Datos del trabajo


Título

PESQUISA QUALITATIVA EM SAÚDE E BIOÉTICA NARRATIVA: UMA REFLEXÃO TEÓRICA- METODOLÓGICA

Introdução

pode-se entender a narração como um instrumento de conhecimento, prática, ação e exposição da vida humana, e a ética como a maneira pela qual se tenta realizar os projetos de vida, por meio do exercício constante de fazer escolhas (decisões) morais. Nessa perspectiva, falar de bioética narrativa não se trata de nada menos que de examinar a complexidade da vida humana, tendo a narração como recurso para entender situações de modo complexo, racional e inteligível(1). Assim, a bioética narrativa é uma vertente da bioética que se sustenta na narração, considerando a pluralidade de relatos acerca de um acontecimento, permitindo a percepção das diferentes maneiras como um acontecimento pode ser contado e com diferentes níveis de intensidade e envolvimento, numa constante busca pela verdade. Seu estilo narrativo foi acentuado em meados da década de 1990 na América Latina, enfatizando a resolução de problemas éticos mediante processos deliberativos, intencionando proporcionar mais operacionalidade e flexibilidade à bioética, em resposta às críticas acerca da sua pouca aplicabilidade por parte de alguns estudiosos do meio, além de partir do contexto sócio histórico cultural da América Latina(2), voltando- se ao empoderamento, a libertação, ao pluralismo histórico, a diversidade e a emancipação(3). Considerando suas características únicas, acredita-se que a bioética narrativa possa ser um referencial importante a ser considerado nos estudos qualitativos em saúde, que visam explicar a razão e o propósito das coisas, se valendo dos discursos divergentes(4) especialmente em se tratando das pesquisas empíricas, que incluem alguma forma de interlocução com atores sociais.

Objetivos

discutir as possíveis contribuições da bioética narrativa para a pesquisa qualitativa em saúde por meio de uma reflexão teórica-metodológica, no intuito de apresentar claramente os elementos e ferramentas que a narrativa poderia oferecer para a pesquisa em saúde.

Desenvolvimento

a bioética narrativa apresenta como uma de suas características mais marcantes a utilização de meios artísticos (literatura, cinema, pinturas, entre outros) como instrumentos fundamentais para fomentar narrativas e discussões(1), o que pode contribuir de maneira ímpar para a execução de abordagens qualitativas. Os estudos qualitativos bioéticos em saúde comumente apresentam como objetos de estudo temáticas que envolvem conhecimento sobre moralidades de grupos sociais em relação a práticas sociais e profissionais(5), em que a narração pode ser um instrumento pertinente para fomentar discussões acerca de tal tema, auxiliando numa rica coleta dos dados. Além das pesquisas qualitativas voltadas para as moralidades e ética, acredita-se que a bioética narrativa possibilite contribuições muito relevantes para os estudos que enfoquem o processo de ensino-aprendizagem, especialmente o direcionado à área da saúde, uma vez que auxilia no desenvolvimento do pensamento dialético, no reconhecimento da importância da mudança e da presença da contradição. Desta forma, busca o equilíbrio entre o pensamento ocidental axiomático, asséptico e pretensamente objetivo, com o pensamento oriental holístico, politicamente comprometido e claramente respeitoso das subjetividades, propondo o paradigma narrativo. Neste, a racionalidade utilizada não é a clássica, tampouco positivista, mas sim descritiva, argumentativa, hermenêutica e principalmente deliberativa, com potencialidade de ser um meio de introduzir temas sociais, culturais e ambientais à bioética, ampliando os horizontes para além dos temas biotecnológicos. A bioética narrativa introduz, porém, um elemento inovador à prática bioética: a imaginação, propondo e legitimando o uso dessa ferramenta para a criação de histórias que permitam, por exemplo, entender os discursos, sentidos e significados que os mais variados atores (vindos dos mais díspares contextos sociais, políticos, econômicos, religiosos, espirituais, acadêmicos) consideram quando fazem escolhas morais. Neste sentido, a bioética narrativa pode servir de maneira muito importante para a introdução do assunto da justiça social dentro da bioética(6) -um tema cada vez mais abordado pela área-, uma vez que seu enfoque privilegia as diversas vozes que estão imersas na tomada de decisões, cada vez mais relacionada a circunstâncias de iniquidade, injustiça e desigualdade. Assim, a bioética narrativa responde perfeitamente à necessidade de enriquecer a análise e o raciocínio moral em termos epistemológicos e metodológicos(1) (por ela ser um paradigma em si mesma: o paradigma narrativo, que compreende que o ser humano é, em essência, um ser que não apenas pensa -homo sapiens-, senão que principalmente narra -homo narrans-), o que é coerente com princípios que sustentam a pesquisa qualitativa ou algumas de suas abordagens.

Considerações Finais

a bioética narrativa parece ser um caminho pertinente a ser explorado em pesquisas qualitativas, especialmente as que apresentam enfoques bioéticos, sociais e participativos (embora não esteja restrita a eles) ou, ainda, aquelas que lidam com objetos que privilegiam o processo educativo em saúde, a análise de processos de mudança e intervenção, e aquelas claramente comprometidas com a defesa de uma realidade mais justa, equitativa e igualitária, uma vez que favorecem o diálogo e a utilização de métodos imaginativos, deliberativos e holísticos, essenciais para o desenvolvimento do raciocínio crítico e do julgamento ético na prática profissional multi, inter e transdisciplinar, em diversos campos da ação em saúde, vista como uma área essencialmente social da reflexão e ação humana que pode ser fortalecida por um enfoque que enxerga a realidade de um ponto de vista complexo e rico: o paradigma narrativo.

Palavras Chave

Area

Ética, Bioética e Filosofia em Saúde

Instituciones

Universidade Federal de Santa Catarina - Santa Catarina - Brasil

Autores

Isabela Saioron, Flavia Regina Souza Ramos, Dulcinéia Ghizoni Schneider, Camilo Manchola-Castillo, Priscila Barth