Datos del trabajo


Título

A percepção dos médicos sob a violência obstétrica e institucional

Introdução

O parto é um evento que, em todas as sociedades, sempre foi cercado de valores culturais, sociais, emocionais e afetivos. Tradicionalmente restrito ao universo feminino e ao ambiente domiciliar, foi a partir da institucionalização da assistência, na metade do século XX, que a medicina adentrou este campo cuja dinâmica tinha pouco conhecimento.

Objetivos

Avaliar a percepção de médicos obstetras prestam assistência ao parto em uma maternidade pública e humanizada sobre a violência obstétrica ou institucional nas dimensões individual e institucional .

Método

Pesquisa com base epistemológica qualitativa, realizada em uma maternidade pública, humanizada e de ensino, no sul do Brasil, no período de fevereiro a setembro de 2016. O termo violência obstétrica (VO) foi utilizado como sinônimo de violência institucional ( VI), ampliando a linguagem afim de não criar desconforto aos entrevistados que não apreciam a denominação VO. VI foi uma denominação utilizada em estudos anteriores, ao referir-se à VO que acontece dentro das instituições de saúde , porém não são sinônimos; VO se posiciona como uma forma de VI no parto, mas pode acontecer dentro ou fora de uma estrutura maior, considerada “instituição” . A amostra foi intencional e representada por 23 médicos plantonistas do centro obstétrico ( dez profissionais não aceitaram ou não devolveram o instrumento de coleta de dados), obstetras e estudantes de pós graduação latu sensu,( médicos residentes em ginecologia e obstetrícia). A coleta de dados foi realizada por meio de um questionário, elaborado pelos autores, sendo composto por perguntas abertas e/ou fechadas ( respostas em escala de Likert), as quais foram distribuídas em dimensão individual, institucional e relação médico paciente, sendo as duas primeiras avaliadas nesse estudo. O instrumento foi validado por dois experts no tema, que analisaram a forma de apresentação e o conteúdo, relacionando estes elementos à capacidade da ferramenta de captar o fenômeno a ser estudado; as alterações sugeridas foram realizadas, sendo o instrumento aplicado em um piloto com cinco participantes, aos quais acharam o questionário extenso, mas não sugeriram alterações. As respostas as perguntas abertas foram transcritas, sendo realizada a pré análise por meio de leitura flutuante e do reconhecimento do material, seguida pela exploração do material empírico com recortes em unidades de registro e, por fim, o tratamento dos resultados e a interpretação inferencial. A análise dos dados foi pela técnica de análise de conteúdo, com a definição de categorias por aproximação temática, com saturação dos dados. A estatística descritiva contemplou as variáveis categóricas, descritas em números absolutos e em proporção e, as contínuas, em média e desvio padrão (DP). O projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da instituição.

Resultados

Os 23 participantes são médicos obstetras (16 especialistas em ginecologia e obstetrícia, e 7 em processo de formação), com idade entre 25 a 57 anos, sendo a maioria mulheres; 60% deles trabalham há mais de 20 anos na especialidade, e atendem, em média, 10 gestantes em trabalho de parto por semana.
Entre as três dimensões avaliadas, a relação humana foi a mais citada ( por 47% dos participantes), seguida pela individual e a institucional
Todos os profissionais entrevistados afirmaram ter conhecimento sobre o termo “violência obstétrica”, sendo que 78% consideraram a denominação ruim ou péssima, por estar relacionada a três situações: o termo induz a polêmica, culpabiliza o obstetra ou questiona a “bondade” do médico. Consideram o termo sensacionalista e se ofendem também com a culpabilização que envolve o obstetra, gerando medo, conflito e vulnerabilidade.
A dimensão individual ( ação) tem como enfoque a prática assistencial, e envolve procedimentos desnecessários, não embasados nas melhores evidências, relacionados a rotinas antigas e desatualizadas, ou , ainda, a atitudes já consolidadas na literatura como VO/VI , tais como agressão física, verbal, maus tratos e negligência. Nesse estudo , os participantes perceberam a negligência como uma forma comum de violência, e, em relação ao parto cirúrgico, relataram duas situações distintas: a primeira, quanto à não realização de cesariana a pedido da gestante , que é atendida no Sistema Único de Saude) e, no outro extremo, a realização de cesariana sem indicação, em mulheres que desejam o parto normal.
Na dimensão institucional ( condição ), é a instituição de saúde que ampara o exercício do profissional na assistência ao paciente , sendo responsável pela condição estrutural e material, bem como pela definição de regras e rotinas que protocolam o serviço. Entre os vários os fatores que estão relacionados aos aspectos institucionais que propiciam a ocorrência de VO/VI, a maior parte dos participantes acredita que, frequentemente, as condições de trabalho têm influência e/ou predispõem a sua ocorrência. Em relação à instituição em que foi desenvolvida a pesquisa, a maioria acredita que ela acontece pouco frequentemente ou raramente. Quando questionados sobre as situações institucionais que se relacionam com a ocorrência de VO/VI, relatam a falta de privacidade, de vagas e de rotina de analgesia no serviço ( com a negação de sua realização, mesmo quando indicada e solicitada pelos obstetras, e a recusa dos anestesistas em efetuar o procedimento) como as preponderantes, seguida pela sobrecarga de demanda. As situações relacionadas aos acompanhantes, como não permitir troca, e às regras e rotinas da instituição, que devem ser seguidas sem individualização, também foram vinculados a VO/VI pelos participantes.

Considerações Finais

A VO/VI é um fenômeno conhecido e reconhecido na percepção dos profissionais que participaram desta pesquisa, mas a nomenclatura desagrada aos profissionais, que criticam a forma como o obstetra é responsabilizado e a colaboração da mídia em polemizar o tema.
Na dimensão individual, a prática desatualizada e não embasada em evidências, bem como a negligência e as condutas influenciadas pela atual judicialização da medicina, foram questões relacionadas a VO/VI.
Quanto a institucional, as preponderantes foram a falta de vagas, de analgesia e de privacidade.

Palavras Chave

Violência Obstétrica. Violência Institucional. Parto Humanizado.

Area

Violências e Saúde

Instituciones

UFSC - Santa Catarina - Brasil

Autores

Maristela Muller Sens , Ana Maria Nunes de Faria Stamm