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Título

A PERCEPÇAO DE PROFISSIONAIS DA APS SOBRE A ADOLESCENCIA E A VIOLENCIA ENTRE PARCEIROS INTIMOS ADOLESCENTES: UMA ANALISE DE GENERO

Introdução

A violência entre parceiros íntimos (VPI) pode ser compreendida como manifestação de relações de dominação fundadas nas iniquidades de gênero. Tem prevalência internacional entre 21,8 a 60%. No Brasil, comprovou-se a prevalência de 86,9% de vitimização e 86,8% de perpetração de alguma forma de violência durante relacionamentos íntimos na adolescência. Para os adolescentes, a violência é um fenômeno que permeia a expressão e a vivência da sexualidade, determinando vulnerabilidades, a exemplo do sexo não seguro, uso de drogas, tentativas de suicídio e a conquista de direitos sexuais e reprodutivos. A Atenção Primária à Saúde (APS) constitui campo privilegiado para captar e intervir no fenômeno. Contudo, atualmente as práticas de saúde direcionadas aos adolescentes não são priorizadas e têm tido pouca resolutividade. Este estudo justifica-se pela necessidade de conhecer melhor a realidade acerca do fenômeno.

Objetivos

Conhecer, analisar e compreender a percepção de profissionais da saúde a respeito da adolescência e da violência entre parceiros íntimos na adolescência, à luz da categoria gênero.

Método

Estudo exploratório e descritivo, de abordagem qualitativa, baseado na teoria da Intervenção Práxica da Enfermagem em Saúde Coletiva (TIPESC), ancorada no materialismo histórico e dialético. A TIPESC propõe um modo sistematizado para captação, interpretação, intervenção e reinterpretação dos fenômenos sociais associados ao processo saúde-doença, considerando suas expressões nas dimensões singular, particular e estrutural da realidade objetiva. Nesta pesquisa, adotou-se o recorte analítico de gênero, categoria fundamentada na diferença entre os sexos, como elemento indispensável das relações sociais e como primordial para a construção de significados sobre as relações de poder entre os sujeitos sociais. Os dados foram coletados em duas sessões de três horas de uma Oficina de Trabalho Crítico-emancipatória (OTC) com profissionais vinculados à APS dos municípios de Curitiba e São Paulo. A OTC é um processo de construção coletiva do conhecimento, pautado na metodologia da problematização, na educação crítico-emancipatória e nas emoções como construtoras do conhecimento. Os dados qualitativos foram analisados segundo Bardin para a emergência das categorias empíricas. Foram também analisados dados visuais produzidos pelos participantes durante a primeira sessão da OTC. Esses dados compuseram parte do corpus do material empírico e assumiram papel complementar aos dados textuais, fruto da transcrição das falas dos participantes. Foi utilizado o Software WebQDA como apoio à análise qualitativa devido à sua relevância como suporte à organização para a análise de dados não numéricos e não estruturados (textos, áudios, vídeos e imagens). Esse software possibilita a colaboração entre os pesquisadores, a seleção e a organização das categorias empíricas e a descrição dos resultados, a partir da pergunta de pesquisa. Constitui importante ferramenta para armazenamento dos dados. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo.

Resultados

Participaram 35 profissionais que atuavam na APS, 25 do município de Curitiba e 10 do município de São Paulo. A maioria era do sexo feminino (n=19). Em relação à categoria profissional destacaram-se as enfermeiras (n=11), cirurgiões dentistas (n=4) e médicos (n=4). Os dados foram submetidos à análise de conteúdo e, posteriormente, classificados e agrupados em códigos árvore, conformando as categorias empíricas: "Um olhar sobre a adolescência: a percepção dos profissionais de saúde sobre o conceito" e "A violência entre parceiros íntimos adolescentes em tela: percepções e reprodução social". Na primeira categoria, os relatos convergiram para uma caracterização estigmatizada do adolescente. Destacaram, majoritariamente, características consideradas negativas, como consumo de bebida alcóolica, rebeldia e mudanças de visual. Esses entendimentos - e outros estigmatizantes, como ausência de preocupações, preguiça e impulsividade - podem indicar tanto um distanciamento do interesse pela compreensão do modo de vida do adolescente, quanto uma visão carregada de preconceitos, que, em última instância, determina o distanciamento das práticas voltadas para as reais necessidades do sujeito adolescente. A reiteração de papéis de gênero que subjugam os comportamentos, sobretudo os das meninas, foi alarmante e se expressaram em ambos os cenários, Curitiba e São Paulo. Na segunda categoria, a vivência de relacionamentos afetivos e sexuais foi citada destacando a singularidade dos participantes e descrita sob um viés de gênero. Este viés se refere à idealização do amor romântico pelas mulheres e a exacerbação do vigor sexual pelos homens. Percebeu-se que a VPI entre adolescentes é característica dos territórios investigados e há, por parte dos profissionais, uma perigosa tentativa de atribuir o fenômeno a "fatores" e "riscos", embora esta visão sabidamente é insuficiente para explicar a sua complexidade.

Considerações Finais

Neste estudo, o cenário e a categoria profissional pareceram não interferir nas percepções dos sujeitos sobre a adolescência, a vivência de relacionamentos de intimidade (afetivos e ou sexuais) e a VPI adolescente. Essas percepções mostraram-se baseadas nos estereótipos do senso comum, pautadas em normas de gênero determinadas pelo território em que profissional e adolescentes estão inseridos. Em relação ao método, foram seguidas as duas primeiras etapas da TIPESC: captação e interpretação da realidade objetiva. A utilização do WebQDA permitiu análise de textos e figuras, armazenamento online, organização e localização dos dados, benefícios que conferiram rigor à pesquisa.

Palavras Chave

Adolescente. Violência. Violência Doméstica. Gênero e Saúde.

Area

Gênero, Sexualidade e Saúde

Instituciones

Escola de Enfermagem da USP - São Paulo - Brasil

Autores

Rafaela Gessner Lourenço, Rosa Maria Godoy Serpa Fonseca