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Título

REFLEXOES METODOLOGICAS: UMA EXPERIENCIA BOURDIEUSIANA NA PESQUISA QUALITATIVA EM SEGURANÇA DOS ALIMENTOS

Introdução

A pesquisa qualitativa percorre o universo dos significados, crenças, valores e atitudes humanas a fim de clarificar a realidade social (Minayo, 2009). A união de diversos instrumentos e técnicas de pesquisa, mostra-se favorável a melhor tradução da realidade (Bourdieu, 2008). Deste modo, o modelo de triangulação objetiva a coleta simultânea de dados qualitativos e quantitativos em uma única população efetuando-se a integração dos dados na etapa final da análise (Schifferdecker; Reed, 2009). O uso das teorias sociais auxilia na elucidação de questões que não são facilmente detectáveis à primeira vista. Neste tocante, o conceito do habitus, matriz de esquemas de percepção e apreciação do mundo social com base nas experiências vividas e classe social de origem, faz-se de grande utilidade (Bourdieu, 2004). No cenário da pós-graduação brasileira em Nutrição, observa-se que dentre sete programas, apenas 7,3% do total de publicações de dissertações e teses utilizaram abordagens qualitativas e mistas (Vasconcelos, 2013). Considerando as poucas publicações de pesquisas com estas características e a grande relevância das Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA) para a saúde pública, busca-se clarificar os caminhos para investigações deste tipo.

Objetivos

Relatar o percurso metodológico de uma dissertação de mestrado que utilizou o método de triangulação de dados para investigar a percepção de risco de DTA e o habitus de trabalhadores de cozinha de restaurantes comerciais sob a ótica social da teoria de Bourdieu.

Desenvolvimento

Inicialmente, realizou-se um levantamento da literatura pertinente às áreas que se pretendiam explorar, para que fossem delimitados objetivos e uma hipótese que proporcionassem resultados inéditos ao campo de produção científica. A Teoria Estruturalista-Construtivista, ou Teoria da Prática, de Pierre Bourdieu foi estudada e apreendida pela pesquisadora por meio de livros do autor em questão, artigos com o uso da teoria, participação em disciplina sobre a temática e contato com pesquisadores da área da sociologia. Os conceitos habitus, campo, capital e poder simbólico, foram percorridos em suas particularidades desde a concepção inicial do projeto até a conclusão final, estando presentes em todas as etapas. A escolha e construção dos instrumentos se deu com base neste conhecimento gerado. Alterações foram feitas em vista dos dois testes-piloto efetuados para adequação da linguagem e melhora na compreensão dos respondentes. O método central foi a observação participante durante sete dias em cada local, no qual registrou-se as informações em diários de campo, posteriormente analisados por meio de análise de conteúdo do tipo temática segundo Bardin (2011). Categorias não-apriorísticas emergiram da análise e os núcleos de sentido foram interpretados a luz da teoria social. Foi efetuada uma entrevista sobre a percepção de risco e habitus dos trabalhadores. A formulação das questões levou em consideração a literatura conveniente em conjunto as discussões e produções anteriores do grupo de pesquisa em questão. Pretendeu-se explorar por meio das questões tópicos importantes das duas perspectivas e que se relacionavam entre si. O roteiro para a entrevista aberta sobre a trajetória de vida foi composto a partir da leitura do livro A distinção: crítica social do julgamento (Bourdieu, 2007). Quanto aos dados quantitativos, houve aplicação de um questionário de locus de controle desenvolvido pela pesquisadora junto ao grupo de pesquisa. Nestas questões foram abordados tópicos cotidianos (situações da vida, política), do universo do trabalho (entrada de um funcionário novo, acidentes de trabalho, sucesso profissional, liderança) e da percepção de risco (contaminação alimentar). E, também, foi aplicado aos trabalhadores a Escala de Percepção de Risco (EPR) baseada em Da Cunha et al. (2012) e Da Cunha et al. (2015) no qual foram obtidos dados tanto sobre a percepção de risco como do viés otimista. A aplicação dos instrumentos ocorreu em dias distintos para não sobrecarregar o interlocutor. No último dia de observação, foram feitas as entrevistas sobre habitus e percepção de risco e a entrevista sobre a trajetória de vida. A realização destes dois instrumentos no último dia favoreceu a diminuição da violência simbólica ocasionada pela presença da pesquisadora nos restaurantes e proporcionou maior interesse em fornecer respostas completas, pois os trabalhadores já haviam descontruído a desconfiança inicial quanto à presença da pesquisadora. Deve-se respeitar a organização dos horários dos agentes dentro de seu serviço, bem como seu tempo disponível para a aplicação dos instrumentos. Muitas vezes o capital cultural do pesquisador não será reconhecido nos campos de pesquisa pelos agentes. É essencial que o pesquisador se desnude de seus pré-conceitos e esteja aberto a experienciar novas situações, bem como a escutar com empatia todos os relatos. O pesquisador deve aprender com os agentes do campo. O conceito bourdieusiano do habitus levantou a hipótese da influência do âmbito familiar sobre as práticas (in)coerentes com a segurança dos alimentos. O reconhecimento foi identificado como capital advindo de patrões, pares e clientes, sendo um elemento motivador de práticas adequadas. Observou-se que na ausência de conhecimento cientifico, o trabalhador recorria ao habitus e ao senso comum para que guiassem suas práticas. Relações de dominação foram identificadas em todos os locais, e, quando eram negativas, isto é, por meio do poder simbólico dos patrões, atuavam prejudicando o seguimento do trabalho, a harmonia do local e, por consequência, afetavam o cumprimento das normas sanitárias. Os dados advindos das trajetórias permitiram uma maior compreensão dos campos de formação pessoal e profissional do trabalhador e de sua percepção sobre à segurança dos alimentos. Notou-se que questões como o desperdício e reutilização de alimentos, mesmo que contaminados, são custosas àqueles que já estiveram em situação de vulnerabilidade social. Os dados quantitativos complementaram a análise indicando o nível de percepção de risco, o viés otimista e o locus de controle.

Considerações Finais

O uso da teoria bourdieusiana como plano de fundo para desenvolvimento de um projeto de pesquisa, desde sua concepção, passando pelos métodos, análise e concluindo com a interpretação dos dados contribuiu furtivamente ao entendimento de novas questões referentes à segurança dos alimentos, apontando possíveis caminhos para formações mais efetivas aos trabalhadores de cozinha.

Palavras Chave

Segurança dos alimentos; Bourdieu; Percepção de risco; Doenças Transmitidas por Alimentos; Métodos mistos.

Area

Alimentação e Nutrição

Instituciones

Universidade Federal de São Paulo - São Paulo - Brasil

Autores

Rayane Stephanie Gomes De Freitas, Elke Stedefeldt