Datos del trabajo


Título

ETNOGRAFANDO O COMER COTIDIANO E FAZENDO APARECER MODOS DE VIVER DO RURAL.

Introdução

Tendo em vista que na materialidade da comida (e do rural) há pessoas que estão inseridos em redes, estruturas, identidades coletivas que, até certo ponto orientam tanto seu modo de viver quanto suas escolhas alimentares, buscou-se conhecer a identidade coletiva que é construída cotidianamente pelas pessoas num lugar-rural. Identidade que, na perspectiva de Bauman, há de ser defendida pelo grupo em relação à imposição dos outros, os de fora. Nesse sentido, em termos analíticos, lançou-se mão do referencial teórico da dádiva, que em seus fundamentos discute que a todo momento as pessoas ligam-se umas às outras doando-recebendo-retribuindo bens (como o alimento) que, ao serem carregados de um simbolismo, transmitem valores e identidades. À luz da teoria da Dádiva, autores contemporâneos sugerem ainda, apreender as dádivas como “dádivas do aparecer”, ou seja, analisar, a partir da comida que circula nos grupos, como as pessoas aparecem e gostariam de ser reconhecidas. A Dádiva do aparecer pode, assim, ser abordada como percepção, ou seja, aquilo que se doa faz parte da auto apresentação; no se fazer aparecer a partir da comida compartilhada e consumida, o ser humano revela-se em sua plenitude, imprimindo sua identidade no e para o mundo.

Objetivos

Analisar, a partir da abordagem etnográfica do comer cotidiano, a construção de identidade coletiva de uma comunidade rural.

Método

Fazendo uso do método etnográfico e do referencial teórico da Dádiva de Marcel Mauss, o estudo contou com a participação de 21 sujeitos (adoecidos e seus familiares, profissionais da saúde e da assistência social e lideranças comunitárias). Como técnicas de pesquisa utilizou-se a observação participante, entrevistas, produção de imagens e anotações em diário de campo. Utilizou-se a etnografia, entendendo que, conforme discute a teoria, "apenas aquele que possui o espírito do dom pode vê-lo a agir" e, para vê-lo agir, foram os elementos do método etnográfico os facilitadores do processo.

Resultados

A partir dos momentos a mesa, compartilhando refeições no campo da pesquisa e observando alimentos que circulavam entre as pessoas e que despontavam como dádivas do aparecer foi possível apreender a construção da identidade coletiva da comunidade rural. A identidade, pela via da comida, apareceu marcada por estigmas étnicos e ligados a uma ruralidade do passado, mas também pela luta para superação desses estigmas. Apareceram lutando para serem reconhecidos pelo valor da família, do trabalho e o compromisso com o outro da relação.

Considerações Finais

Ao praticar a etnografia e, com ela, a antropologia da sensível, foi possível também imergir no campo estabelecendo relações, compartilhando a comida e praticando a arte de ver, ouvir e participar do cotidiano das pessoas. Ou seja, afetar e ser afetado pelo grupo de participantes da pesquisa, acolhendo os elementos que entravam em cena e que diziam respeito justamente a identidade que estava sendo defendida e posta em circulação por eles. Enfim, a teoria da Dádiva e a abertura para a Etnografia foram imprescindíveis como chave para ler os elementos que, a partir da comida, fazem parte da identidade das pessoas. Identidade esta que ao ser reconhecida por profissionais dos serviços de saúde e pelas políticas públicas possibilitam um cuidado mais digno e com menos sofrimento.

Palavras Chave

etnografia, comida

Area

Alimentação e Nutrição

Autores

Eliziane Nicolodi Francescato Ruiz Eliziane, Tatiana Engel gerhardt Tatiana