Datos del trabajo


Título

GRAVIDEZ GEMELAR E LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO AINDA SINTOMÁTICO: PODE DAR CERTO?

Introdução

A maternidade costuma ser almejada por algumas mulheres e evitada por outras. Vários podem ser os motivos para uma mulher não querer vivenciar uma gestação: condições socioeconômicas, estado civil, faixa etária, estudo, aparência física, trabalho, entre tantos outros. No caso de uma mulher com lúpus eritematoso sistêmico, uma doença inflamatória crônica auto-imune, outros motivos podem se tornar prioritários na decisão de evitar uma gravidez: o receio da ocorrência de abortos, da reativação da doença, de complicações fetais e do óbito materno. Ainda existem muitas controvérsias sobre a gestação e a atividade da doença. As chances de êxito têm aumentado muito nos últimos anos.

Objetivos

Relatar uma experiência de gravidez gemelar associada ao lúpus eritematoso sistêmico ainda em atividade.

Método

Trata-se de um estudo qualitativo baseado em um recorte de uma pesquisa mais abrangente, intitulada “ser mulher e viver com lúpus”. É narrada uma experiência gestacional vivenciada por uma associada ao grupo Lúpicos Organizados da Bahia, em Salvador. A participante concedeu entrevistas não diretivas, no período de outubro a dezembro de 2017, em sua residência. Sugeriu-se falar sobre as lembranças a respeito do pré-natal e parto, incluindo as dificuldades, sentimentos e expectativas acerca do binômio lúpus-gestação. Os relatos foram gravados, analisados e transcritos, garantindo a forma dos discursos. Os critérios de inclusão adotados para a seleção da participante da pesquisa foi: ter a idade superior a 18 anos; ter filhos após o diagnóstico de lúpus ter sido confirmado; demonstrar condições clinica e emocionais para participar da entrevista; ter vivenciado pelo menos uma gestação com o lúpus ainda ativo; consentir em participar da pesquisa, após explicação do Termo de Consentimento Livre Esclarecido. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com seres Humanos da Universidade do Estado da Bahia, com CAAE 69333317000000057.

Resultados

A participante narrou de forma espontânea, utilizando-se de suas lembranças, os fatos acontecidos em sua vida desde a sintomatologia e o diagnóstico da doença, perpassando pela descoberta da gravidez e os tempos do pré-natal e parto. Sobre a doença, lembrou: “Descobri que tinha lúpus em 1999, com 28 anos, quando tive uma crise renal grave e precisei ser internada. Naquela época, ninguém sabia direito o que eu tinha. Um médico suspeitou e mandou eu fazer os exames. No início, tinha muita irritação na pele, sentia muitas coceiras e apareciam placas no corpo como se fosse alergia. Também sentia dores nas articulações. Quando tive o diagnóstico, não sabia o que era. Somente com o tempo, fui entendendo. Na família tem outros casos: uma irmã, um primo e um tio. Minha irmã está tendo uma crise (preocupação). Ela não tem filhos porque teve medo e ficou adiando. A narrativa revelou variados sintomas físicos e as dificuldades encontradas para o diagnóstico. Também é mencionado o pouco conhecimento sobre a doença e a lembrança de outros familiares com lúpus, como o caso da irmã. Algumas mulheres lúpicas decidem não ter filhos, devido ao risco de uma exacerbação. Sobre os tempos da gravidez, relata:“Fiquei grávida um ano depois de ter descoberto o lúpus, aos 29 anos. A gravidez foi desejada, mas não foi planejada. Eu não podia usar anticoncepcional e tentava fazer tabelinha para me prevenir (risos) [...] ainda me encontrava sintomática, com muita reação alérgica e coceiras, mas sem complicações renais e dores nas articulações. Fazia tratamento com hidroxicloroquina e prednisona. O médico falava que eu não podia engravidar. Logo que se descobriu a gravidez, o meu reumatologista interrompeu o uso da cloroquina e manteve a prednisona, numa dose menor. Eu fiz um tratamento acompanhado pelo obstetra e pelo reumatologista. Ambos consideraram minha gravidez de alto risco. Esses médicos não tinham contato um com o outro, mas os exames que passavam eram praticamente os mesmos. O pré-natal foi de mês em mês e depois passou para 15 dias de intervalo. Minha gravidez foi toda tranquila. O lúpus não se manifestou nessa época. Cheguei até a esquecer que tinha (risos) [...] eu queria muito ter um filho. Com 32 semanas, houve a ruptura de uma das bolsas, depois de eu ter feito uma longa caminhada. Procurei um hospital, mas não tinha vaga. Tive que ir para outro e lá, esperar. A segunda bolsa foi rompida pela médica e o meu segundo filho nasceu 16 minutos depois, também de parto normal, pois tive contrações; ele era maior que o primeiro. “Como eram prematuros e o primeiro teve um probleminha de respiração, tive que ficar com eles na maternidade por 20 dias”. Neste relato, constata-se a presença de alguns sintomas e a utilização de fármacos na época de confirmação da gravidez. Os efeitos colaterais das drogas rotineiramente utilizadas são menos deletérios para a gravidez, do que a doença em atividade. Em uma das falas, nota-se uma despreocupação com o lúpus e uma grande felicidade em ser mãe como no trecho: “Cheguei até a esquecer que tinha lúpus (risos) [...] eu queria muito ter um filho”. Percebe-se na narrativa, um estado de intensa satisfação com a gravidez, sem traços de estresse. No caso relatado, a prematuridade foi espontânea (ruptura de membranas com 32 semanas) e houve dificuldade de atendimento ao parto na rede hospitalar; não sendo imediato. Estas situações poderiam ter causado complicações materno-fetais.

Considerações Finais

Acreditamos que o binômio lúpus-gestação pode ter sucesso, independente do tipo de gravidez (múltipla ou única). Entretanto, muitas variáveis devem ser consideradas (a atividade do Lúpus e sintomatologia na concepção, o tipo de atendimento no pré-natal e o estado emocional da gestante). Somos de opinião que a prematuridade aconteceu devido aos dois fatores de riscos envolvidos na concepção: a gemelaridade e o lúpus. É importante também mencionar, o intenso bem-estar emocional da colaboradora ao vivenciar sua gravidez e vislumbrar a possibilidade de ser mãe. Parece-nos que o emocional teve grande contribuição no desfecho favorável da gestação. Cremos que o relato desta experiência possa contribuir significativamente para a quebra de tabus ainda existentes sobre a relação do lúpus com a gravidez, uma vez que foi de encontro às probabilidades de insucesso.

Palavras Chave

Lúpus Eritematoso Sistêmico; Gravidez; Gemelaridade

Area

Doenças crônicas/condições crônicas

Instituciones

Centro Universitário Jorge Amado - Bahia - Brasil, Universidade do Estado da Bahia-UNEB - Bahia - Brasil

Autores

Lidia Cristina Villela Ribeiro, Erica de Jesus Miranda, Marcos Lázaro da Silva Guerreiro