Datos del trabajo


Título

ABORDAGEM QUALITATIVA EM SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL

Introdução

A Segurança Alimentar abrange conceitos relacionados à disponibilidade de alimentos tanto em caráter qualitativo como quantitativo sem comprometer outras necessidades básicas das pessoas. É possível perceber que este conceito é bastante importante no que diz respeito aos direitos humanos e as condições de saúde. Vale destacar que a segurança alimentar também considera os aspectos socioculturais e ambientais de cada população, neste contexto, estar em condição de segurança alimentar também remete as relações sociais que envolvem o ato de comer e não somente a disponibilidade de alimentos, que abrange de forma interdisciplinar as práticas e saberes, cidadania e direitos humanos¹.

Objetivos

Busca-se, por meio deste trabalho fazer uma reflexão sobre a contribuição da abordagem qualitativa para a compreensão do fenômeno segurança alimentar e nutricional de forma mais ampla.

Desenvolvimento

As pesquisas de segurança alimentar realizadas no Brasil, são geralmente baseadas na Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA). Com este instrumento é possível fazer uma avaliação objetiva da segurança alimentar familiar, e assim demostrar e diagnosticar as populações vulneráveis. Como a escala é utilizada de forma quantitativa para avaliar uma situação social, torna-se importante a associação com estudos de abordagem qualitativa permitindo, dessa forma uma analise mais aprofundada da segurança alimentar. Destaca-se aqui que a EBIA avalia a percepção das famílias com questões relacionadas a disponibilidade de alimentos no domicílio que vão desde a preocupação com a falta do alimento até a escassez e fome de fato, porém atribui respostas categóricas “sim” e “não”. Mas ao considerar a alimentação como um fator multidimensional, respostas fechadas podem reduzir estes dados ao percentual de famílias em situação de Insegurança Alimentar, não traduzindo o fenômeno na sua complexidade. A concepção de alimentação saudável pode apresentar dimensões simbólicas que são representadas quando, por exemplo, o alimento saudável é expresso como alimento “forte” que propicia saciedade e fornece energia para o dia a dia e para o trabalho². Por outro lado, também há representações sobre a qualidade alimentar quando se pode incrementar frutas, verduras e legumes diariamente na alimentação². Percebe-se diante disso, a diversidade de percepções que definem a qualidade do alimento. Famílias vulneráveis associam à qualidade do alimento a renda e a possibilidade de comprar alimentos “diferentes”, neste sentido, alimentação de qualidade pode estar relacionado à variedade e palatabilidade do que se consome e não necessariamente a qualidade nutricional, exemplo disso, é o desejo de realizar mudanças do café da manhã com a inclusão de produtos como a “margarina”², alimento considerado de qualidade por algumas famílias. Ainda há a associação da qualidade do alimento com o fato de não passar fome. Ao considerar a fome, estado mais grave de insegurança alimentar, a EBIA representa esses dados por meio da redução ou escassez de alimentos no contexto familiar. Em estudos qualitativos percebe-se a associação com o sentimento de dor física causado pela falta de alimentação e também a dor emocional representado pelo sofrimento psicológico por nao possuir o alimento. Outra percepção relacionada a insegurança alimentar grave é dada quando o indivíduo relaciona a fome com o tempo em permanece sem alimentar-se, por exemplo, “fome é ficar 3 a 4 dias sem comer nada”. Assim percebe-se que a fome, é sentida e vista de diferentes maneiras por cada indivíduo sendo representados tanto pelo sentimento fisiológico da falta do alimento quanto pelo tempo em que permanece sem alimentar-se²,³. A segurança alimentar e nutricional pode estar, inclusive, relacionada com a possibilidade de dividir o alimento com as demais pessoas. Ter alimento não significa alimentar somente sua família, mas também ter condições de dividi-lo com quem precisa, representando uma relação social e afetiva com o grupo populacional que se pertence. Ao refletir sobre as relações sociais envolvidas nas práticas alimentares e que estar em segurança alimentar vai além de ter alimento no domicílio, percebe-se que a qualidade alimentar ganha um sentido amplo. Destaca-se, também, os povos tradicionais indígenas4, que associam o estado de segurança alimentar a disponibilidade de terras para o cultivo de alimentos e de instrumentos que possibilitem a colheita, a caça e a pesca. Assim a segurança alimentar também esta associada às formas de produção e distribuição que permitem o acesso e a disponibilidade de alimentos.

Considerações Finais

A partir do exposto nota-se que os dados produzidos por estudos qualitativos são capazes de dar visibilidade para a complexidade do fenômeno da insegurança alimentar, sendo ele multifatorial e com diferentes percepções e entendimentos de acordo com cada grupo populacional. A abordagem qualitativa nos estudos sobre alimentação pode contribuir para um melhor entendimento dos condicionantes da segurança alimentar e nutricional nos diversos grupos populacionais.

Referências
1. Brasil. Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional - Lei 11.346 de 15 de setembro de 2006.
2. Uchimura, KY, Bosi, MLC, Lima, FEL, Dobrykopf, VF. Qualidade da Alimentação: percepções de participantes do programa bolsa familia. Ciência e Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, 17(3):687-694, 2012.
3. Segall-Corrêa, AM, Marin-Leon, L. A Segurança Alimentar no Brasil: Proposição e Usos da Escala Brasileira de Medida da Insegurança Alimentar (EBIA) de 2003 a 2009. Segurança Alimentar e Nutricional, Campinas, 16(2): 1-19, 2009
4. Yuyuma, LKO, Py-Daniel, V, Ishikawa, NK, Medeiros, JF, Kepple, AW, Segall-Corrêa, AM. Percepção e compreensão dos conceitos contidos na Escala Brasileira de Insegurança Alimentar, em comunidades indígenas no estado do Amazonas, Brasil. Rev. Nutr., Campinas, 21 (Suplemento):53s-63s, 2008.

Palavras Chave

Pesquisa qualitativa; Grupos populacionais; Alimentação.

Area

Alimentação e Nutrição

Autores

Marilene Cassel Bueno, Eliziane Nicolodi Francescato Ruiz