Datos del trabajo


Título

VIOLENCIA NO TRABALHO EM UNIDADES DE SAUDE DA FAMILIA E AS INTERFACES COM O CONTEXTO LABORAL: ESTUDO DE METODOS MISTOS

Introdução

Os profissionais de saúde das Unidades de Saúde da Família (USF) podem ser considerados altamente vulneráveis à violência no trabalho, uma vez que atuam diretamente na comunidade, por vezes em regiões com altas taxas de criminalidade e com falta de segurança (1), tendo muitas vezes condições e organização do trabalho desfavoráveis. Atos de violência no ambiente de trabalho podem gerar sentimentos que afetam a saúde física e emocional das vítimas e repercutir diretamente sobre a qualidade do serviço prestado (2-4), principalmente levando em consideração os pressupostos de acolhimentos, vínculo e trabalho em equipe, tidos como fundamentais para o trabalho nas USF.

Objetivos

Analisar a exposição dos trabalhadores de saúde à violência laboral nas USF e as suas interfaces com as condições e a organização do trabalho.

Método

Tratou-se de pesquisa com abordagem mista que utilizou a estratégia aninhada concomitante. Realizado em USF localizadas em uma capital da região sul do Brasil, sendo convidados a participar do estudo os profissionais que compunham a equipe mínima de saúde da família: médicos, enfermeiros, técnicos/auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde, sendo a amostra constituída por 106 profissionais. Foram incluídos os trabalhadores que atuavam na USF há pelo menos 12 meses, e excluídos profissionais afastados, de licença ou de férias. Os dados quantitativos foram coletados por meio do Survey Questionnaire Workplace Violence in the Health Sector e os dados qualitativos por meio de entrevista semiestruturada, realizada com 18 respondentes do survey que haviam afirmado exposição à violência no trabalho. Os dados quantitativos foram submetidos à estatística descritiva e analítica, sendo considerado significativo p<0,05. As entrevistas semiestruturadas tiveram as respostas gravadas em áudio e os dados transcritos e submetidas à análise do tipo temática. Os achados foram confrontados e articulados a fim de possibilitar uma análise de método misto sobre os achados. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da instituição proponente e co-participante e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados

Participaram do estudo principalmente mulheres (80,2%), com mediana de 42,5 anos, brancas (61,9%), com companheiro (53,8%). Os ACS representaram 52,8% da amostra, seguidos de técnicos/auxiliares de enfermagem (23,6%), enfermeiros (15,1%) e médicos (8,5%). Da análise emergiram as categorias: (1) Violência no trabalho em USF; (2) Reações e problemas vivenciados; (3) Condições e a organização do trabalho e; (4) (Im) possibilidades para prevenir/ controlar a violência. Na primeira categoria foram abordadas a prevalência da violência no trabalho nos últimos 12 meses (69,8%), sendo prevalente as agressões verbais (65,1%), ocorridas por meio de xingamentos, ofensas, humilhações e ameaças, conforme observado nas entrevistas. Foi acometido pelo assédio moral 14,2% da amostra, seguido de 10,4% de casos de discriminação racial, 8,5% de violência física e 4,7% de assédio sexual. Dos participantes, 33,8% referiram terem sofrido dois ou mais tipos de violência no trabalho, sendo os maiores perpetradores os pacientes descontentes com a falta de médico e de materiais, especialmente medicamentos. Nas entrevistas foi destacada atuação na recepção como aspecto agravante no que se refere à exposição às situações violentas. A segunda categoria revelou que as principais reações das vítimas foram contar para o colega (de 33,3% a 80% conforme o tipo de violência) e relatar para o chefe (de 20% a 56,5%), e nos casos de violência física foi tentar defender-se fisicamente (33,3%) e registrar o evento (66,7%). Permanecer superalerta, vigilante, de sobreaviso ou constantemente tenso foi o problema mais referido pelas vítimas (de 60 a 80% conforme o tipo de violência), exceto nas situações de assédio moral, que desencadeou principalmente sentimentos de pesar para realizar as atividades (92%). Abalos à saúde dos trabalhadores foram mencionados pelos participantes como consequências aos episódios de violência, bem como relatos de absenteísmo e a vontade de abandonar a profissão, entretanto, os profissionais tendem à naturalização e banalização desses episódios. Na terceira categoria foi descrita a falta de médico na composição das equipes, bem como de medicamentos, como motivos relacionados à agressão perpetrada pelos usuários. Relataram ainda dificuldades relacionadas ao trabalho em equipe, o que foi relacionado ao achado de que as vítimas de violência apresentaram piores avaliações sobre as condições e a organização do trabalho, sendo significativamente piores as avaliações quanto aos relacionamentos com colegas e chefias (p<0,05). Na quarta categoria encontrou-se que melhorias no ambiente (61,3%) e investimento em desenvolvimento de recursos humanos (75,5%) foram destacados como necessidades no que tange à problemática da violência nas USF. Os participantes referiram a falta de agente de segurança na recepção da unidade como motivo de maior exposição. Além disso a vulnerabilidade dos profissionais à violência urbana do território foi mencionada como fator agravante dessas situações nas USF.

Considerações Finais

Os profissionais das USF estão expostos à violência, especialmente do tipo verbal e vinda dos pacientes. A organização e condições de trabalho estão diretamente implicadas na origem desta problemática e carecem de investimentos a fim de garantir a preservação da integridade física e psicológica dos trabalhadores e o cumprimento das atividades previstas de atenção à comunidade.

Referências
1 Silva ATC, Peres MFT, Lopes CS, Schraiber LB, Susser E, Menezes PR. Violence at work and depressives ymptoms in primary health care teams: a cross-sectional study in Brazil. Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol, 2015; 50:1347–55.
2 Gignon M, Verheye JC, Manaouil C, Ammirati C, Turban-Castel E, Ganry O. Fighting violence against health workers: a way to improve quality of care? Workplace health & safety, 2014 Jun;62(6):220-2.
3 Dal Pai D, Lautert L, Souza SBC, Marziale MHP, Tavares JP. Violência, burnout e transtornos psíquicos menores no trabalho hospitalar. Rev Esc Enferm USP, 2015; 49(3):460-8.
4 Edward KL, Ousey K, Warelow P, Lui S. Nursing and aggression in the workplace: a systematic review. Br J Nurs, 2014; 23(12):653-4.



Palavras Chave

Saúde do Trabalhador; Violência no trabalho; Atenção Primária em Saúde; Saúde da Família; Condições de Trabalho.

Area

Violências e Saúde

Autores

Daiane DAL Dal Pai, Isabel Cristina Saboia Sturbelle, Larissa Fonseca Ampos, Vittória Zarpelão Matos, Juliana Petri Tavares