Datos del trabajo


Título

A INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA COM CRIANÇAS

Introdução

A pesquisa envolvendo crianças ainda é um procedimento complexo que exige preparo por parte do pesquisador, espaço para favorecer o protagonismo da criança, além cuidados com os aspectos metodológicos e éticos.

Objetivos

Assim, neste trabalho pretendemos provocar reflexões sobre a participação da criança em pesquisa qualitativa, considerando questões relacionadas à ética, ao método, implicações e responsabilidades do pesquisador.

Desenvolvimento

Para discutir a participação da criança na pesquisa qualitativa vamos retomar a posição ocupada pela criança no contexto social. Historicamente, a escola, a saúde e outros contextos sociais viam as crianças como seres incompletos e incapazes, isentas de responsabilização por qualquer situação e dependentes dos adultos até atingir a sua maturidade, portanto, sujeitos sem condição de tomar decisões e de pensar por si mesmas1;2. Esta concepção de infância difundida em nossa sociedade e, é um dos motivos que tem dificultado a participação da criança nos processos. As mudanças na forma de ver a criança foram alavancadas a partir da Convenção sobre os Direitos da Criança das Nações Unidas (CDC),3 e no Brasil a partir da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei 8.069/90)4. No entanto, no que diz respeito à participação da criança como atores e de forma ativa nas atividades de pesquisa, essa ainda é uma questão recente em nossa realidade. Nesse sentido, os debates sobre essa questão são escassos e a não participação está centrada em duas justificativas; a primeira que toma como centro a vulnerabilidade psicológica e biológica da criança, em que as informações oferecidas por elas não são seguras; a segunda está vinculada a uma visão paternalista da infância, já que como ser vulnerável que é, a criança necessita de proteção para não ser explorada pelos pesquisadores5. Há que se considerar também, que para o desenvolvimento da autonomia da criança é necessário que lhe seja dado a oportunidade de participar das atividades e das tomadas de decisão relativas à sua vida, por exemplo, a participação em investigações científicas. As experiências de participação durante o desenvolvimento das crianças, além de trazer benefícios pessoais e sociais, podem repercutir a longo prazo na participação democrática na sociedade6. Entendemos que quando a criança tem oportunidade de passar por experiências cotidianas de participação na família e na escola, dentre outras, favorece a construção de uma cultura de responsabilização conjunta na tomada de decisões que atinge sua vida. Assim, para tornar as crianças sujeitos ativos do processo de pesquisa é preciso propiciar o direito de escolha, ainda que este seja compartilhado com seus pais ou responsáveis legais. Valorizar a liberdade de escolha da criança já define uma importante diferença na construção de um ambiente mais acolhedor para a mesma1, no processo de pesquisa. Considerando que a participação da criança em pesquisa na saúde é uma questão complexa e que o debate na literatura sobre o tema ainda é pequeno em nossa realidade, que muitos pesquisadores ainda têm dificuldades em reconhecê-las como sujeitos ativos e com saberes, e não como objetos a serem investigados, evidencia-se como um desafio promover a participação real das crianças em pesquisas, sejam elas de abordagem quantitativa ou qualitativa. Entendemos que a participação da criança na pesquisa de abordagem qualitativa, deve ser vista de forma diferenciada, o que significa que o pesquisador deve estar preparado para buscar novos recursos metodológicos e éticos que se adeque a essa população5. Para tal, destaca-se a importância da utilização de diferentes estratégias e técnicas para a coleta de dados, que podem facilitar a inserção do pesquisador no contexto da criança e na interação de ambos. Dentre as ferramentas metodológicas que podem ser utilizadas na pesquisa com crianças, destacam-se, a observação participante, a entrevista, a produção de desenhos e elaboração de histórias pelas crianças, registros em vídeo ou fotografia digital e atividades lúdicas, dentre outras. Além da escolha da estratégia de recolha dos dados, é importante constituir espaços e maneiras de ouvir a opinião da criança e de produzir tomadas de decisão, por meio de brincadeiras, jogos e interações, como forma de garantir às crianças a protagonismo/participação significativa. Outro aspecto relevante no processo de participação da criança na pesquisa qualitativa é a comunicação. As formas de comunicação além da linguagem oral devem ser usadas, os componentes lúdicos e visuais como os desenhos, as narrativas, os enredos e formas alternativas de diálogo, como rodas de conversas. Além disso, o pesquisador deve demonstrar atitude acolhedora e afetiva através do olhar, do tom de voz, ou do toque. Para favorecer a participação da criança no âmbito das pesquisas em saúde, se faz necessário tornar os processos mais flexíveis para possibilitar a escuta da opinião das mesmas, abrir espaço para imaginação criativa, própria da infância e utilizar formas de comunicação compatíveis aos modos de expressão das mesmas. Outra característica da pesquisa com criança é que a produção de conhecimentos é facilitada quando o pesquisador vai até o contexto onde ela vive ou se relaciona, como creches ou escolas, para ver como interage, interpreta suas experiências e o que faz no seu cotidiano. Dentre as responsabilidades e desafios que se apresentam para o pesquisador que desenvolve investigações qualitativas com crianças, merece destaque especial as questões éticas envolvidas, como proteger a criança e garantir a manutenção da sua autonomia, bem como, respeitar todos os outros princípios da bioética, incluindo a justiça, beneficência e maleficência7. Nesse sentido, dentre os aspectos a serem considerados pelo pesquisador estão o consentimento informado; a proteção contra o dano; a confidencialidade e anonimato; a devolução da informação; implicações ou impacto social dos resultados e o pagamento pela participação na pesquisa5.

Considerações Finais

Por fim, na relação entre pesquisador e a criança é preciso antes de tudo, que este considere-a como sujeito social e parceiro na investigação, respeitando as especificidades de acordo com sua faixa etária, de forma a possibilitar-lhe participação mais ativa na pesquisa. A investigação qualitativa desde que tenha articulação teórica e empírica e respeite os princípios éticos, pode contribuir para que as crianças sejam reconhecidas como produtoras de conhecimento e sujeitos do processo investigativo.

Palavras Chave

Pesquisa com crianças; implicações metodológicas; formas de comunicação; Pesquisa qualitativa.

Referências:
1. Moreira MCN, Macedo AD. O protagonismo da criança no cenário hospitalar:
um ensaio sobre estratégias de sociabilidade. Ciência & Saúde Coletiva, 2009; 14(2):645-652.
2. Sarmento, M. J., Fernandes, N., e Tomás, C. (2007). “Políticas públicas e participação infantil”. Educação, Sociedade e Culturas, 25, pp. 183-206.
3. ONU. Convenção sobre os Direitos da Criança. Nova York: ONU, 1989. ONU - Organização das Nações Unidas (1989). Convenção sobre os Direitos da Criança.
4. Brasil. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal 8069, de 13 de julho de 1990. Brasília, DF.
5. Fernandes N. Ética na pesquisa com crianças: ausências e desafios, Revista Brasileira de Educação, 2016; 21(66`): 759-776.
6. Souza APL, Finkler L; Dell'aglio, DD; Koller, SH. Participação social e protagonismo: reflexões a partir das Conferências de Direitos da Criança e do Adolescente no Brasil. Avances en Psicología Latinoamericana, 2010; 28(2):178-193.
7. Gaiva MAM. Pesquisa envolvendo crianças: aspectos éticos. Rev Bioét. 2009; 17(1):135-46.

Area

Saúde da Criança

Instituciones

Universidade Federal de Mato Grosso - Mato Grosso - Brasil

Autores

Maria Aparecida Munhoz Gaíva, Fabiane Blanco e Silva, Emanuelly Ferreira Lima Silva