Datos del trabajo


Título

VIOLENCIA NO TRABALHO DA ENFERMAGEM E SUAS REPERCUSSOES PARA O CUIDADO NO CONTEXTO HOSPITALAR

Introdução

A violência no trabalho tem sido fenômeno observado no contexto dos serviços de saúde, tanto na forma física quanto psicológica (1), a qual pode trazer repercussões negativas sobre a saúde dos trabalhadores (2). Nesse contexto, os trabalhadores de enfermagem têm sido apontados como pertencentes ao grupo mais exposto à violência (1,3) praticada pelos pacientes, acompanhantes e por profissionais do convívio laboral. Dessa forma, entende-se que um ambiente permeado por relações agressivas não favorece a comunicação e as relações humanas no trabalho, as quais são fundamentais para a qualidade do cuidado prestado e a segurança dos pacientes e trabalhadores.

Objetivos

Descrever a violência no trabalho da enfermagem e suas repercussões para o cuidado no contexto hospitalar

Método

Estudo de abordagem mista, do tipo sequencial (4). O cenário da investigação foi um hospital universitário de grande porte referência para a região sul do Brasil. A primeira etapa do estudo (quantitativa) contou com amostra probabilística de 391 profissionais da equipe de enfermagem (enfermeiros e técnicos/auxiliares de enfermagem), selecionados aletoriamente para responder a questões sociodemográficas e à versão brasileira do Survey Questionnaire Workplace Violence in the Health Sector e do Hospital Survey on Patient Safety Culture. A partir da identificação dos profissionais expostos, foram selecionados intencionalmente 18 trabalhadores para responder às entrevistas semiestruturadas gravadas em áudio a fim de aprofundar o assunto. Os dados foram tratados com estatística descritiva e analítica, sendo considerados significativos valores de p < 0,05. As entrevistas foram transcritas e submetidas à análise de conteúdo (5). Os dados quantitativos e qualitativos foram confrontados a fim de formular um conjunto interpretativo sobre o fenômeno da violência no trabalho da enfermagem e as suas repercussões sobre o cuidado no contexto hospitalar. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do local do estudo e os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido.

Resultados

A amostra foi composta principalmente por mulheres (82,3%), com mediana de 44 anos de idade sendo 9,7% enfermeiros e 90,3% técnicos/auxiliares de enfermagem. Dos respondentes, 204 (52,20%) relataram ter sofrido algum tipo de violência nos últimos 12 meses. Foram relatados 312 episódios de violência, sendo eles: 51 (16%) de violência física, 155 (49,67%) agressão verbal, 83 (26,60%) de assédio moral, 10 (3,20%) assédio sexual e 13 (4,1%) de discriminação racial. Considerando a avaliação sobre a cultura de segurança do paciente, 72% avaliaram positivamente a cultura de segurança do paciente. O domínio com melhores avaliações foi “Aprendizado Organizacional – Melhoria Contínua”, sendo o percentual mais elevado de respostas positivas (84,5%) para a questão que versa sobre o desenvolvimento de atividade para melhoria da segurança. Ainda, 52,4% consideraram que a segurança do paciente pode ser influenciada pela maior quantidade de trabalho e a comunicação na transferência de cuidado entre turnos e entre unidades foi considerada negativa no que tange à segurança do paciente para mais de 22% dos respondentes. O domínio “Respostas Punitivas ao Erro” obteve as piores avaliações, sendo que 64,9% da amostra avaliou negativamente a prática do registro dos erros nas fichas funcionais. A avaliação negativa sobre a segurança do paciente foi associada à experiência de violência no trabalho (p<0,001). A análise das entrevistas permitiu compreender de que forma essa segurança pode estar sendo afetada, uma vez que a violência no trabalho repercute sobre o cuidado de enfermagem por meio do distanciamento, desmotivação, hostilização e, desatenção. O distanciamento do cuidado ao paciente que praticou a agressão foi um comportamento descrito pelos trabalhadores, que mencionam evitar a aproximação durante o atendimento. A desmotivação foi descrita pela falta de desejo em realizar suas atividades, com sentimento de desvalorização e desânimo. A hostilização foi constatada pela maneira agressiva e hostil de tratar o paciente agressor como resposta ao ocorrido. A desatenção se fez presente na fala dos participantes que não se sentiram inteiramente atentos após a experiência da violência. Algumas falas banalizam a violência no trabalho em enfermagem, mas a maioria dos entrevistados sinalizaram que os episódios de violência sofridos repercutiam no cuidado ao paciente por compreenderem que o profissional em alguma medida sofre com a situação.

Considerações Finais

A qualidade e a segurança do cuidado de enfermagem podem sofrer repercussões negativas pela exposição dos profissionais à violência, uma vez que os profissionais se distanciam, tornam-se desmotivados, desatentos e até hostis. Medidas de proteção e contenção são investimentos necessários à saúde do trabalhador, bem como à garantia da qualidade e segurança do cuidado prestado pela enfermagem.

Referências
1. Dal Pai Daiane, Sturbelle ICS, Santos C, Tavares JP, Lautert L. Violência Física e Psicológica perpetrada no Trabalho em Saúde. Texto contexto - enferm. 2018 Apr; 27(1):e2420016
2 Dal PD, Lautert L, Souza SBC, Marziale MHP, Tavares JP. Violência, burnout e transtornos psíquicos menores no trabalho hospitalar. Rev Esc Enferm USP. 2015 Jun; 49(3):457-64.
3 Edward KL, Ousey K, Warelow P, Lui S. Nursing and aggression in the workplace: a systematic review. Br J Nurs. 2014;23(12):653-4
4 CRESWELL JW. Projeto de Pesquisa: métodos qualitativos, quantitativos e mistos. 3ªed. Porto Alegre (RS): Artmed. 2010.
5 Minayo, MCS. O Desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12ª ed. São Paulo (SP): Hucitec. 2010

Palavras Chave

Saúde do Trabalhador; Violência no Trabalho; Segurança do Paciente.

Area

Gestão de Serviços de Saúde

Autores

Daiane DAL Dal Pai, Juliana Petri Tavares, Letícia Lima Trindade, Fábio Colombo Schestak , Larissa Fonseca Ampos, Catarina Lindenberg, Cecília Helena Glanzner