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Título

Filosofia com crianças e adolescentes, através da Literatura – expressando uma experiência.

Introdução

Com o engendramento de uma outra ordem no ocidente  o Capitalismo em sua modalidade biopolítica  a escola, a nosso ver, reconstitui-se em mais um “equipamento coletivo”(1) eficaz na construção e fabricação de certo tipo de subjetividade: homogênea, reprodutora, serializada, alienada e normatizada, a serviço da manutenção e ampliação da referida ordem(2). Testemunhamos, no geral, a invenção de intervenções “teórico-práticas” na Educação configuradas por racionalidades comprometidas apenas com a aquisição e não com o aprender, com a representação e não a criação. Preocupadas, segundo Félix Guattari, em encaixar a criança de qualquer jeito em registros de referências dominantes estabelecidos pelos adultos(3). Neste momento da história do pensamento, parece-nos que a noção de ser / indivíduo como algo acabado, pronto, é, no mínimo, insuficiente. Neste início de século, sem dúvida, a subjetividade desloca-se da noção de indivíduo acabado e emerge como uma grande questão filosófica. Uma subjetividade que, hoje, é também entendida como processo, inacabada e, portanto, possível de bifurcar e inventar outras maneiras e modos de vida. Entretanto, ainda que essa resistência se nos apresente como um possível, produzi-la, é um processo que nos impõe urgentes, sutis e intensas exigências. Podemos vislumbrar que é absolutamente necessário produzir territórios existenciais outros, capaz de escapar desse aprisionamento e dominação. No entanto, o que, talvez, não fique tão claro é que a condição dessa produção aponta para uma ultrapassagem: é preciso ultrapassar a prática da aplicação do já sabido. Torna-se imprescindível a criação [...] Criar outras temporalidades, outros olhares, outras escutas, outras maneiras de interpretar a realidade. Daí a aguda precisão de reinventarmos as nossas práticas e, sobretudo, as nossas próprias subjetividades e suas sensibilidades — especialmente quando os territórios existenciais em questão dizem respeito a crianças e adolescentes.

Objetivos

Favorecer, através da Filosofia e da Arte, “menor” (4) em especial da Literatura, que crianças e adolescentes, de certa escola pública brasileira, pudessem experimentar outros modos de operar a sensibilidade e o pensamento, preferencialmente, não apenas mais extensos como mais intensivos, como uma potente ferramenta na construção de outros modos de sentir, pensar e agir, inéditos e adequados, capazes de afirmar a potência singular de seus corpos, individuais ou coletivos, já que esses corpos, na saúde, mas, também, na doença, são resultados, inclusive, da interferência deste nosso mundo, hoje, violentamente homogeneizado, banalizado e globalizado. Problematizar se, e em que sentido, poder-se-ia tomar a metodologia criada como uma tecnologia social.

Desenvolvimento

Experiência, em caráter de plano-piloto, constituída e desenvolvida por uma equipe transdisciplinar, junto a alunos do 9º ano de colégio de aplicação de uma universidade pública. Foi apresentada aos estudantes, uma das histórias infanto-juvenil, que compõe o Projeto “Arquipélago do Pensamento” (5), ainda inédito, pela professora de Língua Portuguesa da turma. No momento inicial, os estudantes foram provocados a interpretar e a analisar gramaticalmente, de modo individual e coletivo, o texto literário e a construir um final para o texto, já que se tratava de uma obra aberta. O segundo momento, constituiu-se por encontro com os autores e o ilustrador da obra e outros professores da turma, os das disciplinas História e Geografia, além de estagiários, graduandos do curso de Educação. Encontro marcado por conversação com os estudantes acerca das questões e problemas filosóficos experimentados, de modo “afectivo”(6), no texto literário. Nesse sentido, a Literatura foi usada como uma materialidade intempestiva, fora dos trilhos, capaz de desviar-se do sistema linguístico dominante.

Considerações Finais

A experiência de tratar a Filosofia através da Literatura, sem qualquer submissão estre elas, indicou que é possível pensar a Literatura para experimentar e aprender, com rigor, conceitos filosóficos, tomados como singularidades, no rastro de Gilles Deleuze (7). Brincou-se com as palavras e suas relações para se pensar isto, neste caso, a Filosofia. Aprender como uma operação que, de modo necessário, escapa à transmissão e desloca a inteligência de sua clássica soberania, para afirmar a experimentação sensível e “afectiva”. Mas não a experimentação de qualquer estilo de Literatura. Mas a de uma “literatura das ideias”, clínica, singular, que produz um “devir outro” da própria língua, que expurga os clichês e não se insere em nenhuma formatação a priori, cumprindo a função de exprimir, isto é, fazer ver e ouvir a própria vida (8).Referências:
(1) Guattari F, Rolnik S. Micropolítica : cartografias do desejo, 3ªEd. Petrópolis:
Ed. Vozes, 1993.
(2) Guattari F, Rolnik S. Micropolítica : cartografias do desejo, 3ªEd. Petrópolis:
Ed. Vozes, 1993.
(3) Guattari F, Rolnik S. Micropolítica : cartografias do desejo, 3ªEd. Petrópolis:
Ed. Vozes, 1993.
(4) Deleuze G, Guattari F. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. Vol 5. São Paulo: Ed. 34, 1997.
(5) Ramos VC, Saboia E, Maciel A, Pélbart PP. Arquipélago do Pensamento. Não Publicado.
(6) Spinoza, B. Ética. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 1992.
(7) Deleuze, G. Proust e os Signos. Rio de janeiro: Forense-Universitária, 1987.
(8) Machado, R. Deleuze e Literatura. Conferência. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=aOn8xy4N5hc. Acesso em fevereiro de 2018.

Palavras Chave

Filosofia, Literatura, Subjetivação

Area

Ética, Bioética e Filosofia em Saúde

Autores

Valéria do Carmo RAMOS, Leandro Ramos Teófilo