Datos del trabajo


Título

HOMENS E A VIOLENCIA CONTRA MULHERES: A REPRESENTAÇAO DA CRONICIDADE

Introdução

A violência contra as mulheres pode ser considerada uma condição crônica e caracteriza-se como um problema social e de saúde pública, tendo em vista sua incidência e os efeitos prejudiciais que ela ocasiona(1). Em decorrência das relações sociais e familiares que se estabelecem entre o sexo feminino e masculino, as mulheres acabam sendo as principais vítimas de violência. Neste sentido, estudar as representações sociais dos homens autores de violência contra a mulher sobre este tipo de violência pode ser um importante instrumento para os profissionais de saúde, por auxiliar na compreensão das diversas formas de agir diante desse caso, além de contribuir para o planejamento do cuidado.

Objetivos

Apreender as representações sociais da violência contra as mulheres na perspectiva de homens autores.

Método

Trata-se de uma pesquisa qualitativa alicerçada na Teoria das Representações Sociais(2). O local foi a Delegacia Especial da Mulher de uma cidade do interior do Paraná. Os participantes foram 12 homens acusados por prática de violência contra as mulheres que se ajustaram aos seguintes critérios de inclusão: idade entre 18 a 59 anos e ter sido intimado para prestar depoimento em razão de acusação de prática de violência contra sua companheira ou ex-companheira. A coleta de dados foi realizada pela primeira autora no período de fevereiro de 2015 a abril de 2016. Ela ocorreu em uma sala privada na delegacia ou na universidade onde estavam presentes apenas entrevistador e entrevistado. Para a obtenção dos dados utilizou-se o método de entrevista focal com a seguinte questão estímulo: fale-me sobre sua vida desde a infância, descreva suas relações com familiares, amigos e parentes e os aspectos marcantes até hoje, dando ênfase nas relações familiares. As entrevistas foram gravadas com dispositivo eletrônico e tiveram duração média de 26 minutos. Para a análise dos dados, elas foram transcritas, codificadas e analisadas pelo software Interface de R pourles Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaire e, para apresentação dos resultados, utilizou-se a Classificação Hierárquica Descendente que deu origem a quatro categorias. Neste trabalho será apresentada somente uma categoria, a qual representa a cronicidade da violência. Esta pesquisa faz parte de um projeto de doutorado e obedeceu aos requisitos éticos da Resolução 466/2012 e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos sob parecer 896.310.

Resultados

Em relação ao perfil dos participantes, 58,3% eram adultos jovens (idade entre 20-40 anos), 83,3% tinham um a três filhos, 41,7% conviviam com a parceira por mais de 12 anos. Sobre o tipo de violência, 41,7% foram acusados por violência moral e 75% não tinham acusações anteriores. A categoria elencada para este trabalho foi intitulada: “A violência entre as gerações na resposta para conflitos familiares”. Por meio da análise dos resultados foi possível verificar que a violência se configurou como alicerce das relações familiares desde a infância desses homens até a atualidade, demonstrando que estes vivenciavam a violência no contexto familiar, quando crianças, e que essa se propagou na vida adulta, conforme percebido nas seguintes falas:“Meu pai era carrasco para nós, batia e não tinha dó de bater” (ind 03); [...] “Lembro que meu pai, uma vez, pegou vários vidros de esmalte da minha mãe, abriu uma janela e jogou para fora [...] meu pai não queria que ela andasse com as unhas pintadas” [...](ind 12); “Namorei ela quase 5 anos, a relação era boa, [...] uma discussão mais calorosa teve já no começo até o terceiro ano, aquela coisa de adolescente [...] fui na casa da vó dela, e estava toda a família, [...] joguei todas as coisas que ela tinha me dado, [...] isso no terceiro ano”. (ind 11); “Nunca tivemos uma relação, meu pai batia, ele era ruim, batia na minha madrasta, batia em mim, ele era ruim mesmo. [...] Um tanto quanto bravo” (ind 09); [...] Mas na verdade, quem mais extrapolou para o ciúme, fui eu, porque ela tinha muito mais ciúme de mim, do que eu dela, porque na verdade, depende da confiança da pessoa [...] eu acho que é isso. [...] O ciúme bate na hora. [...] se você tem confiança em mim, não precisa você ter ciúme (ind 02). A violência pode ser considerada uma condição crônica de saúde repassada entre gerações(3), fato percebido nas falas dos participantes, ao afirmarem que a violência os acompanhou durante toda a vida, não só em relação às mulheres. Os participantes foram expostos, durante suas vidas, à violência física, psicológica, patrimonial e moral. Uma análise multivariada identificou que o testemunho da violência parental é um fator de risco para a violência contra a mulher, reforçando a ideia da transmissão intergeracional(3). Outros autores também afirmam que a violência sofrida na infância é recorrente e transcorre de geração em geração, sendo que a pessoa que sofreu algum tipo de violência quando criança tem maior propensão de se tornar um agressor na idade adulta, como forma de enfrentamento de conflitos e resolução de problemas(4). Em Trujillo, no Peru, um estudo demonstrou que as mulheres vítimas, percebiam a violência doméstica como uma doença crônica que impacta a vida individual e coletiva das pessoas(5).

Considerações Finais

Percebeu-se que os homens são influenciados pelo passado e repassam a violência vivenciada no contexto familiar, sendo possível visualizar por meio dos depoimentos a cronicidade da violência.

Palavras Chave

Violência contra a mulher; Homens; Violência de gênero.

Area

Doenças crônicas/condições crônicas

Instituciones

Universidade Federal do Paraná - Paraná - Brasil

Autores

Alexandra Bittencourt Madureira, Maria de Fátima Mantovani, Ângela Taís Mattei da Silva, Juliana Perez Arthur, Pollyana Bahls de Souza, Vanessa Vanessa Piccinin Paz