Datos del trabajo


Título

O CUIDAR DE SI DA MAE-CUIDADORA DA CRIANÇA/ADOLESCENTE COM PARALISIA CEREBRAL

Introdução

Tornar-se mãe de uma criança com necessidades especiais impõe a mulher a vivência de diferentes estressores, iniciando-se um novo modo de ser e de estar no mundo. Nesse processo a mãe passa a ser a pessoa da família que mais adaptações precisa fazer em seu cotidiano, para atender às necessidades do filho. Por vezes, essa mulher-mãe passa a viver com e pelo seu filho, abdicando de outros papéis que desempenhava rotineiramente (MILBRATH, 2013). O cuidado dispensado ao filho com necessidades especiais pode causar o isolamento social à cuidadora principal, , sendo as atividades sociais reduzidas e ou eliminadas em virtude das demandas do cuidado, sobrecarga que pode gerar desgastes físicos, psicológicos ou emocionais (BRACCIALLI et al., 2012). Sob essa ótica, não resta à mãe tempo suficiente para cuidar de si, com autoconsciência, autoanálise e autocrítica, o que é necessário para quem se propõe a cuidar do outro (AMORIN, 2013). Ao discutir o cuidar de si, faz-se necessário refletir sobre a perspectiva do cuidado, uma vez que este não pode ser considerado apenas como uma ação na qual se faz algo por ou para alguém, mas sim, uma ação que constitui o próprio ser humano, sofrendo influências dos sentidos e significados que o ser dá às suas vivências. É no cuidar de si que o ser-no-mundo desvela-se (WALDOW, 2016). Portanto, cuidar exige conhecimento, dedicação e preocupação com o outro e consigo. As maneiras de cuidar de si, do outro e de nós quando interligadas, acontecem em circularida¬de, fortalecendo relações em que o ser cuidador é e sente-se cuidado, numa relação de troca mútua. Destarte, o cuidador antes de exercitar o cuidado do outro, deve exercitar o cuidado de si, buscando a integração das dimensões física, mental e espiritual para alcançar harmonia, cuidando de si e sentindo-se cuidado pelo outro (BAGGIO; ERDMANN, 2015). Mães-cuidadoras de crianças com paralisia cerebral vivenciam diversos estressores que afetam sua qualidade de vida, por dedicarem a maior parte do seu tempo aos cuidados com o filho, em detrimento do tempo de dedicação a elas mesmas (MIURA; PETEAN, 2012; SILVA; PONTES, 2016). Segundo Heidegger (2001), a maneira de cuidar, estando para e pelo outro, é definida como cuidado autêntico, que significa o cuidado para a autonomia. Entretanto é necessário que a mãe também seja cuidada.

Objetivos

Compreender o cuidado de si da mãe-cuidadora de criança/adolescente com paralisia cerebral.

Método

Pesquisa qualitativa com abordagem fenomenológico-hermenêutica, desenvolvida com dez mãe-cuidadoras de crianças e adolescentes com idades entre cinco e 19 anos e necessidades especiais decorrentes da Paralisia Cerebral. A coleta das informações ocorreu entre abril e junho de 2015, por meio da entrevista fenomenológica, em uma sala reservada de uma associação de apoio ao excepcional em um município do sul do Brasil, E nos domicílios das participantes. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética, parecer nº 1.001.573, em 26/03/2015, respeitando-se a Resolução 466/2012 (BRASIL, 2012). Considerando a complexidade da interpretação ontológica do ser, utilizou-se a interpretação Hermenêutica de Ricoeur (1978), agregando o filósofo Heidegger

Resultados

Ao dialogar com as participantes em relação a sua compreensão sobre o cuidar de si, desvelou-se que este é associado ao cuidado com questões estéticas, contudo mesmo no momento de ir ao salão de beleza, tratar unhas e cabelos, as mulheres levam seus filhos consigo. No entanto, poucas mães realizam tais atividades, demonstrando preocupação com sua aparência, . Estudo que objetivou entender a vaidade feminina e sua relação com a auto-estima, constatou que, quanto maior a vaidade, maior a autoestima das mulheres (STREHLAU; CLARO; LABAN NETO, 2015). Nesse sentido, o cuidador que cuida de si tem melhor qualidade de vida e terá melhores condições de cuidar do outro, valorizando sua condição humana e a do outro de existir no mundo (BAGGIO, 2012). De acordo com Heidegger (2013) cuidar de si, é cuidar do ser e de ser, responsabilizando-se por este ser. Outro tipo de cuidado de si identificado entre as participantes deste estudo foi a busca por atendimento médico quando a saúde é afetada, o que acontece quando essas mães sentem muitas dores, principalmente lombares que comuns, pois cuidar de uma criança/adolescente com paralisia cerebral pode demandar grande esforço físico. Assim, essas mães apresentaram um índice significativo de sobrecarga e de regiões álgicas, sendo a dor o reflexo das atividades diárias, em que a dedicação em tempo integral às crianças dificulta o cuidado de si dessas mães. Dessa forma, cuidar de si é cuidar do que se é (BOFF, 2014), exercendo o poder de ser-si-mesmo, em qualquer situação do cotidiano, pois o ser-no-mundo é cuidado-de-si-mesmo e cuidado-ser-com-outros (HEIDEGGER, 2006). Nessa coexistência, o ser humano necessita preocupar-se com o cuidado do outro e com o cuidado de si, assim, essas mulheres-mães necessitam preocupar-se com o cuidar de si, para além do cuidar do filho. Todavia, a maioria das mães-cuidadoras relata que não tem tempo para o cuidado de si, referindo que o horário do banho é o único momento em que cuidam de seu corpo. A falta de apoio e a necessidade de abrir mão do trabalho para ficar com o filho, impedem a dedicação de algum tempo para cuidar de si (Britto, 2012). O cuidado dispensado ao filho por essa mãe é entendido como autêntico, ou seja, o cuidado para a autonomia, pois possibilita ao outro dar seus próprios passos, realizar sua própria vida, auxiliando na construção existencial do filho e permitindo construir sua própria existência (ROSSELÓ, 2009).

Considerações Finais

Ao compreender o cuidar de si das mães-cuidadoras foi possível realizar uma aproximação com a cotidianidade dessas mulheres, emergindo a reflexão sobre a vulnerabilidade de existir como ser humano exposto a diversas facticidades existenciais e a capacidade de superação ao adotar uma atitude autêntica e de dedicação para com o outro. Constatou-se que o tornar-se mãe de uma criança com necessidades especiais, ao vivenciar a condição existencial do filho, coloca em segundo plano o cuidar de si.

Palavras Chave

Cuidado; Mãe; Paralisia Cerebral.

Area

Deficiência, Inclusão e Acessibilidade

Instituciones

Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Rio Grande do Sul - Brasil

Autores

Vera Lucia Freitag, Viviane Marten Milbrath, Indiara Sartori Dalmolin, Ruth Irmgard Bärtschi Gabatz, Maria Graça Corso Motta, Manoella Souza Silva, Karine Lemos Maciel