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Título

A DIALETICA SENHOR-ESCRAVO DE HEGEL E AS INFLUENCIAS NA TEORIA ETICO-CRITICO-POLITICA DE PAULO FREIRE: UMA REFLEXAO TEORICO-EPISTEMOLOGICA

Introdução

Paulo Freire elaborou a teoria “ético-crítico-política da educação com base no diálogo como possibilidade de conscientização para formar cidadãos transformadores da sociedade, da economia e política injusta1. Para falar sobre educação, Paulo Freire faz um paralelo entre opressores e oprimidos, em que o caminho para a libertação da situação de opressão é a educação. Por isso, escreve sobre uma Educação como Prática da Liberdade1. Com o propósito de aprofundar o conhecimento sobre a teoria de Paulo Freire, emergiu a necessidade de buscar adensamento teórico sobre a epistemologia Freireana, a fim de ampliar a compreensão sobre os conceitos que nortearam a teoria desse autor. A epistemologia do pensamento Freireano possui influências de vertentes filosóficas distintas, que emergem da necessidade da incorporação de diferentes conceitos pelo autor em sua teoria e, também, em seu método. O pensamento Freireano se configura, reunindo confluências do pensamento existencial, ou seja, o homem como ser em construção em determinado momento histórico. Também, é possível visualizar fortemente a fenomenologia presente na ideia de que o homem constrói sua consciência enquanto intencionalidade. A presença do materialismo marxista aparece quando Paulo Freire enfatiza a ideia de que o homem se constrói por meio do trabalho. Finalmente, baseia-se também na dialética hegeliana do homem enquanto autoconsciência, na qual debruçaremos nossa reflexão2.

Objetivos

Refletir teoricamente sobre a epistemologia da teoria ético-crítico-política de Paulo Freire.

Desenvolvimento

Tomaremos como ponto de partida para nossas discussões a dialética senhor-escravo presente no livro Fenomenologia Do Espírito, de Hegel. Hegel afirma que o homem é essencialmente consciência de si e de sua realidade e, por isso, difere do animal, que não ultrapassa o nível de sentimento de si. Afirma, ainda, que ser consciente de si implica desejo, sendo que o homem, essencialmente, deseja o que é desejado por outros homens. Para Hegel, a sociedade só é humana quando implica um elemento de dominação e um elemento de sujeição, ou seja, sempre irá existir um senhor e um escravo. Assim, a dialética histórica da humanidade é a dialética do senhor e do escravo3. Considerando esses elementos, Paulo Freire, em sua teoria, afirma que o modelo opressor de estrutura social é alimentado pelo modelo bancário de educação. Nesse modelo, a educação é um ato de depositar conhecimentos nos educandos, cuja única função é a de receber os conhecimentos depositados pelos educadores, de forma mecanizada4. Na dialética do senhor e do escravo, Hegel opera com duas consciências: a consciência do senhor, que representa a identidade de si, e a consciência do escravo. Na busca por satisfazerem seus desejos, senhor e escravo confrontam-se por meio de um processo que ocorre pela negação (recíproca) da consciência do outro. Aquele que vencer torna-se senhor, que só é senhor se for reconhecido pelo escravo, o qual torna-se escravo porque foi vencido. O elemento principal desse confronto está no reconhecimento de si pelo outro. Por sua vez, o escravo aceita a vida concedida pelo outro, ou seja, pelo senhor, dependendo, portanto, desse senhor para sua sobrevivência5. A partir disso, na concepção de educação bancária, da qual a teoria Freireana critica, os educadores são detentores do saber, enquanto os educandos são considerados nulos em relação ao saber, ou seja, seu saber não é considerado, negando-se o conhecimento e a educação como processos de busca, mantendo a cultura do silêncio, característica de uma sociedade opressora. Esse modelo de educação estimula a ingenuidade e não a criticidade dos educandos e, ainda, sugere um caráter social paternalista em que os oprimidos são assistidos e marginalizados. Além disso, a concepção bancária da educação nega a criatividade, não considerando a possibilidade de transformação. O saber torna-se uma doação dos que se julgam sábios aos que eles julgam nada saber. A ignorância é encontrada sempre no outro e, nesse processo, a educação e o conhecimento são negados enquanto processo de busca. O educador reafirma-se na ignorância dos educandos e estes, por sua vez, reconhecem sua ignorância na existência do educador, refletindo uma sociedade opressora. Nesse modelo de educação, o educador é sujeito e o educando é objeto do processo, impedindo a construção de uma consciência crítica por parte de todos os envolvidos. Dessa forma, aos educandos apresenta-se uma realidade de adaptação ao mundo, com a construção de uma consciência ingênua e, por isso, a educação bancária torna-se modelo de opressão. Os opressores utilizam de instrumentos para a criação de um falso humanitarismo e, juntamente com a educação bancária, utilizam de ações sociais de caráter paternalista, em que os oprimidos recebem o nome de assistidos e, assim, são mantidos na posição de oprimidos que nada podem fazer diante da realidade que está posta, mantendo o status quo dos opressores4. Hegel afirma que o senhor força o escravo a trabalhar e, ao trabalhar, o escravo torna-se senhor da natureza. Transformando o mundo por seu trabalho, o escravo reina, ou seja, o escravo transforma o mundo pelo trabalho, transcendendo, superando também o senhor. Dito de outra forma, o escravo transforma o mundo por meio do trabalho e chega à consciência de si mesmo, enquanto o senhor acaba alienando-se porque só consome o que foi transformado pelo escravo, dependendo dele5. Por isso, na proposta de educação libertadora de Paulo Freire, o autor baseia-se na problematização/libertação, reforçando que os homens são seres historicamente construídos, que se educam na práxis com o processo de ação-reflexão-ação, transformando o mundo por meio desse processo, criando cultura e história4.

Considerações Finais

Este texto materializa um processo de reflexão teórica por meio do qual ampliou-se a compreensão de que diversos elementos encontrados na teoria ético-crítico-política de Paulo Freire representam influências da dialética senhor-escravo de Hegel, o que possibilitou adensar o conhecimento sobre a epistemologia Freireana.

REFERÊNCIAS
1. Freire, P. Educação como prática da liberdade. Edição eletrônica. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 2011.

2. Torres CAN. A práxis educativa de Paulo Freire. São Paulo: Loyola; 1979.

3. Brutscher VJ. Educação e conhecimento em Paulo Freire. Passo Fundo: IFIBE e IPF; 2005.

4.Freire P. Pedagogia do oprimido. 59.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 2015.

5. Kojéve A. Introdução à leitura de Hegel. Rio de Janeiro:

Palavras Chave

Dialética; Epistemologia; Reflexão;

Area

Políticas e processos de formação de profissionais e pesquisadores

Autores

Bianca Joana Mattia, Carla Rosane Paz Arruda Teo