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Título

O CINEMA COMO FERRAMENTA METODOLOGICA PARA REFLEXAO SOBRE A DIMENSAO SUBJETIVA DA COMIDA

Introdução

A alimentação é um direito social humano e uma necessidade fisiológica básica. A ingestão de alimentos fornece nutrientes essenciais para manutenção e equilíbrio do organismo, sendo o ato de comer fundamental para sobrevivência humana1. Assim, além de sua dimensão biológica, a alimentação é constituída de elementos socioculturais, sendo considerada como um complexo sistema simbólico de significados sociais, sexuais, políticos, religiosos, éticos, estéticos dentre outros2. Na alimentação humana, natureza e cultura estão interligadas, não existindo separadamente alimentos, nutrientes e comida, pois se comer é uma necessidade fisiológica básica, o quê, quando e com quem comer são aspectos que constituem o complexo sistema simbólico que atribui significados ao ato alimentar3,4. A comida é símbolo da cultura, da memória, de padrões familiares e, também, da identidade de um povo. No processo de construção, afirmação e reconstrução dessas identidades, surgem cozinhas diferenciadas, com maneiras singulares de se alimentar, das quais as comidas típicas são elementos constitutivos e fazem parte de um discurso que expressa um pertencimento e, assim, uma identidade4. Essa identidade está simbolizada no conjunto de práticas e modos de fazer, de usar utensílios, bem como nos modos de comer, que revelam a cultura em que cada um está inserido3,5. De acordo com Mintz (2001)5, mesmo que os hábitos alimentares mudem totalmente na vida adulta, a memória do primeiro aprendizado alimentar permanece para sempre na consciência. Marcel Proust, autor do livro Em busca do tempo perdido, narra suas recordações de Combray despertadas a partir do sabor da madeleine7. Assim, um alimento pode evocar a memória e despertar lembranças de um momento outrora vivido8. A relação estabelecida entre comida e memória fundamenta-se na ideia de que a comida tem uma dimensão comunicativa9. Isto é, ela desempenha papel estruturante e também estruturado, operando como linguagem e expressando significados e emoções, respectivamente. Parafraseando Mintz (2001)5, o comportamento em relação à comida está diretamente ligado ao sentido de nós mesmos e à nossa identidade social. Existem muitas maneiras de olhar a relação entre comida, memória e identidade, e o cinema é uma delas. O cinema é uma ferramenta metodológica que nos fornece rico material formado por elementos como fotografia, música e arte cênica. Este é uma construção da representação da realidade e das relações sociais universais. Assim, o cinema tem um papel relevante como lugar-de-olhar, para robustecer as discussões de temas como os aspectos simbólicos da alimentação. A partir dessa perspectiva, destacaremos algumas cenas do filme Lion onde esses aspectos são evidenciados, na tentativa de contribuir para reflexão sobre a subjetividade da comida e sua relação com memória e identidade. Lion conta uma história de busca pela origem biológica e identidade, na qual a comida está presente remetendo a lembranças da infância do protagonista.

Objetivos

Refletir a subjetividade da comida e sua relação com memória e identidade a partir do filme Lion.

Desenvolvimento

Foi realizada em duas etapas: uma revisão narrativa acerca da dimensão subjetiva da alimentação e também uma análise fílmica, esta divida em decupagem e interpretação dos elementos decompostos. O enfoque desta análise se baseou na composição poética10. A primeira sequência apresenta o protagonista Saroo, um menino de cinco anos que vive com o irmão mais velho, a irmã e a mãe em um contexto de pobreza extrema na Índia. Ainda durante a primeira sequência, temos a cena de Saroo com seu irmão comprando leite ao lado da barraca de jalebis, um doce típico da Índia. Saroo diz ao irmão que queria jalebis e Guddu sorri e responde que um dia ele comprará jalebis (Cena iniciada em 00:04m:20s). O jalebi é um elemento constitutivo da identidade de Saroo, representando um símbolo da cultura e fazendo parte da sua infância. A sequência seguinte releva a problemática da história, quando Saroo se perde do irmão e acaba indo parar em Calcutá, a quilômetros de distância. Lá o menino é adotado por um casal australiano, e vai morar na Austrália. Vinte anos se passam e Saroo se muda da casa dos pais para fazer faculdade de hotelaria. Apesar de Saroo ter crescido em uma nova família, com hábitos e costumes totalmente diferentes, falando uma nova língua e em um novo país, ele continua lembrando-se de momentos vividos em sua infância com o irmão. Assim como a madeleine de Proust, os jalebis representam a cultura da cidade natal e também a memória do primeiro aprendizado alimentar de Saroo. Nesse caso, o jalebi é mais que uma comida; é símbolo da identidade e da origem de Saroo. O fenômeno ocorrido ao sentirmos determinado sabor que imediatamente desencadeia uma conexão emocional com nosso passado. Assim, Saroo decide buscar sua origem e acaba encontrando o lugar onde passou o início da infância e sua família biológica.

Considerações Finais

Apesar de não ser um filme gastronômico, Lion traz cenas de comensalidade que realçam os aspectos simbólicos da alimentação. Assim, entendendo que o cinema é uma metáfora da realidade e das relações sociais, observamos que determinadas comidas tem potencial para desencadear sentimentos e emoções em um indivíduo a partir de seu cheiro, seu aroma e do que ela representa. Enquanto para um indivíduo uma comida é só uma comida, para outro essa mesma comida pode representar parte de sua história, de sua origem, de sua cultura. Concluímos que o cinema, a partir da análise fílmica, é uma importante ferramenta para contribuir para compreensão da dimensão subjetiva da comida.

Palavras Chave

cinema; comida; memória; identidade cultural

Area

Alimentação e Nutrição

Instituciones

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - Rio de Janeiro - Brasil

Autores

BIANCA CRISTINA CAMARGO MARTINS, MARIA CLÁUDIA DA VEIGA SOARES CARVALHO, FRANCISCO ROMÃO FERREIRA