Datos del trabajo


Título

O DISCURSO DE MULHERES SOBRE A VIOLÊNCIA CONJUGAL EXPRESSA DURANTE A GESTAÇÃO E PUERPÉRIO

Introdução

A vivência de violência conjugal na gravidez e puerpério já vem sendo objeto de interesse de estudiosos em todo o mundo. Nestas fases, além de desencadear o adoecimento feminino, compromete a saúde e a vida do feto/neonato. Apesar da literatura apontar implicações da violência conjugal para o binômio mãe-filho, os profissionais da saúde apresentam dificuldade em reconhecer o fenômeno e investigá-lo em seus atendimentos, especialmente em espaços de interação com a gestante e puérpera. Tendo em vista a necessidade de sensibilizar tais profissionais para identificação de gestantes em situação de violência, acredita-se que o conhecimento acerca das expressões da violência conjugal favorece o reconhecimento profissional precoce desse agravo, sobretudo no sentido de evitar complicações obstétricas que coloquem em risco a vida da mulher ou do feto/neonato.

Objetivos

Conhecer as expressões da violência conjugal vivenciadas durante a gestação e puerpério.

Método

O estudo é de abordagem qualitativa, que utilizou como referencial metodológico o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). A pesquisa vinculou-se ao projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) intitulado “Reeducação de homens e mulheres envolvidos em processo criminal: estratégia de enfrentamento da violência conjugal”, que integra o Grupo de Estudos “Violência, Saúde e Qualidade de Vida” (Vid@) da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (UFBA). O cenário estudado consistiu nas 1ª e 2ª Varas de Justiça pela Paz em Casa, localizadas em Salvador, Bahia, Brasil. O local foi eleito por ser campo estratégico de identificação de mulheres em situação de violência conjugal durante a gestação e puerpério, uma vez que julga processos de violência contra a mulher de todo estado. As colaboradoras foram 11 mulheres em processo judicial junto às referidas varas, que vivenciaram violência conjugal na gestação e puerpério. A técnica de coleta de dados utilizada foi a entrevista norteada por formulário semiestruturado. Após realização dessas, os dados foram sistematizados com base no Discurso do Sujeito Coletivo, o qual possibilitou construir discursos-síntese que representam a coletividade. Respeitou-se os critérios éticos contidos na Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, sendo a pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia. Os dados foram analisados a partir da literatura nacional e internacional pertinente a temática.

Resultados

O conteúdo emanado nos discursos permitiu revelar as expressões da violência conjugal no período gravídico-puerperal sob as formas: física, sexual, psicológica e moral, e patrimonial. No que tange a vivência de agressão física durante evidenciou-se que esta se expressa sob as formas de enforcamentos, socos, chutes, empurrões e tapas. Alerta-nos a agressão direcionada a atingir a face e o útero gravídico. Contatou-se ainda o estupro marital presente na gestação e puerpério. Estas experiências são permeadas por frequentes coerções, sobretudo em períodos de abstinência sexual, como no período puerperal e após o aborto. Também foi possível identificar abusos psicológicos no intercurso da gravidez e puerpério. Sobre essa expressão, os discursos revelam manifestações de ameaças, agressões verbais e controle por parte do cônjuge. Soma-se a violência patrimonial também vivenciada nesse período por meio da destruição de seus bens materiais e subtração de documentos, além da privação de recursos básicos e econômicos necessários à sua subsistência e da sua prole.

Considerações Finais

O estudo sinaliza para a vivência de violência conjugal nos períodos gestacional e puerperal, que se expressa através da agressão física, patrimonial, psicológica, moral e sexual. Quando tais manifestações são direcionadas a gestante podem acometer a sua saúde e do feto/neonato. Diante a existência desse fenômeno no público em questão, a pesquisa remete ainda para a busca ativa de mulheres que não compareceram às consultas de pré-natal ou que abandonaram, uma vez que a ausência nos serviços de saúde é reconhecida enquanto um dos indícios da ocorrência dessa vivência, seja pela vergonha das marcas físicas. Nesses casos destaca-se que além das repercussões da violência, a mulher se tona mais vulnerável a complicações obstétricas devido ao não acompanhamento periódico com fins na manutenção da sua saúde e do feto. Considerando a gravidade envolvida em experienciar a violência conjugal no período de geração de outro indivíduo, o estudo contribui para indicação de diferentes manifestações do agravo que podem nortear os profissionais para a suspeita dessa vivência. Acredita-se ainda que os achados poderão subsidiar a formação acadêmica ou em serviço para o reconhecimento do agravo. Condição elementar para direcionar o cuidado às mulheres em situação de violência conjugal com consequente prevenção e enfrentamento do fenômeno. Ressalta-se que os processos educativos devem priorizar profissionais que atuem junto às gestantes e puérperas em quaisquer níveis de complexidade da assistência.

Palavras Chave

Gravidez, Período Pós-Parto, Violência contra a mulher, Violência por parceiro íntimo.

Area

Violências e Saúde

Autores

Luana Moura Campos, Nadirlene Pereira Gomes, Jéssica Damasceno de Santana, Moniky Araújo da Cruz, Jordana Brock Carneiro, Ionara da Rocha Virgens, Jacinta Marta Tavares Leiro, Nadjane Rebouças Gomes