Datos del trabajo


Título

ESTUDO DA PERCEPÇAO DE CRIANÇAS/ADOLESCENTES SOBRE SUAS ALTERAÇOES DE LINGUAGEM UTILIZANDO A CLASSIFICAÇAO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE, INCAPACIDADE E SAUDE

Introdução

Crianças e adolescentes com alterações de linguagem podem sofrer vulnerabilidade em diversas esferas da vida, assim profissionais que lidam com indivíduos com tais dificuldades devem se preocupar com aspectos além das alterações perceptíveis na fala, e estarem atentos também às implicações sociais que podem causar. O olhar do profissional sob os possíveis impactos ambientais e sociais de uma condição de saúde é uma preocupação relativamente recente na área da saúde e uma das ferramentas que incorpora a abordagem biopsicossocial é a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF). Desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde, a CIF proporciona uma linguagem unificada e padronizada para melhor comunicação entre profissionais, serve de referência para a descrição da saúde e proporciona uma base científica para o estudo dos determinantes de saúde e de suas condições relacionadas. Tradicionalmente, na abordagem fonoaudiológica, o foco da avaliação e diagnóstico de alterações de linguagem tem sido pautada no modelo biomédico. Assim, a CIF interessa à área por promover uma perspectiva biopsicossocial da pessoa com alteração linguagem.

Objetivos

Caracterizar a percepção de crianças e adolescentes com alterações de linguagem acerca de aspectos de linguagem, participação e funcionalidade, utilizando a CIF como base conceitual.

Método

Pesquisa com delineamento descritivo-analítico transversal com abordagem qualitativa, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade sob o CAAE 14110313.9.0000.5404. Participaram da pesquisa 30 crianças e adolescentes com alterações de linguagem (15 com diagnóstico de gagueira e 15 com alterações fonológicas), atendidas em uma clínica-escola de Fonoaudiologia de uma universidade pública do estado de São Paulo. Foram incluídos participantes com idades entre 4 e 16 anos, com condições de compreender e responder às questões norteadoras oralmente. Foram excluídos aqueles que apresentaram perda auditiva ou problemas neurológicos. Para a coleta de dados realizou-se: entrevistas individuais com os participantes com questionário semiestruturado, questões fechadas aplicadas para os responsáveis visando a coleta de dados sociodemográficos e consulta de prontuário. Para a construção do questionário aplicado nas entrevistas foi realizada revisão de literatura sobre o uso da CIF nas alterações de linguagem; leitura e seleção de domínios da CIF dos componentes Funções do Corpo, Atividades e Participação, Fatores Ambientais; e elaboração do questionário baseada na tradução livre para o português do Speech Participation and Activity of Children (SPAA-C). As entrevistas foram videogravadas, transcritas, lidas, analisadas e submetidas à análise de conteúdo temático, assim como os relatórios dos prontuários.

Resultados

A maioria das crianças e adolescentes havia iniciado a terapia há menos de seis meses ou estavam em atendimento há mais de um ano e não possuíam histórico de problemas de linguagem na família, 24 eram do sexo masculino e seis do sexo feminino. Os pais da maioria viviam juntos, as mães tinham entre 10 e 12 anos de estudo e profissões que geravam renda para família, a renda per capita era menor ou igual a um salário mínimo. Os participantes relataram dificuldades em Funções do Corpo, Atividades e Participação e Fatores Ambientais, entretanto o componente de Atividades e Participação destacou-se como o mais prejudicado na vida dessas crianças e adolescentes. Os domínios caracterizados com maior dificuldade foram: Falar (d330), Conversação (d350), Relacionamento com estranhos (d730), Relacionamentos familiares (d760), Atitudes individuais dos membros da família próxima (e410) e Atitudes individuais de conhecidos. Participantes relataram que as alterações de linguagem repercutiram nas atividades de falar e conversação, pois esses tinham dificuldade de conversar com colegas e pessoas estranhas por receio de que esses não o entendessem, fizessem comentários maldosos a respeito de suas falas ou imitassem seu jeito de falar. Dessa forma, disseram preferir conversar com familiares ao invés de com pessoas da mesma idade ou desconhecidos. O receio de julgamento e sofrer bullying restringiram a participação em tarefas do cotidiano, como no caso de pedir comida em restaurantes, comprar ingressos para o cinema na bilheteria e até mesmo perguntar dúvidas em voz alta na aula de matemática. No caso da aula de matemática, o adolescente com gagueira enviava e-mail para o professor com suas dúvidas após a aula. Relacionamento com familiares foi caracterizado com dificuldade, principalmente devido às atitudes que esses tinham nas situações em que ocorria a alteração de linguagem. Os familiares costumavam corrigir as falas dos participantes, diziam que eles estavam falando as palavras do jeito errado e pediam para que repetissem até falarem do jeito correto. As atitudes dos colegas da escola foram umas das relatadas com maior obstáculo, devido às imitações, apelidos e brincadeiras que faziam relacionadas às dificuldades de linguagem. Diante dessas situações, a maioria dos participantes disse sair de perto dessas pessoas, e evitar aproximarem-se delas e de locais que elas costumam frequentar. Seguem dois trechos que trazem a dificuldade nesse domínio “porque assim ... eles enchem meu saco, enchem e eu não consigo dormir” (participante 3), “eu tento só evitar essas pessoas... a hora que eu vejo alguém falando meu nome, eu saio” (participante 18).

Considerações Finais

O uso da CIF possibilitou que as crianças e adolescentes falassem sobre diversos aspectos das alterações de linguagem além da dimensão orgânica e patológica, abrangendo a dificuldade para falar e conversar em diversos ambientes (casa, escola, lazer) e com diferentes interlocutores (família, amigos, desconhecidos, professores, colegas de escola). O conhecimento da percepção das crianças e adolescentes acerca de suas alterações linguagem também é essencial, por proporcionar um espaço para que eles próprios falem das angústias que mais os afligem. Ao utilizar uma abordagem biopsicossocial de funcionalidade e participação foi possível correlacionar as alterações de linguagem com o contexto social e ambiental desse grupo populacional. Dessa maneira, essa abordagem possibilitou conhecer as dificuldades e potencialidades dessas crianças e adolescentes, trazendo contribuições para o planejamento de ações na atenção à saúde dos mesmos na perspectiva da integralidade do cuidado.

Palavras Chave

CIF; Participação Social; Barreiras Comunicação; Alterações de Linguagem; Promoção de Saúde; Comunicação Interdisciplinar.

Area

Comunicação e Saúde

Autores

Amanda Brait Zerbeto, Regina Yu Shon Chun, Maria de Lurdes Zanolli