Datos del trabajo


Título

USO DE UNIFORME NA CERIMONIA DE IMPOSIÇAO DE INSIGNIAS COMO DEMONSTRAÇAO DA IDENTIDADE DA ENFERMEIRA MODERNA NO BRASIL

Introdução

As cerimônias são entendidas como atos de celebração formal, solene, nas quais são conferidas importância e autenticidade a determinado evento. Nas principais Cerimônias instituídas na Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, até a década de 1990, os uniformes eram importantes elementos da ritualística e de demonstração da identidade institucional e profissional dos estudantes da Escola. As cerimônias e os rituais da EEAN foram instituídos desde a primeira turma, em 1923, e repetidos constantemente em atos solenes, que transmitiam uma imagem de homogeneidade aos aprendizes e à sociedade. Nestas ocasiões, as enfermeiras/professoras se apresentavam como profissionais respeitáveis e solidamente preparadas, consequentemente conferindo visibilidade e status à profissão, enquanto que os estudantes usavam uniformes correspondentes à fase em que se encontravam no curso, mantendo um comportamento que buscava aproximá-los do futuro profissional que viria a ser.

Objetivos

analisar a cerimônia de Imposição de Insígnia instituída na EEAN como estratégia ritualística para solenizar o uso do uniforme, contribuindo com a construção e manutenção de identidade da enfermeira “ananéri”.

Método

Estudo sócio-histórico, qualitativo, cujas fontes diretas incluíram documentos fotográficos selecionados no Centro de Documentação da EEAN e no acervo pessoal das ex-alunas da Escola; e documentos orais obtidos a partir de entrevistas realizadas de janeiro a agosto de 2015, com 17 ex-alunas, com duração média de 75 minutos cada. As fontes indiretas foram constituídas de bibliografias sobre a temática. A análise foi feita mediante crítica interna e externa ao corpus documental. O conceito de vestuário real e vestuário imagético de Roland Barthes norteou o olhar sobre as fotografias. Empregou-se as etapas de pré-análise; codificação; tratamento dos resultados, inferência e interpretação.

Resultados

Dentre as cerimônias instituídas na Escola, duas foram mais destacadas pelas colaboradoras por solenizar o uso do uniforme na EEAN: Recepção de Toucas/Imposição de Insígnias e Cerimônia de Formatura. Este estudo trata apenas da primeira devido ao grau de importância atribuída por todos os colaboradores ao descrevê-la durante as entrevistas, demonstrando ter tido maior impacto na formação da identidade destes estudantes à época. A touca sempre teve lugar de destaque na EEAN desde sua criação até o ano de 1991, quando deixou de fazer parte do uniforme dos estudantes. Era recebida após a aprovação na primeira etapa do curso, chamada Preliminar. O ato solene principal, que nomeava a cerimônia e como era mais comumente conhecida entre o corpo social da EEAN, a cerimônia de Recepção de Toucas, consistia na colocação da touca, pela diretora ou pela professora de Fundamentos de Enfermagem, na cabeça das estudantes com o uniforme hospitalar e do broche com a insígnia da Escola na gola do vestido de todas. Até os anos de 1930 também era colocada a braçadeira sobre a manga esquerda do vestido daquelas com o uniforme de saúde pública. Tal ritual tinha por objetivo entregar aos estudantes acessórios distintivos para a sua identificação nos espaços sociais que frequentavam interna e externamente à Escola. Nesta cerimônia, destaque-se a presença dos seguintes atos solenes: o entoar do Hino Nacional Brasileiro seguido do Hino da Enfermeira; o ritual do acender da vela; a proclamação do Juramento de Estudante; a imposição das insígnias. A formalidade da cerimônia é evidenciada pela postura ritualística das pessoas presentes nas fotografias, ao analisarmos o vestuário das autoridades presentes, bem como a organização do local e a presença da bandeira da EEAN. A intenção do ritual é marcar o instante privilegiado e único na visão de quem o viveu. Insígnia é, por definição, um sinal ou signo que indica posição, poder, dignidade, função, classe, nobreza, comando de quem o ostenta, uma designação emblemática adotada para individualizar e distinguir uma instituição. Ao receberem a touca, o broche com a insígnia de estudante e a braçadeira, os estudantes estavam construindo sua identidade social e profissional, e a cerimônia era uma estratégia da EEAN para essa construção, que contava com o uniforme como objeto simbólico de suma importância devido ao seu papel normatizador. Ele permitia ao grupo a sua identificação e posição no campo da saúde, como estudantes de enfermagem. A cerimônia, presidida pela diretora, contava com a presença das autoridades da Universidade, de representantes docentes e era permitida a presença de familiares dos estudantes. O evento tinha por intuito notificar, principalmente, o corpo social da Escola e de certo modo, a sociedade (através dos convidados), com autoridade, de “que alguém ou algo é o que deve ser”, no caso, empoderava o estudante da condição que assumia de, a partir de então, pertencer de fato ao corpo discente da EEAN. É neste sentido que se observa na fala dos colaboradores o orgulho e a honra compartilhados pelos membros da EEAN em virtude da conquista de seus estudantes. Estudos demonstram que os rituais dedicados à valorização do uniforme na EEAN, padrão de ensino de enfermagem no país de 1931 a 1949, influenciaram positivamente na implantação de um novo modelo de enfermagem e na formação de uma identidade profissional de enfermeiras no Brasil, no início do século XX. Especialmente, a Cerimônia de Recepção de Touca/Imposição de Insígnias fez nascer e reconhecer um novo modelo de ensino e de assistência de enfermagem na sociedade, com atribuição de significados vocacionais e identitários ao seu uso.

Considerações Finais

Uma vez repetida a cada mudança de etapa das turmas por décadas, tal prática de natureza ritualística e simbólica inculcou valores, direitos e deveres nas estudantes, que também despertavam amor pela escola e profissão. Nesse sentido, o Hino da Enfermeira entoado, a touca recebida junto com a braçadeira e a insígnia de estudante e o juramento proferido traduziam uma cultura, e nesta, um tipo de identidade. E assim se formavam profissionais com domínio de um conteúdo teórico-prático e conduta moral específica da EEAN.

Palavras Chave

História da Enfermagem Brasileira; identidade profissional; uniforme; enfermagem

Area

Outros

Autores

Pacita Geovana Gama de Sousa Aperibense, Tânia Cristina Franco Santos, Antonio José de Almeida Filho, Maria Angélica de Almeida Peres