Datos del trabajo


Título

A pesquisa qualitativa como escolha metodológica para os estudos sobre violência de gênero.

Introdução

Os estudos acerca da violência de gênero, por se tratar de um fenômeno sócio- histórico nos evidenciam uma necessidade de atuação interdisciplinar, multiprofissional e intersetorial (Minayo, 2006). Nesse sentido, os estudos que tomam a violência contra as mulheres como objeto de pesquisa se fazem presentes no campo da Saúde Coletiva e também nas Ciências Humanas e Sociais, tendo a metodologia qualitativa como uma estratégia de investigação apropriada justamente por permitir compreender tanto as dimensões subjetivas e simbólicas do comportamento humano quanto os processos vividos pelos atores sociais. No âmbito ético da pesquisa, o paradigma qualitativo apresenta uma série de implicações porque rompe com o modelo tradicional que estabelece a separação do sujeito com seu objeto de pesquisa e valida as experiências pessoais e os saberes populares como também produção científica. (SAGOT; SHRADER, 2000)
A violência contra as mulheres é um fenômeno de problema social e de ordem política, no qual necessitou contribuições decisivas das feministas a fim de que estudos sobre essa temática adentrassem o campo do conhecimento científico e acadêmico. Castro e Riquer (2003) ao revisarem pesquisas sobre a violência de gênero apontam que existe um paradoxo quando aplicamos somente dados empíricos às questões tão complexas e estruturais como é o caso do patriarcado, pois segundo as autoras, esses dados se reduzem apenas a características sociodemográficas (idade, escolaridade, ocupação, etc) e aspectos culturais (sobretudo o consumo de álcool e drogas) caracterizando então, a existência de uma falácia metodológica que reduz um fenômeno de caráter social e estrutural à indicadores individuais.
Embora tratemos a violência de gênero como um mecanismo de ordem social, cada mulher o interpreta singularmente, pois o critério de avaliação de um ato violento situa-se no terreno na individualidade e da subjetividade. Entendida dessa forma, a violência não encontra um lugar ontológico uma vez que sua percepção não é unânime, sendo assim torna-se impossível fazer ciência sobre a violência uma vez que não há ciência do individual. (SAFFIOTI, 1997)
Gonzalez Rey (2003) nos ajuda a entender a subjetividade rompendo com a idéia de que ela substitui os outros sistemas complexos do homem (bioquímico, fisiológico, laboral, etc) sendo esses fenômenos individuais, mas ela também se encontra nas diferentes dimensões sociais, criando um espaço sensível para seu desenvolvimento, sendo produzida no nível social e individual simultaneamente. Dessa forma, ao colocar a subjetividade em duas categorias, social e individual, as mesmas se caracterizam em momentos distintos porém partes de um mesmo sistema, pois se expressam por meio de sujeitos concretos que se posicionam ativamente, no entanto, não trata-se de uma reprodução linear de um tipo de comportamento ou emoção, mas sim de uma produção singular que é constituída pelo seu histórico individual, social e cultural.
A partir da complexidade e do aspecto multidimensional que permeia as questões sobre violência de gênero, a escolha pelo método qualitativo de pesquisa se justifica justamente por se ocupar, dentro das Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado, que trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes, entendendo o conjunto de fenômenos humanos como parte da realidade social. (MINAYO, 2010). Dessa forma, em especial na modalidade qualitativa o pesquisador assume responsabilidades éticas- sociais desde a construção do seu objeto de conhecimento até o término de análise e discussão dos dados produzidos.

Objetivos

Nesse trabalho buscamos fazer um levantamento bibliográfico dos estudos acerca da violência de gênero que tem como metodologia a pesquisa qualitativa.

Desenvolvimento

Na primeira etapa para o desenvolvimento dessa pesquisa, foi realizado levantamento bibliográfico a partir das publicações de artigos, dissertações e teses através de pesquisa virtual. Utilizamos base de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS- Brasil) com os seguintes descritores: violência de gênero AND pesquisa qualitativa; violência contra a mulher AND pesquisa qualitativa.
Foram encontrados 42 trabalhos para o primeiro descritor comentado, e 24 para o segundo entre os anos de 2008 a 2016. Com isso, na segunda etapa realizamos uma leitura prévia dos resumos para identificar se os estudos teriam relação com o objetivo proposto, e após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, 20 trabalhos constituíram a amostra. Para uma melhor sistematização dos dados, os mesmos após leitura na íntegra, foram inseridos em tabela do Microsoft Excel divididos pelas colunas: ano de publicação; região da produção; tipologia da violência; abordagem metodológica; sujeitos da pesquisa e método de análise.

Resultados: Os resultados obtidos a partir do levantamento e sistematização dos dados foram: Ano de publicação 2008 (1), 2010 (2), 2011 (7), 2012 (1), 2013 (2), 2014 (1), 2015 (2) 2016 (4). Região de publicação: Brasil (15) sendo 8 na região sul, 2 na região nordeste, 1 na região norte e 5 no sudeste do país; África do Sul (2), Colômbia (1) Ásia (1) e 1 (uma) pesquisa desenvolvida em vários países. Sobre a tipologia da violência estudada: violência doméstica (5), violência de gênero (3), violência física (1) violência sexual (1) e 10 (treze) violência não especificada. Em relação a abordagem metodológica foram levantadas entrevistas de profundidade (7) e entrevistas semi-estruturadas (13) sendo que dessas, 4 (quatro) também foram acrescidas grupos focal, etnografia (1) e observação participante (3).
Com relação aos sujeitos entrevistados foram levantados mulheres vítimas de violência, adolescentes, profissionais da aera da saúde e jurídica, trabalhadoras do sexo, mulheres usuárias de crack, parteiras e travestis. As análises utilizadas para tais pesquisas foram: análise de conteúdo (10), análise de discurso (5) fenomenologia social (2) e metodologia grounded theory (teoria fundamentada em dados) (3).

Considerações Finais

Concluímos que abordagens qualitativas vêm sendo utilizada por muitos pesquisadores no estudo sobre violência de gênero pois, uma vez que a temática não se limita apenas a fenômenos biológicos, essa abordagem possibilita compreender os comportamentos e processos de significação das pessoas com relação as suas experiências de vida sobre a violência.

Palavras Chave

metodologia qualitativa, violência contra as mulheres, gênero

Area

Violências e Saúde

Autores

Laís Helena Dutra, Carlos Roberto de Castro Silva