Datos del trabajo


Título

DEIXAR O CIGARRO E SEUS DESAFIOS: O OLHAR DE MULHERES SOBRE O ABANDONO DO CIGARRO

Introdução

O tabagismo é um dos fatores que mais contribui para o desenvolvimento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) e a Atenção Primária em Saúde tem sido o local de escolha para ações de controle de tabagismo. De forma geral embora a prevalência do tabagismo seja maior em homens, parece haver maior procura por parte das mulheres para deixar o cigarro e há indícios de que fumar e deixar de fumar possuam características diferentes entre homens e mulheres, que podem estar relacionadas a fatores biológicos e socioculturais.

Objetivos

O objetivo deste estudo foi conhecer, a partir do olhar de mulheres que buscaram apoio em ambulatório de apoio para deixar o cigarro, vinculado ao Programa Nacional de Controle de Tabagismo no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), desafios encontrados e estratégias utilizadas no processo de abandono do cigarro levando em conta sua condição feminina.

Método

Foram incluídas no estudo 15 mulheres que acompanharam no ambulatório por pelo menos 12 meses (tempo preconizado por diretrizes do SUS) e que abandonaram o cigarro (mesmo que tenham apresentado recaída). Os dados foram coletados por entrevista guiada por roteiro semiestruturado e foi realizada análise temática de conteúdo para processamento dos dados. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNISUL, CAAE 78891917.3.0000.5369.

Resultados

A partir das falas das entrevistadas, em diálogo com os objetivos específicos da pesquisa e com o referencial teórico, foram elaboradas três categorias temáticas, cada uma delas com duas subcategorias: (a) “Quem me ajudou” (a.1 itinerários terapêuticos e a.2 pessoas e coisas que ofereceram suporte); (b) “Cigarro e ‘ser’ mulher” (b.1 “não faz diferença, só que não!” e b.2 maternidade); e (c) “Desafios para deixar o cigarro” (c.1 “trocar de tábua de salvação” e trocar de prazer). Sobre (a) “Quem me ajudou”, relataram, no seu itinerário terapêutico, a importância de apoio no contexto do ambulatório, em especial como espaço de escuta para lidar com as dificuldades que ocorreram no processo de parar o cigarro, além da busca de auxílio na dimensão espiritual (ligada às suas crenças religiosas). Também referiram ter encontrado apoio na mudança de hábitos de vida, tais como, atividade física, uso de alimentos específicos e chás. Sobre (b) “Cigarro e ‘ser’ mulher”, a maioria quando questionada sobre a questão de especificidades femininas relativas ao tabagismo, respondeu que não havia diferença entre razões para fumar ou deixar de fumar que fossem específicas para homens e mulheres. No entanto, todas as mulheres, no decorrer de suas falas apontaram para questões específicas do papel social da mulher influenciando sua relação com o tabaco, tais como, a tripla jornada de trabalho, o opressivo ambiente doméstico e questões afetivas relacionadas à condição feminina. Também apontaram para o período da gestação como época de “proteção” para o uso de tabaco (com parada do uso ou redução significante) e a volta ao tabagismo logo que a criança nasceu (algumas vezes na própria maternidade). Sobre (c) “Desafios para deixar o cigarro”, a maior dificuldade relatada por todas as mulheres foi relativa à como lidar com o estresse e ansiedade gerado por diferentes razões (tanto decorrente de questões vivenciadas no plano social quanto no plano individual/psicológico). Assim, o cigarro seria como uma “tábua de salvação” nos momentos de ansiedade, angústia, tristeza ou raiva. Não se deixar levar por esses sentimentos, sem o uso do cigarro, foi o maior desafio relatado. Outro desafio relatado foi vinculado ao prazer de fumar, pois, se fumar é prazeroso, é difícil abandonar esse prazer no contexto cotidiano e que, em um primeiro momento, parece não ser substituível por outros.

Considerações Finais

Se, por um lado, o tabaco é visto como problema de saúde pública por estar vinculado ao desenvolvimento de doenças, por outro, o tabagismo tem características que usualmente não são percebidas pelos profissionais de saúde que lidam com usuários de serviços de saúde que apoiam tabagistas a deixar o cigarro. Conhecer o olhar de mulheres que vivenciaram seu uso e seu abandono pode contribuir para ampliar o olhar daqueles que atuam na área de saúde pública, em especial na Atenção Primária em Saúde, ampliando a compreensão sobre esse tema. As questões trazidas por essas mulheres apontam para aspectos de sua história de vida e do cotidiano que podem ser comuns a outras mulheres. Tanto no que se refere aos significados que o tabaco ocupa para lidar com adversidades que estão associadas ao cotidiano feminino, como seu papel como algo prazeroso, aspectos esses que podem estar sendo negligenciados quando se fala em apoiar fumantes para abandonar o cigarro. Dessa forma, o cuidado àquelas que procuram auxílio para deixar o cigarro, além do que já se conhece sobre os aspectos fisiológicos de atuação da nicotina, pode incorporar esse olhar ampliado, em que as questões sociais e culturais trazidas pelas próprias mulheres possam ser consideradas. Com isso, espera-se que esse processo de abandono possa ser mais exitoso e menos sofrido, respeitando os limites e o tempo de cada mulher nesse processo que envolve diferentes dimensões além do aspecto farmacológico da dependência da nicotina.

Palavras Chave

tabagismo, tabagismo e mulher, atenção primária em saúde, cessação tabaco

Area

Saúde da Mulher

Autores

Marinalda Boneli da Silva, Silvia Cardoso Bittencourt