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Título

A ENGENHARIA DE UMA PESQUISA QUALITATIVA SOBRE O PROGRAMA MAIS MÉDICOS NO BRASIL: NO PERCURSO, A ESCOLHAS

Introdução

Essa é uma reflexão teórico-metodológica sobre o estudo de uma Política Pública de Saúde (o Programa Mais Médicos do Ministério da Saúde do Brasil). Apresenta-se, aqui, uma reflexão de um processo de pesquisa que buscou extrapolar a formalidade da “grande” política, na qual ganharia destaque aspectos como o legal, o institucional, o enunciado oficial e valorizar e dar visibilidade às práticas de sujeitos sociais que têm como atribuição a viabilização das políticas oficiais no nível local, adotando, portanto, uma abordagem micropolítica.

Objetivos

Apresentar como, no correr do estudo, e tendo em vista o enfoque micropolítico adotado, emergem novas problemáticas de pesquisas e mudanças nas estratégias de investigação

Desenvolvimento

Trazemos para essa reflexão a compreensão de que a análise de uma política se configura como um estudo social, inserido no campo multi e interdisciplinar mais amplo da Saúde Coletiva brasileira, o que implicará em um modo muito particular de construir problemas teórico-práticos em função do objeto em estudo (CECÍLIO, 2014).
Mas que contextos e vivências permitiram, nesse estudo, uma possibilidade de análise de uma política pública a partir dessa perspectiva?
Primeiramente, essa perspectiva de análise emergiu de inúmeras provocações realizadas a essa pesquisadora, que tinha uma construção prévia do objeto no qual a política pública em saúde situava-se no campo restrito de atuação de um conjunto de instituições e grupos de sociedade que modulavam o Estado (MATTOS, BAPTISTA, 2015).
Apoiaram nessas indagações e reflexões os incômodos provocados por aqueles que acompanhavam a pesquisa, meus pares, que anteviam, a partir de suas experiências, a necessidade de construções de investigações qualitativas na área de Políticas, Planejamento e Gestão em Saúde. Estudos em que as categorias, usadas de maneiras funcionais/normatizada seriam ponto de partida para uma travessia, ajudariam a cruzar uma linha e visitar um outro lado (CECÍLIO, 2014). Assim, a partir dessas desestabilizações e indagações foram promovendo aproximações e reaproximações com o objeto de estudo e novos delineamentos foram sendo realizados.
A compreensão que o processo de pesquisa é uma produção de conhecimento, torna necessário expressar e refletir sobre as implicações ético-política da pesquisadora, evidenciar redes de conexões, repertórios e práticas e, dessa forma, demonstrar que relações podem ser realizadas com os conhecimentos e como essas podem potencializar movimentos e (re) significar sentidos e vivências.
Assumirei meu triplo estatuto na pesquisa: um sujeito de pesquisa que traz consigo lugar de militância na área da saúde, trabalhadora, defensora de Sistema Único de Saúde público e com qualidade, gestora, no âmbito federal, especificamente na área de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde e, atualmente, dirigente de um hospital municipal da região metropolitana de Porto Alegre. O registro desse lugar da pesquisadora dá pistas para se compreender escolhas da pesquisa, assim como possibilita a reflexão de suas implicações na pesquisa, críticas e autocríticas.
Assim, a analista da política tinha um entendimento da política em questão, a partir dos lugares que ocupava/transitava e dos inúmeros atravessamentos que a constitui, compreendendo o Programa Mais Médicos basicamente com uma ação governamental importante para garantia do direito dos usuários, ampliação do acesso a serviços de saúde e, estratégia de mudança de Modelo Tecnoassistencial em Saúde, a partir do fortalecimento da Atenção Básica em Saúde.
Na parceria com meu orientador, gradualmente fui me colocando novas questões: o que realmente acontecia na implementação da política nos seus contextos locais? Que influencia teriam os sujeitos no desenvolvimento dessa política nos territórios, a partir dos sentidos que davam ela? Essas questões gradualmente me levaram a fazer uma “suspensão” de certezas, referências e pressupostos que eu trazia, e ousar, iniciar uma travessia: construir o objeto que me interessava de outra perspectiva.
Adotada tal postura epistemológica, emergem novas problemáticas de pesquisas e mudanças nas estratégias de investigação. Assim, procedeu-se, a partir das reflexões apresentadas acima, um (in)tenso debate sobre a utilização de métodos qualitativos nessa pesquisa em saúde, um debate que se iniciou com o questionamento de que caminhos e procedimentos poderiam responder melhor a questão dessa pesquisa, servir aos propósitos dela.
A incorporação dessas reflexões foram dando os contornos do estudo, que se configura com uma pesquisa qualitativa. A pesquisa qualitativa é demarcada a qualidade/qualitativo(a) na interface com a subjetividade, cujos objetos exigem respostas não traduzíveis em números, pois tomar como material a linguagem em suas várias formas de expressão (BOSI, 2012).
Dessa forma, optou-se, no estudo pelo método de história de vida para que fosse possível realizar a análise de uma política pública, compreendendo os sentidos dados pelos médicos ao programa e demonstrando uma prática social de um grupo. Assim, permitindo expressar não apenas a política formal, mas o mundo dessa política, suas possibilidades no cotidiano
Essa escolha metodológica teve como objetivo abordar as singularidades de um modo de construção de políticas públicas, contemplar o nosso modo de elaborar e construir políticas públicas, com os conceitos que a Saúde Coletiva proporciona e contribui a uma análise.
Portanto, verifica-se, no caminho trilhado nesta pesquisa a construção de um referencial teórico e metodológico, que buscou a coerência com as questões circunscritas no estudo.

Considerações Finais

Conforme Escóssia e Kastrup (2005), o mundo não está dado, nos fornecendo informações prontas; assim devemos tomá-lo como uma invenção, engendrado, conjuntamente, entre os agentes do conhecimento. Assim, o processo de desenvolvimento da pesquisa, os deslocamentos da pesquisadora e reaproximações com o objeto do estudo, permitiram a construção de perspectiva epistemológica de uma análise de política pública que busca dar destaque aos sujeitos e processos implicados com seu desenvolvimento, verificando o sentido dados a política por aqueles que fazem sua construção cotidiana.

Palavras Chave

políticas públicas. micropolítico. pesquisa qualitativa

Area

Outros

Instituciones

Universidade Federal de São Paulo - São Paulo - Brasil

Autores

Quelen Tanize Alves da Silva Quelen, Luiz Carlos de Oliveira Cecílio Cecílio