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Título

CONTRIBUIÇOES DE UMA PERSPECTIVA BAKHTINIANA PARA TERAPIA DE LINGUAGEM COM SUJEITOS AUTISTAS

Introdução

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) tem sido bastante debatido e estudado tanto no cenário clínico quanto acadêmico. Tradicionalmente, os estudos têm seguido tendência organicista orientada por manuais diagnósticos como o DSM V e o CID-10. Atualmente, o autismo é definido no DSM V como uma condição do transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por prejuízo constante na comunicação social, padrões limitados e repetitivos de comportamento. No que diz respeito à linguagem, mesmo que diferentes perspectivas teóricas busquem compreender os modos particulares de relação do sujeito autista com o outro, de modo geral a literatura tradicional sobre autismo reduz a linguagem ao comportamento e a língua a um sistema de formas abstratas e sua utilização. No entanto, partindo de uma perspectiva Bakhtiniana, é possível entrever aspectos da linguagem que dizem respeito à participação dos sujeitos no diálogo e da utilização concreta dos enunciados.

Objetivos

Este estudo objetiva compreender como conceitos Bakhtinianos podem contribuir no atendimento fonoaudiológico de sujeitos autistas e discutir sobre as possibilidades terapêuticas desencadeadas pelo uso destes conceitos.

Desenvolvimento

O autismo tem sido considerado uma das patologias da primeira infância mais estudadas das últimas décadas, isso devido aos importantes prejuízos para a vida social decorrentes desse transtorno¹. No que diz respeito à linguagem, ainda não há um consenso sobre a natureza exata das alterações decorrentes desta condição clínica, sendo descrita por inversão pronominal, ecolalia e por dificuldades no uso funcional da linguagem. A literatura tradicional sobre a linguagem no autismo reflete uma visão organicista e patologizante, marcada substancialmente pelas dificuldades apresentas pelos sujeitos e por aquilo que estes não conseguem executar linguisticamente. Entretanto, como afirma Oliver Sacks², embora o autismo possa ser visto como uma condição médica patológica, também deve ser encarado como uma forma de identidade profundamente diferente. Partindo desta problemática, buscamos refletir: será que podemos ver os sujeitos autistas somente nas suas características que os identificam, mas não naquelas que os tornam singulares? Sendo assim, ponderamos que é imprescindível considerar as singularidades, possibilidades e potencialidades destes sujeitos, partindo do pressuposto que os sujeitos autistas, assim como os demais, são constituídos pela e na linguagem, nas práticas dialógicas e sociais. Isso porque, entendemos que ao colocar o sujeito antes de sua "patologia", que preferimos chamar de "condição", valorizamos o caráter sociocultural que determina a inserção do indivíduo em dada sociedade. Tomando como ponto de partida os pressupostos teóricos metodológicos da perspectiva histórico-cultural e contrapondo-se a visão organicista e medicalizante presente nos manuais diagnósticos, buscamos nesse estudo demonstrar como conceitos bakhtinianos, utilizados inicialmente por Novaes Pinto³ no estudo com afásicos, tais como o enunciado, acabamento, compreensão responsiva, dialogismo, podem ser aliados no entendimento do cuidado com sujeitos autistas. De acordo com Oliveira e Nascimento4 enxergar o outro através dessa perspectiva é também reposicionar o olhar sobre um sujeito que nunca pode ser dado como pronto, e sim como um sujeito em continuidade, inacabado. Essa concepção de sujeito nos possibilita refletir sobre o inacabamento da língua que, conforme Geraldi5, não pode ser considerada como um sistema acabado cujo sujeito se apropria para o uso, mas que o próprio processo interlocutivo, na linguagem, se reconstrói. Desta forma, ao considerar a linguagem como um trabalho conjunto, de natureza dialógica, que pressupõe a existência de um “outro”, damos relevância a força criadora da linguagem, que só pode existir dentro de um sistema que a comporte, portanto, não encerrado em si. Passamos a eleger, apoiados em Bakhtin6, como unidade de análise, o enunciado de que a língua participa indissociavelmente em situações dialógicas efetivas, entendendo aqui que o enunciado se define por uma alternância, seja ela imediata ou não. Isso porque, ao adotarmos o enunciado como unidade de análise buscamos dar visibilidade a composição do diálogo a partir de elementos tanto não-verbais quanto verbais, tais como gestos, silêncio, expressões, escolhas dos termos a serem utilizados, pausas, entonação, etc. Entendemos, dessa forma que, o sentido dos enunciados singulares depende do contexto em que os diálogos acontecem, do conjunto das trocas linguísticas e de como elas remodelam a situação. Compreendendo que, os sujeitos autistas estão totalmente presente na linguagem e que para isso mobiliza diferentes recursos linguísticos para atingir seus intuitos discursivos, alguns deles não valorizados no cotidiano, principalmente quando consideramos que vivemos em um mundo essencialmente logocêntrico.

Considerações Finais

As clínicas tradicionais que atuam com a linguagem no autismo tomam estes como sujeitos acabados partindo da perspectiva clínica pautada pela linguagem presente nos manuais diagnósticos. Tratando-se de uma sociedade logocêntrica como a nossa pensar outra clínica pressupõe repensarmos na alteridade, no trabalho com a palavra viva e ambivalente³. Neste sentido, a clínica fonoaudiológica de linguagem tem um papel fundamental na (re)inserção social do sujeito autista, por tratar dos aspectos que são próprios da constituição do sujeito e de sua relação com o mundo.Portanto, tentamos apontar minimamente como o aporte teórico de caráter bakhtiniano pode contribuir para uma mudança nas práticas avaliativas e terapêuticas de linguagem de sujeitos com TEA, nos distanciando das limitações previamente estabelecidas e olhando para as potencialidades dentro da linguagem e das práticas dialógicas e sociais.

Palavras Chave

Linguagem, Autismo, Fonoaudiologia

Referências:
1. Bordin, SMS. Autismo Infantil: Repercussões na linguagem da criança e da terapeuta. In.: Coudry MIH, Freire FMP, Andrade MLF, Silva MA (orgs.). Caminhos da Neurolinguística Discursiva: Teorização e práticas com a linguagem. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2010. p. 341-353.

2. Sacks, O. Um antropólogo em marte. Companhia das Letras. São Paulo –
SP, p. 185. 1995;

3. Novaes-Pinto, RC. A adoção de conceitos bakhtinianos para a análise de linguagem de sujeitos afásicos. Estudos da Língua(gem), 2004: 1, p. 111-148.

4. Oliveira MVB, Nascimento IV. Clínica, linguagem e autismo: uma perspectiva bakhtiniana. In: VII CÍRCULO – Rodas de Conversa Bakhtiniana: literatura, cidade e cultura popular. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016; p. 977-81.

5. Geraldi, JW. Linguagem e trabalho linguístico. In: GERALDI, João Wanderley. Portos de passagem. 4a edição. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora Ltda., 1997 – (Texto e linguagem);

6. Bakhtin, M. Estética da Criação Verbal. 2. ed. São Paulo (SP): Martins Fontes; 1997.

Area

Saúde Mental

Instituciones

ufba - Bahia - Brasil

Autores

Marcus Vinicius Borges Oliveira , Isabela Vinhas Nascimento, Laine Dos Santos Pimentel