Datos del trabajo


Título

O trabalho em equipe na Ortodontia: uma analise da Bioética Clínica Amplificada

Introdução

Na reorganização da saúde bucal, percebe-se como desafio ético-político a transição para as relações em equipe. A exigência de produtividade-lucratividade transforma a opção pelo trabalho especializado em necessidade de sobrevivência no mercado, grande parte, em novo formato clínico-empresarial que absorve Auxiliares (ASB) e Técnicos de Saúde Bucal (TSB) sob perfil tradicional de equipe de produção. No setor público-estatal, a inclusão da Equipe de Saúde Bucal (ESB) na Estratégia de Saúde da Família (ESF) em 2000, incrementada significativamente pela Política Nacional de Saúde Bucal de 2004, expandiu e reorganizou o serviço de atenção básica e especializada com implantação de Centros de Especialidades Odontológicas (CEO) e Laboratórios Regionais de Próteses Dentárias, incorporando a ortodontia e a implantodontia no serviço especializado, a critério da gestão municipal. O tratamento ortodôntico no serviço público ganhou força com a Portaria Nº 718/SAS de 2010 que inclui na gama de procedimentos dos CEOs, intervenções corretivas e preventivas das deformidades bucofaciais. De uma especialidade historicamente acessível a poucos, a ortodontia tem apresentado um aumento significativo de sua abrangência populacional a partir da ampliação do acesso e formação de novos especialistas, em novos formatos de equipes de trabalho.

Objetivos

Objetivo: analisar problemas éticos surgidos no aperfeiçoamento dos novos processos coletivos de trabalho na odontologia no âmbito dos serviços especializados.

Método

Realizada pesquisa exploratório-descritiva de abordagem qualitativa, com coleta de dados através de entrevistas semi-estruturadas focadas em 11 CDs ortodontistas de um universo de 25 especialistas entrevistados, onde 9 eram formandos em um curso de ortodontia e 2 em exercício. Os participantes foram acessados por critério de conveniência, a partir de um serviço público vinculado a uma Secretaria Municipal de Saúde da região sul do Brasil que autorizou a realização da pesquisa, previamente aprovada no Comitê de Ética em Pesquisa (n. 851.888, em 28/10/2014). A seleção da amostra se valeu do método “bola de neve”, em que as novas indicações de participantes foram feitas pelos já entrevistados, privilegiando sujeitos com as características necessárias ao conhecimento buscado, até a repetição de informações, sem acréscimos significativos. A entrevista foi guiada por um roteiro semi-estruturado, gravada com auxílio de gravador de voz e posteriormente transcrita. Os resultados foram analisados pelo método de Análise Textual Discursiva15 através de: 1. desmontagem dos textos seguido de sua fragmentação em unidades de base; 2. estabelecimento de relações entre essas unidades formando sistemas de categorias; 3. nova combinação de sentidos expressados num metatexto, construído pelas próprias autoras e embasado na literatura; e 4. ciclo de análise com crítica e validação do metatexto.

Resultados

Resultado: a análise dos dados evidenciou que a odontologia caminha por uma transição na organização de seu processo de trabalho: de relações individualizadas profissional-paciente para relações em equipe, ainda que centralizadas na figura do CD. Entretanto, constata-se forte contradição nas diferentes formas de atuação das Equipes de Saúde Bucal (ESB), configurando problemas na compreensão do novo estatuto ético e legal no trabalho em equipe. Enquanto a quantidade de TSBs no serviço público carece, ainda, de ampliação para uma mudança qualitativa na racionalização do trabalho em SB e para aumento da abrangência populacional; no serviço privado da ortodontia, esta modalidade de trabalhadores começa a ser amplamente empregada sob o paradigma da produtividade-eficiência. Diversos procedimentos não permitidos pela legislação brasileira referente a atribuições do TSB e ASB estão sendo delegados por ortodontistas à equipe auxiliar, nem sempre acompanhada por supervisão direta ou indireta; uma minoria de especialistas consegue indicar corretamente qual legislação regulamenta as atribuições de ASB e TSB; e os modelos de trabalho centralizados na figura do CD e em interesses particulares, normalmente significam adesão a uma ética relativizada, Apesar da maioria do corpo auxiliar possuir curso de formação específica, recebe “treinamento” dos especialistas, constituindo-se importantes problemas éticos, onde a ética acaba entendida como um código de condutas definido de acordo com objetivos da empresa (clínica). Desvelam-se problemas éticos como: ideologia do profissionalismo; confusão de competências com o trabalho técnico; e hierarquização em contraposição à construção de liderança, com tendência à persistência de saberes e fazeres tradicionais.

Considerações Finais

Conclusão: aponta-se que mudanças nas relações entre seus diferentes membros, de historicamente competitivas para mais solidárias, precisam ser incorporadas, também, no serviço especializado em equipe. A busca pela superação da mercantilização e hierarquização sugere uma prática cogestionada e capacitada à deliberação, a partir da solidariedade, diálogo e cooperação, da graduação à formação lato sensu. A especialidade da ortodontia amplia o acesso da população aos seus serviços, inclusive no atendimento público-estatal e incorporando o trabalho em equipe, assim fazendo-se necessário: uma formação revestida de objetivos sanitaristas e responsabilidades ético-políticas que capacite o ortodontista à consideração e transformação da realidade social, desenvolvendo aptidões para o diálogo e a solidariedade, construtores da co-gestão e deliberação coletiva, em benefício do aumento da qualidade de vida da população; um posicionamento ético-político dos CDs de maior qualidade que reconheça as reais competências e inter-relações entre membros da equipe, em especial com TSBs, clareando práticas clínicas consideradas “eticamente suspeitas”, relacionando características distintas entre países e sistemas de saúde, e estabelecendo possíveis adaptações às necessidades da clínica ortodôntica no Brasil; amplo debate na categoria para reivindicar seu comprometimento social, buscando maior investimento no tratamento especializado público-gratuito, em especial à população vulnerada; maior investimento no trabalho preventivo da ESB sobre as doenças ortodônticas preveníveis, mas ainda não prevenidas, e na interceptação de problemas - redescobrindo o papel principal do TSB no cuidado, prevenção e promoção à saúde.

Palavras Chave

Saúde Bucal; Odontologia; Ortodontia; Mercado de Trabalho; Bioética

Area

Saúde Bucal

Autores

Doris Gomes, Mirelle Finkler