Datos del trabajo


Título

PROCESSO DE CUIDADO AS PESSOAS EM RISCO DE SUICÍDIO NA REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: AÇÕES-INTERAÇÕES COM PROFISSIONAIS DE SAÚDE

Introdução

Os elevados índices de suicídio e tentativas de suicídio no mundo fazem do comportamento suicida um importante problema de saúde pública. A redução destas taxas e consequentemente das suas implicações sociais, culturais e econômicas, atravessa a experiência das pessoas com sofrimento psíquico no processo de ação e interação no âmbito da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Uma vez compreendendo o impacto do comportamento suicida para os serviços de saúde é possível fazer uma reflexão acerca da multiplicidade de fatores que circundam o fenômeno e faz emergir à discussão sobre as fragilidades no processo de cuidado às pessoas com ideação suicida no âmbito da RAPS.

Objetivos

Conhecer o processo de cuidado às pessoas em risco de suicídio nas ações-interações com profissionais de saúde no âmbito da Rede de Atenção Psicossocial.

Método

Pesquisa qualitativa, fundamentada metodologicamente na Grounded Theory e no referencial teórico do Paradigma da Complexidade¹, vinculada ao projeto de tese intitulado “Cuidado às pessoas com comportamento suicida na Rede de Atenção Psicossocial: modelo teórico fundamentado na Grounded Theory”. Após a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa, foram realizadas, no período de maio a dezembro de 2017, entrevistas semiestruturadas com 33 participantes, divididos em dois grupos amostrais. A primeira amostragem foi composta por 18 pessoas acompanhadas por comportamento suicida (quinze mulheres e três homens) e a segunda por 15 profissionais, de diferentes categorias (assistente social, enfermeiras, médicos psiquiatras, psicóloga, terapeutas ocupacionais e técnica de enfermagem), atuantes em serviços da Rede de Atenção Psicossocial. O processo de análise dos dados ocorreu concomitante à coleta, conforme os preceitos teóricos da Grounded Theory: codificação aberta, axial e integração; e sistematização seguiu o Modelo Paradigmático, composto por Condição, Ação-Interação e Consequência. A organização dos códigos originou categorias e subcategorias que, neste recorte, serão explicitados pelas relações de ação-interação no cuidado às pessoas em risco de suicídio no âmbito da atenção psicossocial.

Resultados

Os participantes dos grupos amostrais expressam através de suas falas, como percebem e reconhecem o processo de cuidado nos movimentos de ação-interação com os profissionais que atuam na atenção psicossocial, fazendo emergir cinco categorias e seis subcategorias: Deparando-se com entraves para o atendimento na Rede; Reconhecendo a agilidade no serviço de emergência; Incomodando-se com o fato do atendimento restringir-se à terapêutica medicamentosa; Experienciando o atendimento permeado pela negligência, maus-tratos, julgamentos e incitação ao suicídio - inquietando-se com a negligência no atendimento, inquietando-se com os maus tratos por parte dos profissionais, inquietando-se com o julgamento por parte dos profissionais e percebendo a incitação do suicídio pelo profissional -; Valorizando o acolhimento e a disponibilidade por parte dos profissionais do serviço de referência sentindo-se acolhidos por parte dos profissionais do serviço de referência e reconhecendo a disponibilidade do profissional do serviço de referência. Os dados alertam para a inexistência de fluxos e protocolos que norteiem o atendimento às pessoas em risco de suicídio na Rede de Atenção Psicossocial, criando obstáculos para o cuidado por parte dos profissionais. Nesse contexto, embora as pessoas com comportamento suicida experienciem a celeridade dos serviços de urgência/emergência como porta de entrada para as tentativas de suicídio, sabe-se que essa ocorre em virtude da gravidade do quadro clínico, sem qualquer valoração acerca dos motivos que levaram ao intento suicida. Além disso, em muitas situações, as pessoas com comportamento suicida percebem o não cuidado por parte dos profissionais, com o reconhecimento de terapêuticas centradas na doença e restritas à medicalização, atendimentos negligentes, posturas hostis e até mesmo de instigação ao suicídio. Ressalta-se o cuidado e a postura diferenciada dos profissionais do serviço de referência, que se expressam por meio do acolhimento e compreensão em torno do comportamento suicida, escuta interessada e sensível às histórias de cada indivíduo, sendo possível a construção de laços que transcendem a técnica e fortalecem os vínculos entre as pessoas com comportamento suicida e os profissionais.

Considerações Finais

O estudo mostra como ocorre o processo de cuidado às pessoas com comportamento suicida através das relações interacionais com profissionais da Rede de Atenção Psicossocial, revelando as barreiras e as experiências exitosas. Além disso, ressalta-se a necessidade e importância de uma gestão em saúde que dê visibilidade e priorize o melhor preparo e qualificação dos profissionais que estão inseridos em serviços da Rede de Atenção Psicossocial, objetivando uma assistência acolhedora, integral, sem julgamentos, com escuta interessada e respeitosa às pessoas em risco de suicídio. Destarte, tendo como base o princípio do pensamento complexo, salienta-se que este estudo não intenta revelar todas as informações acerca das potencialidades e entraves para o cuidado às pessoas em risco de suicídio, mas sim respeitar as múltiplas e contínuas dimensões expressas nas ações-interações do cuidado às pessoas com comportamento suicida no contexto da atenção psicossocial.

Palavras Chave

Assistência à saúde; Profissionais de Saúde; Comportamento Autodestrutivo; Tentativa de Suicídio; Teoria Fundamentada nos Dados; Sistemas de Apoio Psicossocial.

Area

Saúde Mental

Autores

Cintia Mesquita Correia, Nadirlene Pereira Gomes, Isabela Carolyne Sena de Andrade, Maira Cerqueira Oliveira, Soraya Carneiro Carvalho Rigo, Kamylla Santos da Cunha, Lívia Santos Soares, Vitória Silva Santos