Datos del trabajo


Título

VIDEOAULAS NA CULTURA ALIMENTAR CONTEMPORANEA: REFLEXOES ACERCA DE NOÇOES PROPOSTAS POR PIERRE BOURDIEU

Introdução

Na cultura contemporânea as escolhas alimentares circulam nas práticas virtuais de comunicação e consumo, imprimindo e realçando assim, a subjetividade e as novas sensibilidades nas questões sobre alimentação saudável. As tecnologias de informação e comunicação reverberam tendências e modos de alimentação. No universo das mídias virtuais, as redes sociais reproduzem valores e costumes de nossa sociedade, ao mesmo tempo em que criam outros, introduzindo novas práticas culinárias. O YouTube, rede social de compartilhamento de vídeos, espelha um fenômeno da indústria cultural brasileira e mundial. Nesta plataforma é possível acessar centenas de videoaulas que disseminam habilidades culinárias em um formato específico que refere uma organização estruturante. Há neste “aprendizado” o reconhecimento de símbolos e significados que se multiplicam e atribuem sentidos ao comer saudável. Baseado nos preceitos teóricos de Pierre Bourdieu, o conhecimento praxiológico articula noções operatórias à análise de objetos complexos. Embora a culinária saudável em vídeos aula no canal do Youtube seja construída numa arquitetura aberta, o conteúdo segue disposições socialmente estruturantes e estruturadas. Os conceitos de habitus e de campo podem articular pesquisa teórica e empírica, reorientando o olhar sobre o universo de mídias envolvendo culinária.

Objetivos

O objetivo deste trabalho é refletir sobre a disseminação de orientações culinárias a partir das noções de habitus e de campo, propostas por Pierre Bourdieu, no contexto do consumo de alimentação saudável, em um panorama virtual aberto e acessível ao grande público, o YouTube. Através destas ferramentas conceituais discutiremos como alguns elementos desse jogo simbólico e seus mecanismos podem implicar numa disposição para o consumo de alimentação saudável.

Desenvolvimento

Na rede social Youtube, são inúmeros os canais que tratam de ensinar culinária saudável. As personagens inseridas neste contexto têm um perfil bastante diversificado, porém com uma característica marcante em comum: operam como marcas - chamadas também de “influenciadoras digitais” - para a disseminação de alimentação saudável através da culinária. Elencamos quatro canais de culinária nesta rede social denominados “Canal da Bela”, “Cozinha da Bach”, “Lucília Diniz” e “Panelinha”. Ao olharmos esses canais, percebemos alguns elementos em comum que podem nos auxiliar a compreender a produção simbólica da edição de conteúdos nessas vídeo aulas. A legitimidade confere o valor de influenciadores digitais na esfera digital, que seguem tendências, assim como também criam outras em relação a uma alimentação saudável. A construção da realidade social varia segundo a posição dos agentes, seus interesses e o habitus, em um sistema de esquemas de produção de percepção de práticas (1). O habitus orienta a ação dos agentes e, como um sistema gerador de disposições, produz estilos de vida. As videoaulas podem editar tendências em um processo de mão dupla na sociedade contemporânea, retroalimentando disposições para o saudável. A observação inicial dos canais identificou um espaço estruturado e estruturante (2) de versões de alimentação saudável, com a expressão de habitus de gênero e de classe. Suas protagonistas são femininas, empáticas e afetuosas, revelando assim, uma disposição de gênero ao falar de culinária de uma forma intimista e acolhedora. Ainda, elementos como composição de cenário, com cozinhas bem equipadas, ingredientes sofisticados, atmosfera de higiene e discurso focado em saúde e modernidade nos remete a uma disposição de classe. Esse habitus reflete a posição ocupada pelos agentes no espaço social, ou seja, na distribuição de recursos que são ou podem se tornar operantes, tais como o capital econômico, cultural e social (3,4). A reprodução de habitus está vinculada ao campo de informações socialmente incorporadas. A depender do espaço social as disposições mudam, assim delimitar o campo identifica o universo de produção simbólica de regras e distinções para os agentes. Campo é um microcosmo social dotado de certa autonomia, com leis e regras específicas, mas que, ao mesmo tempo sofre pressões e influências externas, que o moldam (5). O campo da comunicação/educação é um lugar privilegiado na construção dos sentidos sociais e no processo de educação dos sujeitos (6). A categoria “visibilidade” pode ser entendida, numa rede social de vídeos, como estruturante deste campo uma vez que capitaliza o canal e, consequentemente, impulsiona seu alcance e interfere na edição.

Considerações Finais

Ao olharmos para a estrutura das videoaulas de culinária saudável em práticas virtuais de comunicação e consumo e a articularmos às noções operatórias de habitus e campo, além de um exercício teórico-metodológico indispensável para a construção do objeto de pesquisa, nos permite, entre outras questões, perceber e nomear na edição dessas mídias o aspecto da intimidade influenciando as escolhas alimentares. As experiências de comensalidade não se realizam isoladamente como uma decisão de vontade própria, qualquer que seja, mas se organizam de acordo com o ambiente simbólico e tecnológico em que habitam (7). No universo destas videoaulas, gestos, modos, expressões, aspectos estéticos das protagonistas, cores, decoração, cenário, receitas, ingredientes e formas de preparo são partes constitutivas deste sistema simbólico e que podem ser desencadeadoras de orientações culinárias. Desvelar e refletir sobre os mecanismos do agir comunicativo destes canais, inseridos na atmosfera da culinária saudável, é um ponto de partida para compreensão de tendências contemporâneas sobre alimentação e estilos de vida.

Palavras Chave

Habitus; campo; culinária; redes socais.

Area

Alimentação e Nutrição

Instituciones

Universidade Federal do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil

Autores

Manuela de Sá Pereira Colaço Dias, Daniela Menezes Neiva Barcellos, Maria Cláudia da Veiga Soares Carvalho