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Título

DIVERGENCIAS E CONTRIBUIÇOES DAS VERTENTES DA TEORIA FUNDAMENTADA NOS DADOS

Introdução

A teoria fundamentada nos dados (TFD) ou Grounded Theory trata-se de um método de investigação qualitativa que busca a criação de uma teoria baseada/fundamentada no desenvolvimento de um fenômeno, desvelado pela coleta e análise simultânea dos dados. Esse referencial metodológico é usado para compreender as experiências e os significados que os atores sociais vivenciaram em um determinado cenário1. Consagrou-se como um método relevante na área da enfermagem, sendo uma das metodologias mais utilizadas na pesquisa em enfermagem nas últimas décadas2, uma vez que propõe a ação-interação humana, em especial no âmbito do cuidado, permitindo a criação de teorias a partir da prática3.

Objetivos

Discutir os principais pontos de divergência entre as vertentes e pesquisadores na construção da TFD e as contribuições desse método para a pesquisa em enfermagem.

Desenvolvimento

Interpretar a TFD pode ser muito difícil especialmente quando se desconhece as diferentes perspectivas do método, que ao longo do século XX e XXI evoluíram e desdobraram-se em conduções metodológicas distintas. A vertente clássica, proposta por Barney Glaser, defende um pesquisador livre de pré-conceitos, passivo aos dados e com ênfase na identificação de padrões de comportamento. Segundo este autor o processo de codificação se desdobra em três etapas: codificação aberta, seletiva e teórica4. A vertente relativista ou Straussiana possui dois principais representantes, Anselm Strauss e Juliet Corbin. Nessa perspectiva o pesquisador é ativo em relação aos dados, ou seja, o pesquisador é quem interpreta os dados, podendo ele possuir algum conhecimento prévio sobre o fenômeno estudado. Aqui, o processo de codificação possui na edição mais antiga do método1: codificação aberta, axial e seletiva. Na edição mais recente as etapas são codificação aberta, axial e de integração5. Em ambas é utilizado um modelo paradigmático para organizar os dados. Já na vertente construtivista, segundo Kathy Charmaz, o pesquisador é co-construtor dos dados, ou seja, participante do processo. Nessa perspectiva a análise ocorre em três momentos: codificação inicial, focalizada e teórica6. A origem da TFD esteve fortemente associada ao interacionismo simbólico, entretanto atualmente, defende-se que o interacionismo simbólico não é necessário para validar a TFD como método de investigação científica podendo-se utilizar outros referenciais teóricos2. Ao iniciar uma TFD não necessariamente o pesquisador deve fazer uma revisão de literatura para conhecer o estado da arte sobre o tema de estudo. Diferente de outras abordagens metodológicas qualitativas a TFD não exige uma organização teórica antes ou durante a coleta e análise dos dados. Glaser defende que a revisão de literatura seja realizada apenas para discussão dos achados, visto que pode influenciar/desviar a percepção do pesquisador na descoberta dos fenômenos emergentes nos dados4. Já Strauss e Corbin e Charmaz preveem o contato do pesquisador com a literatura durante o processo de coleta e análise dos dados, porém ressaltam cautela para não permitir que os dados da literatura se coloquem entre os dados do estudo e o pesquisador. No entanto, a discussão dos achados com outros estudos é primordial para a validação da teoria1,6. As entrevistas em profundidade são essenciais na construção da TFD, no entanto, a utilização ou não de questionários para aplicação nas entrevistas é um ponto de divergência entre os pesquisadores do método, sendo frequente encontrar estudos que dizem utilizar questionários estruturados e semiestruturados na construção da TFD. A entrevista deve ser iniciada com uma questão ampla o suficiente para possibilitar a liberdade de expressão dos participantes permitindo explorar os significados nessas expressões1,4,6. Um roteiro de perguntas pode ser utilizado, porém não deve ser fechado, permitindo ao pesquisador explorar os dados emergentes em profundidade e modificar o roteiro durante o processo de construção da teoria. O uso do gerúndio na elaboração e estruturação dos códigos também é um ponto de discussão. O uso do gerúndio fundamenta-se por dar ideia de movimento aos dados, como algo que está em processo, sendo uma característica da TFD. Em relação à validação teórica, a TFD não prevê a validação das entrevistas individualmente pelos participantes do estudo, mas sim a validação da teoria ou modelo teórico por expertise na área do estudo e/ou pessoa que vivencia o fenômeno do estudo1. Para julgar a aplicabilidade da teoria ao fenômeno estudado pode-se utilizar estrutura composta por quatro critérios, sendo esses, ajuste, compreensão, generalização e controle. A forma de aplicação é livre podendo o pesquisador utilizar de criatividade.

Considerações Finais

Este estudo evidenciou como pontos divergentes na construção da TFD a necessidade ou não de um referencial teórico e da revisão de literatura para condução do estudo, a utilização de questionários estruturados e semiestruturados para coleta de dados, o emprego do gerúndio na codificação dos dados e a validação da teoria ou modelo teórico. A partir do desenvolvimento da TFD é possível reconhecer problemas de determinado cenário por meio da geração de teorias de Enfermagem com o intuito de melhorar a prática profissional. Neste sentido, a TFD pode ser considerada um recurso potencial para favorecer a produção científica na área da enfermagem fundamentando o desenvolvimento de melhores práticas em saúde e enfermagem por meio da compreensão dos significados das experiências retratados na construção de modelos teóricos.
1. Strauss A, Corbin J. Pesquisa qualitativa: técnicas e procedimentos para o desenvolvimento de teoria fundamentada. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2008.
2. Santos JLG, Erdmann AL, Sousa FGM, Lanzoni GMM, Melo ALSF, Leite LL. Methodological perspectives in the use of Grounded Theory in nursing and health research. Esc. Anna Nery. 2016; 20(3):e20160056.
3. Dantas CC, Leite JL, Lima SBS, Stipp MAC. Grounded Theory - conceptual and operational aspects: a method possible to be applied in nursing research. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2009;17(4):573-9.
4. Charmaz K. A construção da teoria fundamentada: guia prático para análise qualitativa. Porto Alegre (RS): Artmed; 2009.
5. Glaser BG. The grounded theory perspective: conceptualization contrasted with description. Mill Valley, CA (EUA): Sociology Press; 2011.
6. Corbin J, Strauss A. Basics of Qualitative research: Techniques and procedures for developing Ground Theory. 4ª ed. Los Angeles (EUA); 2015.

Palavras Chave

Pesquisa Qualitativa; Teoria Fundamentada; Enfermagem.

Area

Outros

Autores

Cintia Koerich, Fernanda Hannah da Silva Copelli, Gabriela Marcellino de Melo Lanzoni , Aline Lima Pestana Magalhães, Alacoque Lorenzini Erdmann