Datos del trabajo


Título

Pesquisa qualitativa e compromisso ético-politico: desafios em territórios vulneráveis

Introdução

O referencial das ciências humanas e sociais na saúde tem contribuído para a construção de abordagens de pesquisa que buscam ampliar a compreensão do humano para além do escopo das ciências naturais. Isto significa incluir aspectos de modos de sociabilidade, visões de mundo, hábitos, atitudes que constroem a realidade social, como diriam Berger & Luckman no clássico, A Construção Social da Realidade. O esforço de compreendermos os significados e sentidos que constroem o mundo simbólico de pessoas, grupos e comunidades tem exigido a criação de instrumentos de pesquisa que por um lado aproximam os pesquisadores da realidade concreta de seus sujeitos por outro geram questionamentos dos limites destes vínculos intersubjetivos estabelecidos. Neste sentido ao colocarmos em cheque a suposta neutralidade do pesquisador indagamos sobre seu papel social ou, em outras palavras, seu compromisso com a transformação social. Este tipo de questionamento fica mais evidente quando atuamos em comunidades marcadas pela desigualdade social, visto que a determinação social dirige nosso olhar sobre processos de saúde-doença e cuidado. As metodologias participativas, destacando a pesquisa participante, trazem esta dimensão ético-politica da pesquisa e alguns dos desafios da construção de vínculo entre pesquisador e sujeitos da pesquisa. Partindo do pressuposto que a historicidade, a crítica e a contextualização sócio-histórica regem nosso olhar para as práticas em pesquisa consideramos a necessidade de reforçarmos a discussão sobre o papel da pesquisa em meio a situações de exclusão social. Consideramos que a efetividade da pesquisa esteja associada com visão politizada de suas práticas. Além disso, que esteja associada com outros tipos de intervenção que contribuam como fortalecimento do compromisso do pesquisador, além das instituições de ensino e pesquisa da qual faz parte, com a cidadania e a autonomia.

Objetivos

Desta forma trazemos algumas reflexões suscitadas sobre os primeiros passos de duas pesquisas em andamento: sobre participação social e subjetividade, com financiamento do CNPq e outra sobre a ética do cuidado e direitos humanos, com financiamento da FAPESP, especificamente a fase de reconhecimento de território. Aspecto este que trouxe questionamentos, pois nos territórios, alvos das pesquisas, já havia inserção da universidade, inclusive de alguns dos pesquisadores, com outras ações, destacando estágios profissionalizantes, projetos de extensão e práticas de disciplinas de graduação, entre outras.

Método

Estas pesquisas de caráter qualitativo, com abordagem referenciada na pesquisa participante, têm como locais e sujeitos dois territórios de alta vulnerabilidade na Baixada Santista, especificamente o bairro Vila dos Pescadores em Cubatão/SP, e os Morros em Santos. O primeiro local está localizado às proximidades dos mangues, bastante poluído, com mais de 20 mil habitantes, atendidos pelo Estado, principalmente, por meio de uma unidade básica de saúde com três equipes de saúde da família. Por sua vez na região dos Morros a pesquisa acontece referenciada em três unidades de saúde da família (USF) em Santos. Região marcada por questões do tráfico e novas ocupações em áreas perigosas e insalubres, sem o mínimo de infra-estrutura. Destacando a luta pela legalização da terra na Vila Progresso, pois pagam aluguel do terreno onde moram, além de outros impostos.
A forma de aproximação destes territórios se deu basicamente por meio de três instrumentos: observação participante, entrevistas semi-dirigidas e entrevistas em profundidade. Estas atividades tiveram inicio após as aprovações do Comitê de ética, incluindo o aval das respectivas secretarias de saúde de Santos e de Cubatão. Estas atividades aconteceram de junho até dezembro de 2017. Foram produzidos muitos diários de campo e entrevistas, temos por volta de 200 páginas de transcrições deste material, sendo que a análise se deu pelo referencial da hermenêutica de profundidade.

Resultados

Esta etapa da pesquisa visava o mapeamento das forças locais e demandas do território que favorecesse a constituição de um grupo de pesquisa que incluísse, além dos pesquisadores, profissionais de saúde e lideranças comunitárias de ambos os territórios. Todavia notamos desafios importantes nesta fase de reconhecimento, os quais expressamos no seguinte eixo: implicações sobre a qualidade do vínculo entre pesquisadores, sujeitos e territórios.
O lócus principal destas pesquisas se encontra nas USFs, na perspectiva ampliada, pois inclui lideranças da comunidade também. Neste sentido os encontros realizados com profissionais de saúde, em reuniões de equipe foram muito produtivas, primeiro porque se mostraram disponíveis a participar. Acreditamos que este voto de confiança esteja associado com envolvimento destes pesquisadores/docentes e discentes que há anos atuam em diferentes frentes o território. Apesar da adesão amorosa destes profissionais às propostas das pesquisas percebemos que a visão de pesquisa está associada ao referencial positivista, em que o papel deles seria de responder a questionários já formulados pelos pesquisadores. Esta situação sugere uma responsabilidade ainda maior quanto à construção de novas formas de se fazer pesquisa, mais do que isto que seja vista como instrumento de crítica e transformação da realidade por eles mesmos. Além disso, se evidenciou o impacto negativo de medidas governamentais desestruturantes do Sistema Único de Saúde, como a falta de medicamentos, de novas contratações de profissionais e principalmente medidas na nova PNAB, que mina o papel estratégico dos Agentes Comunitários de Saúde, entre outras.
Nesta linha de desafios a questão da violência tem aparecido como um fator preponderante. A evidência das questões sócio-econômicas e políticas como estruturante para ações em saúde têm aparecido, junto ao desmonte do aparato público, como diferentes formas de violência, destacando a influência cada vez maior do tráfico de drogas e aumento da pobreza, expresso pelo aumento do número de desempregados e da fome. Do ponto de vista do desenvolvimento da pesquisa este contexto tem gerado muitas dificuldades, inclusive de segurança da equipe de pesquisadores. Ao mesmo tempo notamos que propiciar espaços de diálogo, de afetos e trocas de experiências entre diferentes atores sociais contribui com a construção de novas formas de enfrentamento destas adversidades.

Considerações Finais

A dimensão ético-política mostra-se um eixo importante de aprimoramento de pesquisas qualitativas participativas, especialmente em territórios marcados pela desigualdade social. A construção destas parcerias implica em processos intensos de presença no território, os quais se sustentam pela confiança e amizade construídas no espaço público.

Palavras Chave

Pesquisa Participante, Ética, Exclusão social,

Area

Ética em pesquisa: desafios da pesquisa social em saúde

Autores

Carlos Roberto Castro-Silva, Danilo Miranda Anhas, Karina Rodrigues Mataveli Rosa, Luciane Pezzato, Mayara Vianna