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Título

REPRESENTAÇÕES SOBRE SAÚDE E DOENÇA DE USUÁRIOS DO PROGRAMA ACADEMIA DA SAÚDE

Introdução

As concepções de saúde e doença incluem desde crenças em divindades e explicações mágico-religiosas, na antiguidade, seguida da objetividade positivista biologicista da Medicina Moderna e, posteriormente, da Medicina Social, precursora do pensamento que engloba o conceito de determinantes sociais em saúde e perspectivas antropológicas, filosóficas e sociológicas. Este pensamento defende que a saúde e doença são fenômenos primariamente sociais, construídos em uma teia complexa de interações do campo social. A saúde é vista, assim, como um objeto múltiplo que integra um sistema adaptativo complexo. A proposta de promoção da saúde no Sistema Único de Saúde no Brasil se fundamenta neste pensamento. O projeto Academia de Saúde, implantado em 2011, é uma proposta de Promoção de Saúde, de abrangência coletiva, que inclui atividades físicas e educação em saúde em estruturas específicas nos municípios brasileiros. O que os usuários que participam do Programa pensam sobre saúde e doença?

Objetivos

Compreender representações sobre saúde e doença de usuários das academias da saúde de Belo Horizonte, Minas Gerais.

Método

Trata-se de pesquisa qualitativa fundamentada na teoria das Representações Sociais na perspectiva de Alain Giami. O estudo foi realizado nas academias de saúde do município de Belo Horizonte, Minas Gerais. Foram realizadas entrevistas com 32 usuários da Academia da Saúde de Belo Horizonte. A coleta foi realizada por meio de entrevistas individuais abertas e em profundidade, que foram gravadas em áudio e posteriormente transcritas. Os dados foram interpretados com base na Análise Estrutural de Narração seguindo o referencial de Demazière e Dubar. Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da UFMG.

Resultados

A partir da análise do conjunto de representações referentes à saúde e doença, surgiram duas categorias: “Entre os anseios próprios e a norma dos serviços de saúde” e “Equilibriar-se em um jogo de contrários”. Na categoria “Entre os anseios próprios e a norma dos serviços de saúde” as representações acerca da saúde têm forte teor dos discursos dos serviços de saúde. A boa/ adequada alimentação, dormir bem e fazer exercícios físicos têm centralidade nas representações de saúde, assim como, “não beber e não fumar” e “participar de palestras sobre nutrição”, são consideradas ações importantes para manter a saúde. Os modos de pensar e agir valorizam a convivência social, questões espirituais, emocionais, psicológicas e de autoconhecimento, particulares, embora os entrevistados julguem que a saúde não se limita a estas perspectivas. Tais representações não são encontradas comumente nos serviços de saúde, porque há centralidade na busca por cuidado médico. Paralelamente, há uma responsabilização individual das ações de saúde, com ênfase no excesso de alimentação e de peso, baseado no que é certo e errado prescritos pelos serviços de saúde, e que produz culpabilidade. Isto representa continuidade do pensamento do senso comum e científico existente de que ter saúde é uma decisão individual, ao invés de responsabilizar o alto preço, ineficiência e precariedade dos serviços de saúde ou condições indignas de vida. Há, porém, muitos casos em que o sujeito não segue o que é normalizado pelos serviços de saúde, estabelecendo para si modos mais flexíveis, adaptados às suas realidade e perspectiva de saúde, transitando entre o que é considerada conduta correta ou errada. A categoria “Equilibrar-se em um jogo de contrários” desvelou que as representações de saúde, frequentemente, encontram um antônimo correspondente para a doença na perspectiva dos usuários entrevistados. Há um jogo entre a presença de um e ausência do outro, porém não é algo rígido, tanto que existem algumas falas, esporádicas, que mencionam a possibilidade de manutenção da saúde mesmo com a presença da doença. Evidenciou-se como elementos fortes o antagonismo presente nas representações sobre saúde e doença: a utilidade e força de trabalho nos modos de viver, em que saúde é trabalhar, ter autonomia e ânimo, enquanto doença é a oposição a isso; a saúde como ausência de doença e a doença como ausência de saúde, enfatizando a força do modelo biomédico; a saúde e doença como determinações divinas, em que há a imagem de um Deus que cura e transforma, e um Deus que determina a doença; a saúde marcada por emoções e sentimentos positivos, relacionados à felicidade, paz, alegria, enquanto a doença é indicada pela tristeza e sentimentos negativos como depressão e desânimo; saúde sob a perspectiva da realidade e da determinação social, acreditando que saúde é sinônimo de qualidade de vida e ambiente limpo, enquanto estar em ambientes sujos, estressantes e sem saneamento básico pode levar a um processo de adoecimento; e a qualidade dos serviços de saúde como determinante para a condição de saúde ou doença do indivíduo.

Considerações Finais

No presente estudo, buscou-se compreender aspectos sociais relacionados à saúde e doença. A trajetória de vida e as relações estabelecidas com o meio influenciam e intensificam as condutas e práticas frente à saúde e doença. Transitando entre anseios próprios e normas dos serviços de saúde, os usuários apresentam representações de saúde reducionistas e biologicistas, que legitimam o conhecimento científico sobre os demais saberes. As representações do que é ser saudável estão impregnadas de normas e condutas generalistas, pré-estabelecidas e padronizadas pelos serviços de saúde, que valorizam a responsabilização individual sobre a coletiva, carregadas os sentimentos de culpabilização dos sujeitos. Frente às normas rígidas, os sujeitos estabelecem modos mais flexíveis e adaptados às suas possibilidades de vida e negociam transgressões, em que transitam entre desejo, possibilidades e normas na busca de saúde. No entanto, os usuários das academias mostram que há o horizonte de mudanças, com uma visão mais ampliada de saúde que inclui qualidade de vida, situação social, acesso, entre outros, como determinantes das condições de saúde. A dicotomia encontrada entre saúde e doença demonstrou como as representações dos participantes equilibram-se em um jogo de contrários, em que a presença de um significa a ausência de seu antônimo correspondente. Estes resultados mostram que saúde e doença não são mesmo pensadas separadamente e que promover saúde não resulta somente de uma decisão individual, como muito se ouve, ainda, na sociedade, inclusive nos serviços de saúde.

Palavras Chave

Promoção da Saúde; Prevenção de doenças; Doenças Crônicas; Políticas Públicas; Atenção primária à saúde.

Area

Promoção da saúde

Instituciones

Universidade Federal de Minas Gerais - Minas Gerais - Brasil

Autores

Nathália Cristina Pereira da Costa, Rosana Franciele Botelho Ruas, Marco Aurélio de Sousa, Ariana Paula da Silva, Maria Imaculada de Fátima Freitas