Datos del trabajo


Título

A REALIDADE DE ENFERMEIRAS NO ENFRENTAMENTO DIANTE DO ABUSO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTE: UM ESTUDO DE CASO

Introdução

A violência sexual contra crianças e adolescentes é um fenômeno que se manifesta em todos os lugares e em qualquer classe social, podendo ocorrer na comunidade onde moram, na escola, nas instituições socioeducativas ou na família. Para dar uma resposta positiva ao problema, há que se considerar uma faceta cruel dessas agressões(1): a invisibilidade diante do medo de denunciar o agressor. A violência sexual pode se expressar por meio de duas formas: o abuso sexual e a exploração sexual, sendo ambas atentatórias ao direito humano e ao desenvolvimento sexual da criança e do adolescente, praticados por um indivíduo em situação de poder e desenvolvimento sexual distinto em relação às vítimas(2). O abuso sexual é caracterizado como o ato ou o jogo que ocorre nas relações hétero ou homossexuais, o qual visa estimular a vítima a obter excitação sexual nas práticas eróticas, pornográficas impostas por meio do aliciamento(2) que pode ser realizado mediante violência física e ameaças. A participação dos profissionais enfermeiros é notória nas ações de medidas de prevenção à violência sexual, chamando sempre à responsabilidade o setor da saúde, os quais encontram-se em posição de destaque como eixos condutores na prevenção de agravos e doenças, promoção da saúde e intersetorialidade(3), até a unidade hospitalar, o que lembra a projeção de redes de enfrentamento contra a violência, associados à assistência humanizada.

Objetivos

Desvelar a percepção de enfermeiros quanto à formação profissional no contexto do enfrentamento do abuso sexual de crianças e adolescentes no cotidiano de trabalho.

Método

Estudo qualitativo, tipo estudo de caso, realizado com quatro enfermeiras atuantes na assistência às crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual em uma Fundação de referência na região metropolitana de Belém. Para coleta dos dados foi utilizada a entrevista semiestruturada que relaciona as opiniões com as questões comportamentais. As falas foram transcritas, organizadas, categorizadas e, com suporte da Teoria Fundamentada dos Dados, foram analisadas. Esta técnica foi utilizada somente para a análise dos dados. O projeto foi aprovado pelo CEP/Instituto de Ciência da Saúde da Universidade Federal do Pará sob parecer nº 56852516.6.0000.0018.

Resultados

Os dados foram organizados em três ideias centrais: Dificuldades no processo de formação; Dificuldades de capacitação profissional; Avanços e desafios no combate ao abuso sexual. Na primeira ideia central, há criticidade sobre as deficiências no processo de formação acadêmica de enfermeiros diante da realidade do enfrentamento ao abuso sexual. Percebe-se a deficiência de se questionar, estudar e falar do abuso sexual na formação acadêmica em enfermagem, ainda vista como tabu. A universidade constitui o pilar fundamental e primordial na formação de profissionais envolvidos no fenômeno contra a violência sexual(4), uma vez que esse tipo de violência requer educação continuada. É recomendável às instituições superiores de ensino incluir em suas grades de ensino como demanda acadêmica. Como segunda ideia central, temos as dificuldades de capacitação profissional, onde a ausência de oficinas e cursos voltados para aprimoramento profissional são enfatizados, desvelando a insatisfação dos enfermeiros a ponto de não se sentirem devidamente preparados para atuar no enfrentamento aos casos de abuso sexual em crianças e adolescentes. A deficiência vai além da estrutura curricular de muitos enfermeiros com formação antiga, a própria condição de trabalho inviabiliza cursos de capacitações, promoção de atualizações acerca da violência, suas formas, condutas de enfrentamento e novos modelos de assistência às vítimas e familiares. Esta é uma fragilidade que precisa ter a atenção das instituições de saúde, pois são situações limitantes aos profissionais que lidam com variadas situações de violência, o que inclui a própria concepção dos profissionais sobre a violência, as ações desenvolvidas (ou não) e a relação que se estabelece com a família e demais atores da rede intersetorial(5). Na terceira ideia central, destacam-se alguns pontos positivos e negativos diante do combate ao abuso sexual, seus avanços nas denúncias dos usuários que presenciam ou desconfiam de abusos; além da percepção de avanços que podem auxiliar os atendimentos, provindos de outros usuários. Como ponto positivo dentro do enfrentamento ao abuso sexual a inserção da denúncia entre os cidadãos é um fator citado pelas profissionais. Para denunciar, é imprescindível que o usuário conheça as características do abuso; a educação e comunicação, neste sentido, são importantes mecanismos de elo entre profissionais e sociedade, o que pode evitar a propagação ou até impedir episódios do ciclo de violência. O incentivo à orientação transforma o cuidado e o enfermeiro, diante do contexto, pode agir na comunidade. Os desafios aqui propostos são as árduas lutas pelo combate ao abuso sexual em crianças e adolescentes, pois o silêncio dos envolvidos - neste caso de violência - ainda aparenta ser fator decisivo para altos índices de mortalidade e subnotificação.

Considerações Finais

O enfermeiro em vários contextos é o profissional mais indicado para atuar como educador, proporcionando junto à equipe de suporte e cuidados ajuda emocional à vítima e os participantes deste momento delicado (os familiares). Além disso, este profissional como pode estar nos estabelecimentos de ensino, nas unidades básicas de saúde, nos hospitais, trabalhando junto a educação em saúde com a finalidade de combate ao abuso sexual, o que é necessário em tempos de novos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes. Diante dos entrevistas, foi possível atentar entrelinhas ao desconforto das profissionais em seus relatos sobre a ausência, negligência para com o próprio profissional, a falta de atenção à temática do abuso sexual num contexto profissional, além de outros setores, expressos sob a forma de injustiças sociais frequentemente verbalizadas. Diante de tantos embaraços e percalços que cerceiam o ambiente de trabalho, é admirável o que estas enfermeiras e demais profissionais brasileiros ofereçam amplo e bom atendimento às vítimas de abuso sexual, visto que essa problemática não reside apenas na realidade paraense.

Palavras Chave

Enfermagem; Violência; Violência contra criança; Enfermagem em Saúde do Adolescente; Educação continuada.

Area

Violências e Saúde

Instituciones

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ - Pará - Brasil

Autores

LENNA ELOISA MADUREIRA PEREIRA, Márcia Maria Brangança Lopes, Isabela SAIORON, Franciele Budziareck NEVES, Priscilla BARTH