Datos del trabajo


Título

PESQUISA SOBRE O HIP HOP NA PERIFERIA CUBATENSE A PARTIR DO OLHAR DE UM JOVEM PESQUISADOR

Introdução

Hip hop é um tipo de manifestação cultural e mobilização social da contemporaneidade, principalmente da juventude negra. O movimento possui diversas formas de envolvimento e participação, mas os elementos indignação e reivindicação aparecem com alguma frequência. Esta manifestação artística surgiu nos guetos estadunidenses e britânicos, consistindo em uma mistura de vários elementos sonoros e, posteriormente, de dança e poesia. Foi e é bastante comum entre grupos oprimidos e excluídos. No contexto estadunidense, era praticado por negros e latinoamericanos. Aparece como uma expressão artística e como modo de resistência à perversidade capitalista principalmente em contextos de vulnerabilidade social onde esta perversidade se acirra. Dessa forma, não é raro ver em nosso país coletivos de jovens da periferia que se reúnem em torno dessa expressão artística, ajudando-lhes a imprimir uma outra visão de mundo que dê sentido para suas existências, frequentemente permeadas pela precariedade e desigualdade sociais. Esta pesquisa se refere a uma iniciação científica realizada por um jovem morador da periferia cubatense sobre a sua inserção em um grupo de hip hop existente em sua comunidade. A Vila dos Pescadores (VP), como é chamada, é uma comunidade é uma região de vulnerabilidade social altíssima. Construída sobre o mangue nos anos 1960, o crescimento populacional e geográfico do bairro acompanhou a intensa industrialização pela qual passou o município de Cubatão/SP na mesma época. Esse processo atraiu muitos migrantes, sobretudo do nordeste, a se instalarem na cidade. Têm-se realizado estudos com a juventude do bairro desde 2013 e se percebido que, se por um lado há um forte envolvimento destes com o tráfico de drogas e criminalidade há também uma forte busca destes jovens para se criar estratégias de enfrentamento contra a desigualdade social.

Objetivos

Compreender o que leva à participação e ao envolvimento de jovens com o hip hop em uma comunidade periférica de Cubatão/SP.

Método

Esta pesquisa é financiada pelo CNPq na modalidade bolsista júnior e realizada por um jovem morador da comunidade. Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa de inspiração na pesquisa participante, mais precisamente na autoetnografia, quando é o próprio pesquisador objeto de seu estudo. Esta pesquisa enquadra-se no âmbito das metodologias participativas e tem como principal instrumento de construção da informação qualitativa a observação participante. A observação participante permite maior engajamento e envolvimento com a realidade estudada, assim como com os indivíduos que participam da pesquisa. Tendo em vista que o jovem pesquisador desta iniciação científica já faz parte do grupo de hip hop, este tomou suas vivências no grupo como objeto de análise e reflexão. Para cada observação foi produzido um diário de campo, nos quais foram registradas as vivências, percepções e sentidos associados à própria participação no grupo. O grupo realiza seus treinamentos de dança e rap há seis anos às segundas e quartas-feiras no Centro Comunitário da Vila dos Pescadores, local público, no período noturno. Nos diários foram focadas as percepções e sentidos do próprio pesquisador. Todos os diários, baseados no relato do próprio pesquisador, foram analisados segundo a metodologia proposta por Aguiar e Ozella dos núcleos de significação. Esta metodologia compreende as etapas: a) leitura flutuante de todo o material produzido; b) identificação de pré-indicadores ou categorias empíricas; c) identificação dos indicadores e uma primeira aproximação dos sentidos e dos significados da participação no grupo; d) análise dos núcleos de significação, que contém os sentidos e significados construídos sócio e historicamente.

Resultados

Como mencionado, o grupo de hip hop na comunidade é formado majoritariamente por jovens moradores do local. Entretanto, há jovens de outros bairros da cidade no grupo que existe há, aproximadamente seis anos. Os professores, moradores do bairro, aprenderam sobre o hip hop e a dançar com outros tutores, mas também a partir do conhecimento explorado na internet. Geralmente, os jovens do grupo, que se chama Rise Star Crew, foram convidados por seus amigos a participar das aulas e dos treinos. Percebe-se que essa amizade, em primeiro lugar, entre professores e alunos, é bastante forte e impregnada de afetos. Além disso, a amizade construída entre os próprios alunos é o que ajuda a manter a existência do grupo e fortalecer vínculos, levando-nos a nos considerar como uma família. O grupo é um espaço onde há possibilidades de trocas de experiências, sempre havendo o comprometimento com a busca do conhecimento sobre o movimento hip hop. Reitera-se também a transformação do jovem pesquisador durante o processo de realização de sua pesquisa, no sentido de ter ampliado o desejo de aprender mais sobre a sua cultura. Entende-se que por já estar inserido no grupo e depois realizar uma pesquisa sobre o próprio processo de participação é uma forma de fortalecer a proposta da pesquisa participante, reiterando o papel do pesquisador como parte da realidade estudada.

Considerações Finais

Recomenda-se que haja mais incentivo para que os jovens brasileiros, principalmente os da periferia, possam acessar a universidade pública. Pela experiência desta pesquisa, reforçamos que houve uma transformação do jovem pesquisador, adquirindo a oportunidade de refletir sobre novas referências e possibilidades para a própria vida em um contexto marcado pela desigualdade e exclusão social.

Palavras Chave

Juventude; Pesquisa Participante; Cultura; Hip Hop

Area

Cultura e saúde

Autores

Marcos Silva Santana, Danilo de Miranda Anhas, Carlos Roberto Castro-Silva