Datos del trabajo


Título

NARRATIVAS DE CUIDAR: ENTRE AFETOS E PRATICAS

Introdução

Este estudo deriva da pesquisa intitulada “Observatório Nacional de Produção de Cuidados em diferentes modalidades à luz do processo de implantação das redes temáticas de atenção à saúde no Sistema Único de Saúde: avalia quem pede, quem faz e quem usa, Rede de Avaliação Compartilhada – RAC, em uma Clínica de Saúde da Família, localizada no região metropolitana do Rio de Janeiro. Nosso intuito ao elaborar esse relato foi compartilhar outros modos de fazer pesquisa, de estar em interação com o outras formas de produção de conhecimento no campo da saúde. Para tanto, adotamos como eixo guia a narrativa. Compartilhamos com Barthes que a narrativa compreende um registro mais flexível, mais autobiográfico, inclui sentimentos e indagações do pesquisador, possibilitando reflexões posteriores importantes para a construção do campo em nós. A narrativa é uma prática da linguagem vinculada a um acontecimento articulado à memória, desencadeia efeitos ativos por incluir elementos como o contato, nesse sentido opera como dispositivo favorável a experiência singular. Sua função não é de representar, é de construir um espetáculo ainda que permaneça no enigmático. [...] (p.60)1

Objetivos

Apresentar o uso da narrativa como ferramenta para a pesquisa
qualitativa na área de saúde.

Método

Na abordagem qualitativa, nos pautamos no pressuposto do encontro como dinâmica dialógica. De acordo com Merhy, uma história pode ser contada a partir de várias fontes, tanto visíveis, (documentos, livros e rascunhos), como invisíveis, (pessoas que não foram visibilizadas). Como pesquisadores, ao entrar no campo a ser investigado, importa estabelecer uma relação dialógica com as pessoas do cenário, fomentar encontros, investigar e se deixar investigar porque tais pessoas também são “rastreadores dos territórios das existências que buscamos (p. 2).2 .Neste estudo, utilizamos o que cada pesquisador produzia como narrativa, disponibilizando-a para o grupo de pesquisadores, provocando discussões, questionamentos e troca de impressões. Importante destacar que o coletivo foi constituído por pesquisadores graduandos, mestrandos e doutores de diferentes profissões

Resultados

No processo de pesquisa as discussões possibilitaram como resultado a troca de experiência e conhecimento das questões dando maior clareza dos passos seguintes a serem efetivados. Este processo investigativo disparou em nós muitas reflexões, além de muitos estranhamentos. Em vários momentos, nos surpreendemos, pois fomos obrigadas a deslocar a vista de nosso ponto de vista. Se doar ao conhecimento e se deixar conhecer, perceber atravessamentos e especificidades, além de diversos modos de andar a vida e sua relação com a produção do cuidado, resignificaram as poucas certezas que já tínhamos instituídas em nós. Estar no campo era possibilitar a transformação do que já sabíamos, ocorrendo o desmonte de nossas certezas, e a reinvenção de técnicas já internalizadas[...] Logo quando nos aproximamos a figura da mulher me chamou a atenção. Emagrecida, pele com muita irritação, edema de membros inferiores... ou seja, comecei automaticamente a “ler” o que os sinais clínicos me diziam, mas ao mesmo tempo comecei a ouvir o que ela falava e fui me assustando. O tom de voz era às vezes calmo, mas aumentava, havia paradas na conversa, mas seguia em um só ritmo...ao meu lado falava para ela: “estou entendendo” e eu não conseguia entender absolutamente nada do que ela dizia. Uma sensação estranha. Muito estranha. Ouvia o som, alguma das palavras reconhecia. Afinal era português, não mandarim. Mas, mesmo assim, apesar do meu esforço não alcançava o que ela dizia, ao passo que ela, prestando atenção, dizia estar entendendo tudo. Lá pelo meio da conversa, não aguentei e falei. “As suas pernas estão muito inchadas. Porque não vai hoje, lá no posto? Ela olhou para mim, falou um monte! E do que consegui entender, pois já estava ali a mais de 15 minutos é que havia uma coisa no tanque e a roupa suja. Neste dia me senti uma analfabeta, não consegui entender o que estava diante de mim. Ao mesmo tempo me deixou marcas, entendi que se entra nos territórios existenciais não só pelo verbo, mas, há outras formas. Na Clínica de Saúde da Família a forma como se dava o processo de trabalho percebemos encontros preciosos e [...] A Sra.(E) ensinou a cuidar da boquinha da criança depois do peito ou da mamadeira e ao final da palestra fez uma confissão: ela usa prótese e por isso não come qualquer coisa, sendo obrigada a comer coisas pastosas a maior parte das vezes para não “passar vergonha”. Ela disse que graças à Deus, elas não precisariam passar por isso, pois ela estava ali para tratar de seus dentinhos. Depois disso, ela pegou duas gestantes que ainda não tinham passado pelo dentista e as levou consigo. Será acaso o fato de ela ser técnica de higiene dental? Não, acho que não. Como dizem os sábios, como os gurus, não existe acaso nessa vida

Considerações Finais

Foi importante evidenciar a narrativa como uma das ferramentas mais potentes utilizadas nesta pesquisa para a construção do campo em nós, tendo como base a proposta do encontro. Abrir nosso corpo para novas experiências foi sempre um desafio, uma luta entre tudo que já sabemos e o inusitado, o que está por vir... Sair da rotina, para experimentar a forma do outro, produz marcas. Atrelar o que se aprende nos estudos da academia com a realidade que nos atravessa no campo do cuidado pode nos fornecer subsídios para a elaboração de projetos. Na Clínica de Saúde da Família, percebemos muitos problemas, mas, também, muitas formas criativas de resolve-los. O comprometimento dos profissionais nos emocionou. Algumas vezes, conseguimos perceber que o compromisso ético está para além do cuidado técnico, mecânico e se conecta na compreensão do cuidado como valor. Incluir o usuário nesta pesquisa como co-pesquisador e ao mesmo tempo pesquisado, entendendo-o como partícipe na produção do cuidado, ouvindo suas observações, percebendo um outro modo de vida, produzindo enfim, uma outra narratividade, nos deu a possibilidade de articular projetos terapêuticos que correspondam a realidade para além do que já está prescrito.
Referências:1-BARTHES, R. A Aventura Semiológica. Tradução de Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
2-EPS EM MOVIMENTO. Uma conversa sobre fontes narrativas. 2014. Disponível em:<http://eps.otics.org/material/entrada-textos/uma-conversa-sobre-fontes-narrativas-1/>Acesso em: 08 maio

Palavras Chave

Narrativa, encontro, memória

Area

Outros

Autores

Edith Lucia Mendes Lago, Ana Lúcia Abraão da Silva, Ândrea Cardoso de Souza, Marly Ann Menezes Freitas, Maria Alice Bastos Silva