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Título

PRATICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES NA ATENÇAO PRIMARIA A SAUDE: PERCEPÇAO DA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL

Introdução

As práticas integrativas e complementares (PIC) constituem formas de cuidado à saúde desde a antiguidade. Perpassam o cotidiano cultural das famílias por meio de diferentes ações, como o uso de chás e plantas medicinais, sons e músicas, elementos da natureza, bendizeres, imposição de mãos, práticas corporais, dentre outras. Nas últimas décadas, esta temática vem despertando o interesse dos profissionais da saúde, no âmbito das pesquisas e assistência, como recursos para a promoção da saúde, prevenção de doenças, reabilitação e cura. No Brasil, foi estruturada e aprovada em 2006 a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS), que estimula a introdução das PIC especialmente na Atenção Primária à Saúde (APS). Inicialmente, foram reconhecidas pela referida política cinco PIC: Medicina Tradicional Chinesa (MTC)/Acupuntura; homeopatia; plantas medicinais e fitoterapia; termalismo social/crenoterapia; e medicina antroposófica. Sendo que as demais PIC, como o reiki, MTC/lian-gong, MTC/tai-chi-chuan, automassagem, massagens, do-in, shiatsu, yoga, shantala, tui-na, lien-chi, entre outras, não foram formalmente reconhecidas, mesmo possuindo um percentual de utilização significativo pela população brasileira de acordo com o diagnóstico nacional realizado para subsidiar a construção da PNPIC. Em 2017, houve dois marcos importantes no campo das PIC no cenário nacional. O Ministério da Saúde ampliou os procedimentos oferecidos pela PNPIC no SUS, expandindo a oferta à população; e foram incluídas mais 14 PIC na Política, a destacar: arteterapia, ayurveda, biodança, dança circular, meditação, musicoterapia, naturopatia, osteopatia, quiropraxia, reflexoterapia, reiki, shantala, terapia comunitária integratica e yoga. Sabe-se que a APS no Brasil é organizada por meio do modelo da Estratégia Saúde da Família (ESF), que recebe o suporte do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF). Essa, coordena toda a Rede de Atenção, é uma das portas de entrada para os usuários do SUS, estrutura-se junto às comunidades, comunicando-se diariamente com as populações e famílias, além de possuir como premissa fundamental a promoção da saúde. Os profissionais de saúde que atuam na APS têm o papel de compreender de forma ampliada o processo saúde-doença, oferecendo alternativas de cuidado e tratamento, que estejam ao alcance das pessoas, promovendo saúde, prevenindo doenças, prestando um cuidado integral, o mais natural possível, que respeite as crenças, valores e a individualidade de cada ser humano. Assim, justifica-se a relevância deste estudo que buscou responder a seguinte pergunta: Qual a percepção de profissionais da ESF e do NASF quanto à utilização das PIC como prática de promoção da saúde na APS?

Objetivos

Compreender a percepção de profissionais da ESF e do NASF quanto à utilização das PIC como prática de promoção da saúde na APS município de Florianópolis, Estado de Santa Catarina, Brasil.

Método

Pesquisa qualitativa, do tipo ação participante, articulada com o Itinerário de Pesquisa de Paulo Freire que consiste de três etapas interrelacionadas: investigação temática, codificação e descodificação e desvelamento crítico. Tais etapas concretizam-se em espaços denominados de Círculo de Cultura, que se caracteriza por um grupo de pessoas com algum interesse comum que se reúnem para refletir sobre seus problemas, situações de vida, compartilhar vivências, construir uma percepção mais profunda da realidade e estruturar coletivamente ações concretas de intervenção. Participaram 30 profissionais de duas ESF, sendo 18 da equipe Oriente e 12 da equipe Ocidente. Em relação à formação, constituíram o grupo pesquisado: três médicos, três enfermeiras, um cirurgião-dentista, uma auxiliar de saúde bucal, oito agentes comunitários de saúde, uma profissional de educação física e uma psicóloga. Além de, cinco residentes (dois médicos, uma enfermeira, uma profissional de educação física e um assistente social) e sete acadêmicos (cinco de medicina e duas de enfermagem). A pesquisa aconteceu entre os meses de abril e julho de 2017, totalizando sete Círculos de Cultura, quatro com a equipe Oriente e três com a equipe Ocidente. A investigação temática foi disparada a partir de questões norteadoras sobre as PIC e a promoção da saúde, sendo que o desvelamento crítico aconteceu concomitantemente com a participação dos pesquisados. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina, com o parecer 1.828.562 e CAAE 61607316.4.0000.0121 de 21 de novembro de 2016.

Resultados

Durante o levantamento temático foram investigados 50 temas geradores na equipe Oriente e 49 na Ocidente, os quais foram codificados e descodificados em seis temas significativos: Fortalecimento do SUS, Redução de danos, Integralidade, Promoção da Saúde, Sobrecarga de Trabalho no SUS e Tempos de resistência, que foram desvelados no decorrer dos Círculos. Os resultados foram descritos em duas dimensões, buscando compreender em cada uma as temáticas de maior relevância. A primeira dimensão abordou as PIC como um modelo de cuidado e promoção da saúde, em busca da integralidade e da redução de danos, a partir do empoderamento dos indivíduos e famílias para uma melhor qualidade de vida e saúde. Neste patamar, desvelou-se que as PIC são essenciais para a promoção da saúde, porém enfrentam alguns empecilhos para sua consolidação, os quais culminam com o modelo biomédico vigente, centrado na queixa-conduta (alopática, na maioria das intervenções). A segunda dimensão caminhou na perspectiva das PIC para o fortalecimento do SUS, refletindo as potências, os limites e as estratégias de enfrentamento para a efetivação dessa forma transformadora de fazer saúde na APS. Suscitaram reflexões em relação ao cenário atual de (des)investimentos na saúde, o que impacta diretamente na qualidade da assistência e na motivação profissional.

Considerações Finais

As PIC são práticas de promoção da saúde no SUS, constituindo um modelo de atenção que precisa ser constantemente estudado, compreendido e enraizado na APS. Para tanto, é imprescindível fortalecer os movimentos em prol da saúde integral, na assistência, no ensino, na pesquisa e na extensão. Além disso, afirma-se a relevância do alcance da ação-reflexão-ação no transcorrer dos Círculos de Cultura, ratificando a importância das pesquisas com metodologias que conectem pesquisadores-pesquisados em busca de discussões sobre o processo de trabalho em saúde.

Palavras Chave

Práticas Integrativas e Complementares; Promoção da Saúde; Atenção Primária à Saúde.

Area

Promoção da saúde

Autores

Indiara Sartori Dalmolin, Ivonete Teresinha Schülter Buss Heidemann, Vera Lucia Freitag