Datos del trabajo


Título

PROCESSO DE ATENÇÃO A PRESOS COM TUBERCULOSE EM UMA PENITENCIARIA BRASILEIRA

Introdução

A tuberculose (TB) é uma doença infectocontagiosa, sendo a pulmonar sua forma mais comum. No Brasil, no ano de 2015, 69 mil novos casos de TB foram diagnosticados, ocorrendo aproximadamente 4,5 mil mortes. A incidência de TB na população carcerária é 28 vezes maior que a população geral. Sabe-se que o sistema penitenciário brasileiro apresenta instituições com condições precárias de infraestrutura e recursos humanos, e, além disso, possuem mais pessoas confinadas do que a capacidade permitida. Estas condições, diagnóstico tardio e tratamento incompleto favorecem a proliferação da TB nas prisões. Estudos realizados em instituições prisionais brasileiras, estão voltados para a prevalência da doença, avaliação dos programas de controle, e conhecimento e atitudes sobre a TB. Pouco se sabe sobre as dificuldades enfrentadas pelos profissionais sociosanitários na atenção a presos com TB que são seguidos por um programa de controle, e se converte como objeto de interesse compreender por meio dos profissionais sanitários a abordagem da TB em pessoas privadas de liberdade, em uma penitenciária com um programa de controle da TB implementado.

Objetivos

Compreender o processo de atenção realizado pelos profissionais de saúde aos presos com tuberculose.

Método

Estudo qualitativo embasado na Teoria Fundamentada Construtivista. Realizou-se o estudo em uma penitenciária do estado de São Paulo, que apresenta o maior número de presos do país. Participaram do estudo oito profissionais de saúde, selecionados por amostragem com propósito, e que cumpriram os critérios de inclusão: profissionais de saúde que executam ações para o manejo da TB na penitenciária, por mais de seis meses. Os participantes eram na maioria mulheres, de idade compreendida entre 27 a 68 anos, sendo predominante profissionais da área de enfermagem. Os participantes foram contatados diretamente na penitenciária mediante convite prévio e os dados foram coletados pela autora principal em maio de 2017 por meio de entrevistas semiestruturadas com a utilização de um roteiro. As entrevistas foram individuais, audiogravadas, e ocorreram em uma sala reservada na enfermaria da penitenciária em dia e hora conveniente para os participantes. As entrevistas duraram entre 60 a 100 minutos. Os dados foram transcritos em sua totalidade. As transcrições foram comprovadas com as gravações para verificar sua exatidão. Para a análise dos dados foi utilizado os procedimentos da Teoria Fundamentada, utilizou-se o método comparativo constante ao largo da análise. Foi realizada a transcrição literal de cada entrevista pela mesma pesquisadora que realizou as entrevistas; foi realizada a codificação aberta com microanálise da informação, da qual surgiram códigos; na codificação focalizada os códigos foram desenvolvidos em categorias e, os autores discutiram e chegaram a um consenso sobre as categorias. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo e pelo Comitê de Ética da Secretaria de Administração Penitenciária do estado de São Paulo. Os participantes participaram do estudo de maneira voluntária e foi obtida assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; sendo garantida a confidencialidade da informação e o anonimato dos participantes.

Resultados

Os participantes do estudo percebem a TB como uma importante questão de saúde pública e que deve ser abordada com interesse e preocupação, com isso, o processo de atenção realizado pelos profissionais de saúde está descrito em três categorias: 1) Detectar e tratar a doença: para a detecção da doença, os profissionais de saúde tem que se assegurar da veracidade dos sintomas apresentados pelos presos; pois sabem que alguns presos mentem sobre ter os sintomas da doença porque desejam obter os benefícios de estar na enfermaria, o que implica aos profissionais fazer uma investigação mais a fundo sobre os sintomas referidos. Outros presos ocultam estar doente porque não desejam mostrar-se aos demais como pessoas doentes e debilitadas e, há ainda, aqueles presos que não apresentam sinais e sintomas facilmente reconhecidos pelos profissionais de saúde, o que também dificulta o trabalho. Além disso, para o seguimento do cuidado, o tratamento é tão importante quanto o diagnóstico, e os profissionais de saúde investem em orientações para que os presos doentes cumpram todo o tratamento farmacológico a fim de chegar a cura, mesmo que isso implique aos profissionais terem que persuadir aos presos; 2) Trabalhar em uma prisão: a Segurança da penitenciária impõe limites ao trabalho dos profissionais, e portanto, esse trabalho é realizado conforme as normas institucionais de segurança e proteção. Os profissionais de saúde dependem que os presos que realmente necessitam de cuidados acessem a enfermaria, e por não poderem ir espontaneamente até esses presos, têm dificuldade para detectar precocemente ao suspeito de TB. Os profissionais de saúde se veem impossibilitados de mudar os limites impostos; e 3) Gerir suas emoções: as particularidades de se trabalhar no sistema prisional se refletem nos profissionais de saúde e com isso despertam emoções referentes a atenção aos doentes por TB. Com a responsabilidade de diminuir a propagação da doença, se sentem fadigados ao empenharem-se ao “doente mentiroso”. Ao trabalhar em um ambiente que apresenta condições mais favoráveis para a proliferação de uma doença infectocontagiosa os preocupa essa exposição, assim como o contágio, principalmente, a seus familiares. A pesar do tratamento aos doentes por TB ser necessário, aos profissionais de saúde implica aceitar que os presos merecem ser tratados, pensam ser injusto que os mesmos recebam uma atenção de qualidade, uma vez que essa nem sempre está ofertada à sociedade livre.

Considerações Finais

No processo de atenção aos presos doentes por TB os profissionais de saúde lidam com a mentira, assim como, com a ocultação da doença, envolvendo-se com quem não merece seu cuidado e abandonado a quem o necessita, além de submeter-se às normas institucionais de segurança e proteção. Apesar das dificuldades, muitas dessas relacionadas as características institucionais da penitenciária e de sua população, os profissionais de saúde não poupam esforços para o manejo da TB, principalmente para detectar a doença.

Palavras Chave

tuberculose, presos, pessoal de saúde.

Area

Saúde e populações vulneráveis

Instituciones

Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo - São Paulo - Brasil

Autores

Mônica Cristina Ribeiro Alexandre d´Auria de Lima, Mercedes Martinez Marcos, Carlos Bermejo Caja, Jaqueline Garcia de Almeida Ballestero, Laís Mara Caetano da Silva, Ana Carolina Scarpel Moncaio, Fernando Mitano, Pedro Fredemir Palha