Datos del trabajo


Título

DIMENSAO AFETIVA NO ESTUDO DA DETERMINAÇAO SOCIAL DO PROCESSO SAUDE-DOENÇA EM COMUNIDADES PERIFERICAS

Introdução

A Psicologia Social Comunitária tem apontado a categoria comunidade como fundamental para a compreensão das relações estabelecidas entre indivíduos e coletivos. Na medida em que estas relações são sempre sociais, culturais e históricas, o contexto no qual se constituem as subjetividades é preponderante no sentido de se compreender formas de participação social e politização dos indivíduos. Cabe ainda destacar que em tais relações e encontros sempre são produzidos afetos alegres, aqueles que aumentam a potência de ação, e tristes, aqueles que a diminuem. Estudos recentes têm apontado os afetos como propulsores da mudança social adquirindo assim importância o seu estudo. Ora, se os afetos podem expressar o conhecimento de si e na medida em que o conhecimento de si está atrelado ao conhecimento da própria realidade social, torna-se relevantecompreender como os afetos podem contribuir na politização dos indivíduos assim como na compreensão da determinação social do processo saúde-doença. Optamos pelo referencial da determinação social do processo saúde-doença, pois acreditamos que este rompe com a hegemonia do modelo dos determinantes sociais, os quais reforçam dicotomias em que o indivíduo está apartado das condições sócio-históricas que o produziram e produzem as relações intersubjetivas e os processos de adoecimento e morte. Um dos grandes desafios em se estudar a dimensão afetiva da determinação social da saúde está em: a) possuir uma visão integral de sujeito e da totalidade da social na qual são forjadas a afetividade e a subjetividade a partir das condições objetivas de cada tempo sócio-histórico; b) dispor de uma metodologia capaz de abranger o estudo de fenômenos tradicionalmente vistos como abstratos, a saber, a subjetividade e a afetividade

Objetivos

Compreender como os afetos podem contribuir na politização dos indivíduos assim como na compreensão da determinação social do processo saúde-doença.

Método

Este trabalho concerne aos resultados parciais de duas pesquisas em andamento financiadas pelo CNPq e FAPESP, realizado pelo Laboratório de Estudos sobre a Desigualdade Social (LEDS) formado por docentes e estudantes de graduação e pós-graduação. Os referidos estudos acontecem em uma comunidade em situação de vulnerabilidade social chamada de Vila dos Pescadores (VP), localizada em Cubatão/SP. Ressaltamos que as pesquisas são atualizações e continuidade de trabalhos (extensão e pesquisa) realizados no local desde 2012 e demarcam a inserção da universidade no território bem como o compromisso ético-político com dada realidade. Inspirados no modelo da pesquisa participante latino-americana e adotando o referencial teórico da Psicologia Social Crítica foram realizados os seguintes procedimentos para construção da informação qualitativa: a) atualização do contexto sócio-histórico, com o objetivo de compreender a organização do sistema de saúde e formas de organização comunitária na comunidade; b) obtenção de informação sobre o cotidiano na comunidade por meio de observações participantes, registradas em diários de campo. Tudo aconteceu com a colaboração de profissionais da saúde da equipe da ESF do bairro, e lideranças comunitárias, indicadas pelos profissionais de saúde; c) entrevistas semi-estruturadas com lideranças comunitárias buscando compreender aspectos das trajetórias de vida, as lutas e o compromisso por melhoras no bairro e nas condições de saúde; d) realização de oficinas para discussão dos resultados e categorias emergentes das entrevistas e observações com o intuito de produzir conhecimento em grupo. A informação qualitativa foi analisada pela hermenêutica de profundidade, composta por três patamares de análise: sócio-histórica, formal e interpretação/reinterpretação.

Resultados

. Resultados: Pescadores artesanais começaram a se instalar na região onde hoje tem-se a VP. O bairro é construído sobre o mangue em condições de habitação e saneamento básico bastante precários. Nos anos 1960 com a intensa industrialização em Cubatão/SP, houve acentuado processo de migração de trabalhadores outras regiões do país, sobretudo do nordeste, fazendo aumentar bastante a população no bairro. Hoje essa população beira os quase trinta mil habitantes e conta com apenas a Unidade de Saúde da Família (USF) como representante do Estado, além, é claro, da polícia, enxergada pela população como a responsável pela insegurança local. Na comunidade há constantes operações policiais devido à radical guerra contra o tráfico de drogas. A unidade de saúde do bairro foi construída nos 1980 devido às constantes mobilizações comunitárias e das lideranças. Com o passar do tempo as lideranças do bairro não se renovaram e a comunidade não tem mais conseguido se organizar para lutar contra o sistemático e constante desmonte do SUS. As condições precárias de subcidadania impõem aos seus moradores uma busca pela sobrevivência imediata, fragilizando vínculos
comunitários de solidariedade, implicando sociabilidades que reforçam a violência e a humilhação social a que estão submetidos. Frente ao desamparo social e à forte desigualdade, o tráfico, fruto deste mesmo desamparo e desigualdade, é quem acaba por ser uma força capaz de paradoxalmente cuidar da população. Há poucos espaços de trocas de experiências nos quais poderiam os afetos alegres circular e produzir encontros potentes. Afetos como tristeza, medo e esperança são recorrentes nos discursos, constrangendo a potência de ação e construção de projetos em prol da mudança social. A percepção do papel da USF pelo território reduz-se à esfera da medicalização da vida reforçada pelo modelo biomédico, deixando escapar o papel ético-político do compromisso pela superação das iniquidades em saúde geradas pela intensa desigualdade.

Considerações Finais

Escolher o referencial da determinação social do processo saúde-doença possibilita de forma ética e política dar visibilidade aos processos de vida,adoecimento e morte de grupos e/ou sujeitos a partir do lugar social ocupado por estes na organização e reprodução da vida em diversas esferas: econômica, política, cultural e social. Isso implica reflexões sobre formas de inserção, escolhas, comportamentos e consumo que irão delinear padrões salutares ou deletérios de condições de vida e sobrevivência de classes sociais inteiras, evitando armadilhas reducionistas de culpabilização dos sujeitos pela sua condição de adoecimento. Apostar na dimensão afetiva para reflexão e discussão dos processos psicossociais de exclusão nas periferias permite o exercício da legitimação dos afetos na construção de pesquisas qualitativas, fortalecendo a construção de espaços de encontros politizadores de todos os envolvidos (sujeitos e pesquisadores).

Palavras Chave

Pesquisas qualitativas; Determinação social do processo saúde-doença, afeto; politização, território de vulnerabilidade social.

Area

Determinação Social

Autores

Karina Rodrigues Matavelli Rosa, Danilo Miranda Anhas, Carlos Roberto Castro Silva