Datos del trabajo


Título

O ENVOLVIMENTO DO USUARIO DE DROGAS NO PROJETO TERAPEUTICO SINGULAR DE UM CAPSAD: A PROPOSIÇAO DE UMA FERRAMENTA DE CUIDADO

Introdução

Historicamente, os usuários de drogas foram submetidos a tratamentos em instituições hospitalares ou grandes ambulatórios que enfocavam a abstinência como a única alternativa de tratamento. Nesses espaços não havia a participação ativa desses usuários nas escolhas e decisões acerca do próprio tratamento. A partir da mudança de modelo assistencial, foram criados serviços como os Centros de Atenção Psicossocial para usuários de álcool e outras drogas (CAPSad) para tratar esses usuários. Esses serviços são substitutivos aos hospitais psiquiátricos e têm a participação do usuário como uma prerrogativa fundamental no seu tratamento, com o intuito de promover sua autonomia e reinserção social1. Para promover a organização das ações de assistência ao usuário de drogas nesses serviços preconizou-se o uso do Projeto Terapêutico Singular (PTS) como uma ferramenta de trabalho das equipes para traçar objetivos e metas de tratamento, identificar necessidades e interesses dos usuários, os recursos disponíveis no território, bem como o plano de ações e responsabilidades compartilhadas na sua execução. A elaboração e acompanhamento do PTS devem acontecer com a atuação do profissional-referência com o usuário e sua família, e desse profissional com toda a equipe, por meio de discussões e estudos do caso2. No entanto, observa-se na prática dos serviços que os usuários quase nunca têm espaço de discussão e redefinição do próprio tratamento, ficando as principais decisões centradas apenas nos profissionais. Os resultados deste estudo podem contribuir substancialmente para a reflexão acerca do processo de trabalho de equipes de CAPS-ad, favorecendo a transformação de práticas assistenciais em saúde que respeite as necessidades e desejos do maior interessado no cuidado em saúde, o próprio usuário, qualificando assim a assistência no CAPSad junto à rede territorial.

Objetivos

Esta pesquisa tem como objetivos descrever o envolvimento do usuário de álcool e outras drogas e a utilização projeto terapêutico singular (PTS) na condução de seu tratamento; e apresentar uma proposta de PTS em um serviço especializado de atendimento a usuários de drogas.

Método

Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso, realizada em um CAPS-ad de um município do interior de Minas Gerais, Brasil. Os dados foram coletados entre abril e setembro de 2017, por meio de entrevista semiestruturada (12 usuários e quatro profissionais de referência do serviço), análise documental (prontuários e formulários de PTS) e observação participante (atendimentos dos profissionais com os usuários para revisão de PTS). A análise e interpretação dos dados seguiram os passos da análise de conteúdo de Bardin3. Esta pesquisa foi aprovada por um Comitê de Ética em Pesquisa de acordo com as exigências da legislação.

Resultados

Na pesquisa, foi visto que os usuários em geral não entendem o significado do PTS, e que a maior parte deles delega ao Técnico de Referência o seu direcionamento. Foi verificado que a equipe do CAPSad participa ativamente na formulação do PTS, sobretudo nas reuniões de serviço, mas essa participação não se estende a outros serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), e tampouco aos usuários de drogas e seus familiares. As condutas propostas no PTS eram excessivamente padronizadas, se restringindo às atividades realizadas apenas no CAPS-ad. Com relação às atividades externas, poucos projetos de reinserção social foram apontados, além daqueles já vinculados à RAPS, apesar das parcerias com setores profissionalizantes e de geração de renda serem opções importantes para os usuários que estão à margem do mercado de trabalho. Os objetivos previstos no PTS eram amplos e vagos, as ações realizadas não eram claras e explícitas, e não haviam prazos de reavaliação como forma de avaliar a evolução gradual no tratamento. Quando realizadas, a periodicidade das reavaliações do PTS se mostrou muito longa. Portanto, constatou-se que o formulário de PTS utilizado no momento da pesquisa no CAPS-ad, apresenta limitações importantes, devido ao conteúdo e à forma de utilização. Quanto ao conteúdo, tem-se como itens apenas os objetivos gerais do tratamento, sem o reconhecimento das singularidades, além de não apresentar metas evolutivas e propostas de ações concernentes a estas metas. Dessa forma, considera-se que o instrumento PTS não se aplica como ferramenta propulsora de participação do usuário no tratamento, ficando subutilizado e perdendo a sua potência como instrumento orientador e de acompanhamento do tratamento do usuário. Quanto à forma de utilização, estava adequado nas avaliações de PTS que haja negociação e corresponsabilização das atividades pactuadas pelo usuário e profissionais da equipe. Ao usuário deve ser assegurado um lugar de maior protagonismo na elaboração e acompanhamento do seu tratamento, por meio de sua implicação na construção e monitoramento do seu PTS. A partir dessas constatações foi desenvolvido um novo formulário de PTS para ser testado no CAPS-ad, numa perspectiva de que o usuário se torne agente ativo do seu processo de tratamento.

Considerações Finais

O estudo alerta para a necessidade de uma orientação do usuário em relação à estrutura e finalidade do PTS, e dos pressupostos da atenção psicossocial. Essa discussão pode fazer parte dos espaços de discussão no próprio serviço como temas de oficinas e grupos terapêuticos, bem como nas assembleias dos usuários. Desta forma, o usuário poderá se sentir mais habilitado e autorizado a fazer escolhas, saindo da zona de marginalidade, exclusão, estigma e incapacidade, geralmente atribuída a eles, promovendo assim a sua autonomia e participação efetiva na elaboração do PTS. Referências: 1. Ministério da Saúde (BR). Portaria GM/MS n.3.088/2011. Institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília (DF): MS; 2011. 2. Ministério da Saúde (BR). Clínica ampliada, equipe de referência e projeto terapêutico singular. Brasília (DF): MS; 2008. 3. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 2015.

Palavras Chave

Serviços Comunitários de Saúde Mental; Transtornos Relacionados ao Uso de Substâncias; Planejamento de Assistência ao Paciente; usuários de drogas.

Area

Saúde Mental

Instituciones

HCPA - Rio Grande do Sul - Brasil, Prefeitura de Outro Preto - Minas Gerais - Brasil, UFRGS - Rio Grande do Sul - Brasil

Autores

Marcio Wagner Camatta, Cíntia Nasi, Jacqueline Macedo Santos, Juliana Ávila Baptista