Datos del trabajo


Título

VIOLENCIA INSTITUCIONAL A PARTURIENTE: COM A PALAVRA OS ACOMPANHANTES

Introdução

A violência obstétrica é um dos diversos tipos de violência contra a mulher e de violação dos direitos humanos. A cada quatro mulheres uma refere ter sofrido algum tipo de violência durante seu processo parturitivo(¹). Muitas vezes ela se torna invisível, uma vez que alguns acontecimentos durante a assistência nas maternidades ainda são considerados de “rotina”, e dessa forma vão sendo naturalizados perante a sociedade. Assim, situações de violência que são frequentemente expressas nas falas grosseiras e desrespeitosas, no uso de jargões pejorativos, na banalização do sofrimento e na falta de atendimento à parturiente, podem dificilmente serem percebidas como tal(²). No Brasil, desde 2005 a Lei n°11.108 passou a obrigar os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) e da rede privada ou conveniada a permitir a presença de um acompanhante da escolha da mulher durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato(³). Desta forma, foi legitimada a participação do acompanhante no cenário do atendimento ao parto, passando a desempenhar o papel de provedor de apoio à mulher.

Objetivos

Desvelar a violência institucional à mulher durante o atendimento no trabalho de parto e parto a partir da ótica dos acompanhantes.

Método

Trata-se de um estudo qualitativo do tipo exploratório e descritivo, inserido em um macroprojeto com abordagem quantitativa e qualitativa. Os informantes foram os acompanhantes identificados na etapa quantitativa, a partir dos seguintes critérios de inclusão: ter relatado a ocorrência de alguma forma de violência contra mulher durante o trabalho de parto e parto. Foram entrevistados 10 acompanhantes, de outubro de 2017 a abril de 2018 por meio de contato telefônico, utilizando-se um roteiro semiestruturado. As entrevistas foram gravadas e, posteriormente, transcritas. Os dados foram analisados seguindo as etapas: pré-análise, com organização do material; exploração do material ou codificação; tratamento dos resultados, inferência e interpretação(4).

Resultados

As categorias de análise revelam que os acompanhantes perceberam que as mulheres sofreram violência institucional dos tipos: estrutural, verbal, física e psicológica. A violência estrutural se traduziu pela imposição de algumas rotinas institucionais que cerceiam os direitos da parturiente; no atendimento precário: falta de princípios de higiene, como contaminação das enfermarias por fluídos corporais das mulheres internadas; assepsia inadequada, como contaminação de luva cirúrgica devido o uso do celular antes de realizar o toque vaginal e alguns profissionais sem vestimenta adequada. Também na falta de recursos humanos, sendo mencionada a situação em que o anestesista não estava no centro obstétrico durante intercorrências e o atendimento ao parto por residente sem supervisão do médico plantonista ou preceptor. Além da estrutura física inadequada: falta de banqueta de parto, número reduzido de chuveiros e número excessivo de pessoas no momento do parto, interferindo na privacidade. A violência verbal pode ser entendida como a repreensão, gerando a subordinação da parturiente aos profissionais que ordenavam o comportamento dela: ficar quieta, não fazer escândalo e parar de chorar para não “prejudicar” o bebê, deixando-a amedrontada. Somado à isso, os acompanhantes revelaram que também ocorreram xingamentos com palavras ofensivas e insultos à parturiente, chamando-a de escandalosa; e tratamento áspero: profissionais agindo com indiferença e de forma grosseira diante da dor da parturiente, ignorando suas necessidades e dizendo que não poderiam fazer nada para ajudar. Já a violência física foi revelada na desnecessária exposição e manipulação excessiva do corpo da mulher, especialmente quando realizado o toque vaginal por diversos profissionais, em repetidas vezes, e sem o consentimento da parturiente. Também pelas manobras e procedimentos inadequados, como a manobra de Kristeller; a realização de episiotomia, sem informar a parturiente; além do uso indiscriminado da ocitocina, mesmo com o trabalho de parto em evolução. Por fim, a violência psicológica, frequentemente, relatada e expressa pela falta de explicação sobre os procedimentos e os motivos pelos quais eram realizados, como por exemplo, a indicação da cesariana e orientações sobre o banho de aspersão no trabalho de parto. Além da negligência, como deixar de atender a parturiente para ficar no celular ou no computador, o atendimento era inadequado e desrespeitoso, com situações de humilhação, ao menosprezar a opinião da mulher e do acompanhante.

Considerações Finais

Os resultados revelam que o acompanhante de parto, apesar de ser geralmente uma pessoa leiga na área da saúde, possui a capacidade de identificar que o atendimento à mulher está inadequado, precário e desrespeitoso, ou seja, aspectos da violência institucional. Atitudes dos profissionais que caracterizam a violência psicológica foram as mais relatadas pelos acompanhantes, sendo que esse é o tipo mais invisível e de difícil identificação, mas que poderá produzir sequelas na experiência com o parto e nascimento. As demais situações percebidas demonstram que as parturientes também sofreram violência estrutural, verbal e física, apesar de a maioria dos acompanhantes não nominar como tal. Dessa forma, torna-se necessário valorizar a participação do acompanhante na cena do parto, pois a avaliação do atendimento comprova seu olhar atento e crítico no que se refere à assistência prestada. Considera-se que o seu papel extrapola ao de provedor de apoio, uma vez que ele também pode contribuir, quando orientado, na defesa dos direitos da mulher, inibindo ou minimizando as diversas formas de violência.
1. Venturi G, Godinho T. Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado: uma década de mudanças na opinião pública. São Paulo: Fundação Perseu Abramo e Editora SESC SP; 2013.
2. Aguiar JM, D'oliveira AFPL, Schraiber LB. Violência institucional, autoridade médica e poder nas maternidades sob a ótica dos profissionais de saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro [Internet]. 2013 Nov [citado em 16 Maio. 2018] 29(11): 2287-2296. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X2013001100015&script=sci_abstract&tlng=pt
3. Brasil. Lei n 11.108, de 7 de abril de 2005. Altera a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, para garantir às parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS. Diário Oficial da União [internet]. Brasilia; 2005 [citado 25 Maio 2011]. Disponível em: http://sislex.previdencia.gov.br/paginas/42/2005/11108.htm
4. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2011.

Palavras Chave

Violência, Violência contra a Mulher, Saúde da Mulher, Apoio social, Parto

Area

Violências e Saúde

Instituciones

Universidade Federal de Santa Catarina - Santa Catarina - Brasil

Autores

Marília Sabrina Nunes Ribeiro, Odaléa Maria Brüggemann, Carolina Frescura Junges