Datos del trabajo


Título

A PERCEPÇÃO DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE SOBRE OS OBSTÁCULOS AO AUTOCUIDADO NO DIABETES MELLITUS TIPO 2

Introdução

Sendo o Agente Comunitário de Saúde (ACS) integrante da equipe de Saúde da Família, em seu processo de trabalho se faz necessário, entre outros aspectos, a prática comunicativa desses profissionais. O fato de estarmos investigando o trabalho dos ACS na Estratégia Saúde da Família (ESF), com o foco no autocuidado de pessoas com diabetes mellitus tipo2 (DM2), tem grande relevância para este trabalho devido, principalmente, à ascensão dessa doença e as suas repercussões econômicas e sociais, sendo assim uma das prioridades da Saúde Pública. A ESF tem papel fundamental na prevenção primária e detecção precoce do DM2, assim como no acompanhamento desses usuários. O ACS tem acesso em praticamente todos os domicílios e, estando capacitado, pode participar ativamente ajudando na identificação de pessoas com maior risco para a doença, além de viabilizar o acesso para a avaliação médica ou de enfermagem quando indicado. Pode, ainda, contribuir com os cuidados necessários para as pessoas com DM2, com orientações sobre as necessidades de cada usuário, especialmente relacionadas à dieta alimentar e ao uso de medicamentos. Essa atuação é facilitada pela proposta do trabalho em equipe atuando dentro do território, e pelas ações de avaliação e acompanhamento dos casos de diabéticos e o atendimento de suas necessidades, sejam elas na unidade ou no domicílio. Sabe-se que as práticas nos serviços de saúde, no que tange a educação para o autocuidado no DM2, estão ainda centradas em abordagens prescritivas centradas na transmissão de conhecimento para a mudança de comportamento. Em geral, as ações de educação em saúde estão centradas em abordagens prescritivas baseadas na transmissão de informações para alcançar a mudança comportamental e a adesão ao tratamento. Para melhor compreender este processo estudou-se o trabalho dos ACS junto aos usuários com DM2, no âmbito da ESF.

Objetivos

Nesse contexto, este estudo teve como objetivo reconhecer como o ACS realiza o seu trabalho e como percebe os obstáculos ao autocuidado enfrentados pelos usuários com DM2.

Método

Trata-se de uma pesquisa etnográfica desenvolvida no município de Londrina/Paraná, junto a doze ACS que atuam na ESF em duas Unidades Básicas de Saúde (UBS). A produção dos dados foi realizada por meio de observação participante, com registro em diário de campo, ao longo de dez meses, e entrevista semiestruturada. Os dados foram analisados à luz dos referenciais da teoria do processo de trabalho em saúde de Mendes-Gonçalves e da literatura sobre educação para o autocuidado no diabetes.

Resultados

Reconheceu-se que os ACS têm como trabalho nuclear, na educação para o autocuidado no DM2, a realização de visitas domiciliares orientadas para ações de educação e vigilância em saúde e atividades de comunicação entre a equipe e o usuário. A análise dos dados permitiu identificar como os ACS percebem as dificuldades enfrentadas pelos usuários com DM2 em seu autocuidado. Identificou-se um conjunto de 13 obstáculos que foram classificados em três subconjuntos: a) Relacionados à própria doença: 1- O diabetes silencioso. b) Relacionados ao próprio paciente: 2- A dificuldade de entender os sinais corporais; 3- A falta de conhecimento sobre a doença e sua gravidade; 4- A dificuldade de aceitar o diabetes limita o autocuidado; 5- O analfabetismo limita o autocuidado; 6- A dificuldade econômica limita o autocuidado; 7- O sofrimento mental limita o autocuidado; 8- A solidão limita o autocuidado; 9- O medo de agulha limita o autocuidado; 10- A dificuldade de controlar o desejo limita o autocuidado; 11- A dificuldade de seguir a prescrição dietética limita o autocuidado; 12- O difícil controle da hipoglicemia; c) Relacionados à rede de apoio: 13 - A falta da rede de apoio limita o autocuidado. Assim houve a predominância dos obstáculos para o autocuidado nos aspectos relacionados à falta de conhecimento e de aceitação da doença; dificuldades no autocuidado e autocontrole, associadas à mudança de hábitos e estilo de vida; e a interferência das questões econômicas, intelectuais e emocionais no autocuidado. Nesse aspecto, os estudos socioantropológicos contribuem para a compreensão dos elementos presentes nas decisões sobre o gerenciamento da doença crônica, que incluem as dietas alimentares, especialmente no que diz respeito às imposições normativas e prescritivas do saber e das práticas médica e nutricional. Assim, considera-se a existência de pacientes diferenciados, sendo de um lado o paciente “ideal” que segue as prescrições de forma passiva, e de outro o paciente “reflexivo” que age em coerência com sua experiência corporal e seus conhecimentos prévios e vivências da enfermidade. No entanto, são requeridas pelos profissionais, diversas negociações junto aos adoecidos, o que se constitui em um desafio importante para a sensibilização que visa o autocontrole do sofrimento e restrições de vida impostas pelo diabetes1.

Considerações Finais

Pode-se concluir que o trabalho do ACS no apoio ao autocuidado é uma prática relevante e que precisa ser mais valorizada e aprimorada, mediante uma abordagem mais voltada a reconhecer, partilhar e apoiar os usuários em seus obstáculos ao autocuidado, bem como na supervisão e capacitação dos ACS para que possam desenvolver uma abordagem que fortaleça o usuário em sua autonomia e no reconhecimento de suas necessidades não só clínicas, mas também psicossociais.
1 BARSAGLINI RA, CANESQUI AMA. Alimentação e a dieta alimentar no gerenciamento da condição crônica do diabetes. Saúde e Sociedade [Internet]. Out./dez. 2010[acesso em 2016 out 20];19(4):919-32. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v19n4/18.pdf.

Palavras Chave

Agentes Comunitários de Saúde. Autocuidado. Diabetes Mellitus. Educação em Saúde. Estratégia Saúde da Família.

Area

Saúde Coletiva

Instituciones

Instituto Federal do Paraná - Paraná - Brasil

Autores

Simone Roecker, Antônio Pádua Pithon Cyrino