Datos del trabajo


Título

E DIFICIL CASAR SEM ANTES SEPARAR-SE: UM ESTUDO DE CASO

Introdução

O casamento é um modelo adulto de intimidade, pertencimento e individuação. Casar é uma das tarefas mais difíceis do ciclo vital. Nessa etapa da vida, cada cônjuge deve separar-se da sua família de origem para formar seu próprio núcleo familiar. Entretanto, estabelecer essa fronteira é uma tarefa que, frequentemente, torna-se problemática. Fronteiras deficientes trazem como consequências a intrusão demasiada dos familiares na conjugalidade e o medo dos casais em estabelecer limites ou conexões funcionais. Para o casal com filhos torna-se necessário estabelecer limites não apenas com a família extensa, mas também entre os subsistemas conjugal, parental e fraternal. Tal separação, quando adequada, garante a autonomia da família e de seus membros. Fronteiras difusas, entretanto, restringem a independência e a autonomia, produzindo o emaranhamento. A incapacidade de estabelecer tais fronteiras e desenvolver um relacionamento de casal indica que os cônjuges ainda estão emaranhados com suas famílias de origem. Além disso, no início do casamento podem surgir conflitos sobre diversos temas, sendo que outra tarefa característica dessa fase é desenvolver um modelo de comunicação funcional. Essa forma de diálogo caracteriza-se por ser direta, clara, objetiva, onde diferentes opiniões coexistem, as emoções são expressas, o poder apresenta-se de forma dividida e os conflitos conseguem ser resolvidos através da negociação. Já na comunicação disfuncional os parceiros fazem uso de frases incompletas, linguagem pouco explícita, mudanças bruscas de assunto, tentativas de adivinhar a intenção do outro e repetição da mesma briga, pelos mesmos temas, porém sem solucioná-los. A disfuncionalidade não reside no fato de ter conflitos, mas na incapacidade de se comunicar funcionalmente para resolvê-los. Durante o ciclo de vida familiar, outras diversas tarefas ainda se impõem aos companheiros, dependendo da fase em que se encontram. Para o casal sem filhos as principais tarefas são, além de estabelecer fronteiras e desenvolver uma comunicação funcional, organizar a rotina diária e dividir o trabalho doméstico. Para o casal com filhos pequenos, por sua vez, torna-se necessário assumir novos papéis (de pai e mãe), surgindo conflitos quanto à educação da prole e diminuindo o foco sobre a relação conjugal romântica. Os problemas surgem na transição de uma fase para a outra, quando a família não consegue se adaptar às novas circunstâncias.

Objetivos

Através de um estudo de caso, essa pesquisa teve como objetivos identificar as dificuldades de separação da família de origem e as disfuncionalidades da comunicação conjugal, bem como as dificuldades em realizar a transição de uma fase do ciclo vital para a outra.

Método

A coleta de dados ocorreu ao longo de seis sessões de terapia de casal, realizadas na clínica-escola de uma faculdade do Rio Grande do Sul. Foram utilizados como instrumentos a Entrevista Familiar Estruturada e o Genograma. O casal participante possuía entre 30 e 35 anos e uma renda média de R$600,00. Nesse estudo, os parceiros são chamados por nomes fictícios: Fernanda e Eduardo. Os dados obtidos foram analisados com base na teoria sistêmica.

Resultados

Fernanda e Eduardo estavam em uma relação há dois anos e residiam junto há seis meses, na casa da mãe de Eduardo. Fernanda possuía um filho de um relacionamento anterior, o qual residia com ela, seu atual parceiro e sua sogra. Já Eduardo, possuía uma filha de um relacionamento anterior, a qual residia com a avó materna e o visitava a cada quinze dias. A pesquisa indicou que os cônjuges não conseguiam estabelecer limites adequados entre a conjugalidade e suas famílias de origem, mantendo fronteiras difusas, restringindo a independência e produzindo o emaranhamento. Era permitido que as mães de Eduardo e Fernanda opinassem sobre a relação conjugal, sobre as brigas do casal e sobre a forma como os parceiros educavam e se relacionavam com seus filhos. A intromissão também ocorria diretamente na relação com os netos, sendo que as avós desautorizavam o casal na frente da prole. A falta de limites claros se fazia presente, ainda, com o subsistema parental, uma vez que era permitido ao filho de Fernanda participar das brigas do casal, defendendo sua mãe. Os parceiros também mantinham uma comunicação confusa, disfuncional e não resolutiva dos conflitos, que os mantinha aprisionados nesse padrão de funcionamento. Durante as brigas, desviavam de um assunto para outro e repetiam a mesma discussão, pelos mesmos motivos, porém sem realizar progressos. Começavam brigando sobre as tarefas domésticas e partiam para acusações e julgamentos sobre os comportamentos do parceiro e sobre sua família. Por fim, verificou-se que Fernanda e Eduardo não conseguiram passar pelas fases de conquista e independência em relação à família de origem para posterior união, pois ambos moravam na casa de suas mães e, mesmo após casados, continuaram dependendo financeiramente destas. Quando iniciaram o relacionamento, assumiram responsabilidades características de outras fases, como lidar com o declínio da saúde dos avós e educar os filhos pequenos. Também não conseguiram comprometer-se com o novo sistema conjugal que formaram.

Considerações Finais

Conclui-se que os problemas encontrados pelo casal ao longo de sua história não foram resolvidos e, por esse motivo, acabaram se perpetuando. Tais fatos indicaram dificuldade do sistema em se adaptar, separar-se da família de origem, comunicar-se funcionalmente e, efetivamente, casar. Acredita-se que a principal contribuição dessa pesquisa reside no fato de configurar-se como um exemplo prático do que acontece a um casal quando este não consegue se adaptar às diferentes fases do ciclo vital. Como limitação pode-se ressaltar o fato de os parceiros não conseguirem continuar pagando o serviço prestado na clínica-escola, tendo desistido do tratamento na sexta sessão. Tal desistência impossibilitou a continuação do trabalho e a ocorrência de avanços terapêuticos mais profundos na conjugalidade.

Palavras Chave

Casal, Emaranhamento, Comunicação, Família

Area

Saúde da Família

Instituciones

IMED - Rio Grande do Sul - Brasil

Autores

MAYARA QUEVEDO RIBEIRO, CAMILA BORGES, CLAUDIA MARA BOSETTO CENCI