maioria ter como primeira opção a medicina, logo, não possuíam conhecimentos acerca da profissão de enfermeiro. O primeiro uniforme a ganhar esta versão foi o uniforme hospitalar. Havia uma insatisfação quanto ao uniforme tanto pelo modelo, quanto pela falta de praticidade do seu uso. Os principais motivos estavam associados ao uso da touca e à cor da roupa dos estudantes que passaram a questionar o uso do uniforme azul uma vez que os demais estudantes da área da saúde utilizavam o branco. As formas de organização espacial e os regimes disciplinares da EEAN, que determinavam o controle dos corpos dos estudantes, perderam força no final da década de 1970, quando a ditadura entrava em decadência ao mesmo tempo em que surgiam os primeiros movimentos pró-democracia. A extinção do uniforme hospitalar azul só ocorreu em 1978, quando passou para a cor branca e, no caso do uniforme masculino, composto de camisa social com abotoamento embutido, gola militar, manga curta dobrada e bolso básico na altura do peito à esquerda, calça social, sapato e meia social brancos. Já o uniforme de Saúde Pública, era composto de blusa azul-celeste com bolso do lado esquerdo da blusa, usada para dentro da calça que era azul marinho, sapato, cinto e meia pretos passou para o modelo composto de calça jeans com blusa branca e jaleco branco, a partir do ano de 1985. O rigor com a aparência continuava sendo cobrado da mesma forma, entretanto, não era uma obrigatoriedade, visto que apesar das pressões, os estudantes podiam se recusar a cortar os cabelos ou fazer a barba. Lidar com esta nova forma de comportamento na Escola exigiu das dirigentes a definição de novas estratégias para adaptarem-se ao novo contexto político-social que se apresentava na universidade. Na lógica da implantação de metodologias inovadoras, por ocasião da implantação do Currículo Novas Metodologias, em 1978, também se abriu espaço para a incorporação de um estilo de roupa mais condizente com a realidade da moda, no sentido de facilitar o uso do uniforme. Assim, adotou-se o jeans escuro e o jaleco branco. O tecido índigo blue é associado a trajes informais, um símbolo de liberdade fortemente divulgada na mídia através de propagandas que seduziam o telespectador por seus jingles e imagens publicitárias produzidas com o intuito de criar no imaginário dos jovens um estilo pessoal

Considerações Finais

A identidade visual criada pelo uso do uniforme no cotidiano institucional da EEAN, a qual foi consagrada nos rituais acadêmicos foram atualizados ao longo dos anos em decorrência das mudanças no contexto sócio-político-cultural da universidade e da profissão de enfermagem. A EEAN se transformou conforme as necessidades do contexto nacional. Ao passo que inovou na didática do ensino superior, com a implantação do Currículo Novas Metodologias, também se adaptou à moda mostrando sua adequação aos novos tempos da sociedade moderna à época. Passou a ouvir e a negociar com os estudantes, mostrando que uma nova identidade profissional deveria ser formada para acompanhar o desenvolvimento da Enfermagem na sociedade.

Palavras Chave

História da Enfermagem Brasileira; Identidade profissional; uniforme; vestuário; gênero; enfermagem.

Area

Outros

Autores

Pacita Geovana Gama de Sousa Aperibense, Maria Angélica de Almeida Peres