Datos del trabajo


Título

BARREIRAS DE ACESSO A REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL NO CUIDADO AO USUÁRIO DE CRACK

Introdução

Barreiras de acesso é um conceito multidimensional que expressa um conjunto de características que obstrui a capacidade de os indivíduos utilizarem os serviços de saúde. Essas barreiras apresentam dimensões, geográficas, financeiras, organizacionais, informacionais, culturais e entre outros, que de modo interrelacionado, atuam como barreiras na utilização dos serviços de saúde (GIOVANELLA, et. al. 2012).
Na atenção aos usuários de crack, identifica-se que as barreiras de acesso são aspectos importantes do cuidado em rede, uma vez que a maioria dos usuários que necessitam e/ou desejam se beneficiar de serviços para o transtorno por uso de drogas não tem acesso aos tratamentos adequados (UNDC, 2014).
Verifica-se que apesar da ampliação dos pontos de acesso a partir da instituição da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) em 2011, o acesso ao usuário de crack não é garantido apenas pela abertura de novos serviços, mas especialmente pelo potencial de organização da rede para dar resposta as necessidades sociais e de saúde dos usuários. Nesse sentido, faz-se necessário compreender as barreiras de acesso dos usuários de crack, levando em consideração suas especificidades na utilização dos serviços de saúde.

Objetivos

Analisar as barreiras de acesso a Rede de Atenção Psicossocial no cuidado ao usuário de crack.

Método

Trata-se de um recorte da pesquisa “Avaliação qualitativa da rede de serviços de saúde mental para o atendimento a usuários de crack” (ViaREDE), realizada em um município da região metropolitana de Porto Alegre/RS. O referido estudo utilizou uma abordagem avaliativa e qualitativa, baseada na Avaliação de Quarta Geração, que se caracteriza como uma avaliação construtivista e responsiva, com o foco na avaliação das necessidades dos grupos de interesse (GUBA; LINCOLN, 2011).
A coleta de dados foi realizada em 2013 através de observação participante e entrevistas semiestruturadas. A observação foi registrada em diário de campo, totalizando 189 horas. As entrevistas foram orientadas pelo círculo hermenêutico-dialético e aplicadas a 10 usuários em tratamento no Centro de Atenção Psicossocial álcool e drogas (CAPSad), em função do uso de crack; a 11 familiares; 8 profissionais do CAPSad e 7 gestores do Colegiado de Saúde Mental do município. O Método Comparativo Constante foi usado na análise dos dados, o qual preconiza que a coleta de dados e a análise sejam processos paralelos, um direcionado ao outro (GUBA; LINCOLN, 2011).
Os resultados foram classificados em categorias temáticas, sendo que uma delas referiu-se ao acesso à rede. Dentro dessa categoria, emergiu as barreiras de acesso a Rede de Atenção Psicossocial no cuidado ao usuário de crack. A pesquisa ViaREDE foi aprovada pelo Comitê de Ética/ UFRGS, sob parecer nº16740.

Resultados

Identificam-se três barreiras organizacionais de acesso ao usuário de crack na RAPS, as quais expressam as características de organização dos serviços, o tipo e a qualidade dos recursos humanos e tecnológicos disponíveis capazes de limitar a sua utilização (GIOVANELLA, et. al. 2012).
A primeira barreira refere-se ao funcionamento do CAPSad restrito ao dia. Há uma necessidade urgente de repensar o atendimento à noite e finais de semana, não somente do CAPS, mas também como ocorre a composição de estratégias para que esse atendimento aconteça fora dos horários tradicionais dos serviços especializados. É importante considerar que é à noite e aos finais de semana que o usuário enfrenta a fissura da droga, já que sua rotina é diferente da maioria dos usuários dos serviços de saúde. Assim, torna-se relevante compreender o atendimento para além da oferta e cobertura dos serviços, atingindo também os modos de funcionamento das pessoas como uma via para facilitar e garantir o acesso.
A segunda barreira de acesso é a resistência da equipe do Hospital Geral em atender usuários de crack. Esse serviço muitas vezes se caracteriza como porta de entrada ao sistema, por ser capaz de dar uma resposta imediata a um problema específico, o que, para o usuário, é essencial no seu processo saúde/doença. Entretanto, o usuário muitas vezes é visto pela equipe como culpado de seu problema, uma pessoa agressiva e resistente ao tratamento. Essa percepção, associada a fragilidade na formação e qualificação das equipes, gera, nos profissionais, sentimentos de medo e insegurança na abordagem, constituindo-se como uma barreira de acesso ao tratamento. Além disso, é preciso considerar que as emergências psiquiátricas como a fissura e as agitações psicomotoras são aspectos secundários diante da grande demanda social e de saúde, portanto, devem ser acolhidos pelas equipes a fim de garantir os direitos à saúde e o acesso a outros dispositivos da RAPS.
A terceira barreira organizacional é a falta de profissionais capacitados na atenção básica para o entendimento e intervenção sobre o fenômeno do crack. Identifica-se que a atenção básica é um dos recursos que os usuários e familiares menos podem contar quando necessitam. Há uma necessidade de investir no matriciamento e na educação permanente dos trabalhadores visando melhorar a compreensão do funcionamento do usuário e suas necessidades, no sentido de diminuir preconceitos, estigmas e atuar nas situações de despreparo técnico do profissional. O matriciamento e a qualificação dos profissionais também pode diminuir a distorção de encaminhamentos a serviços especializados ou recusas de atendimento, situações comuns nesse cenário. Assim, considerando que a atenção básica é fundamental no acesso à rede, o fortalecimento de suas ações deve ser prioridade na RAPS.

Considerações Finais

As barreiras de acesso identificadas reforçam a necessidade de qualificar aspectos organizacionais da RAPS adequando o funcionamento dos serviços especializados e a qualificação dos trabalhadores da rede tendo em vista as especificidades dos usuários de crack.

Palavras Chave

Atenção psicossocial; Barreiras de acesso; Usuários de Crack

Area

Saúde Mental

Autores

Leandro Barbosa Pinho, Elitiele Ortiz Santos, Franciele Savian Batistella