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Título

A dimensão do masoquismo nos fenômenos da adicção sexual: uma abordagem psicanalítica

Introdução

O tema principal de nossa apresentação é o quadro psicopatológico da adicção sexual, que pode ser definido como o apelo compulsivo à atividade sexual. Trata-se de uma problemática que desafia o atual panorama teórico e clínico da psicanálise, podendo ser articulada ao espectro das patologias narcísicas e/ou estados fronteiriços. Nessa modalidade particular de adicção, o sujeito está continuamente obcecado pela busca de situações sexuais diversas: inúmeros parceiros, multiplicação de aventuras sexuais, assédio frenético, sexo virtual, consumo exorbitante de pornografia, masturbação compulsiva, frequentação de clubes de sexo, prostíbulos, etc. (Estellon, 2002, 2005; André, 2011). Incapaz de administrar seus impulsos, o adicto sexual ou sex-addict aproxima-se regularmente da autodestruição.

Apesar da ausência de estudos epidemiológicos que utilizem critérios diagnósticos padronizados, pesquisas empíricas estimam que a incidência do quadro varia entre 3% e 6% na população adulta geral dos Estados Unidos, afetando cerca de dezessete milhões de homens e mulheres estadunidenses (Karila, Wéry, Weinstein, Cottencin, Petit, Reynaud & Billieux, 2014). Números que podem ser considerados, no mínimo, bastante expressivos. Este transtorno da sexualidade teria incidência maior sobre indivíduos do sexo masculino, à medida que 80% dos sujeitos tratados por adicção sexual são homens (Estellon, 2014).

No Brasil, identifica-se crescente número de grupos de apoio a adictos sexuais como, por exemplo, a irmandade “Dependentes de Amor e Sexo Anônimos” (DASA), subdividida em diversas unidades em diferentes regiões do país, oito delas apenas no estado do Rio de Janeiro. Trata-se basicamente de um programa de recuperação baseado nos Doze Passos, modelo pioneiro dos Alcóolicos Anônimos calcado em reuniões semanais de ajuda mútua entre pessoas que sofrem de dependência afetiva e/ou dependência sexual.

No campo epistemológico da Psicanálise, apenas recentemente alguma atenção começou a ser dedicada com maior consistência ao tema, especialmente na literatura psicanalítica francesa. Contudo, não seria inadequado dizer que a problemática do sexo vivenciado como situação de adicção ainda não foi tratada com a devida atenção e interesse por esse campo específico do saber.

Objetivos

O sex-addict, ao não conseguir gerenciar seus impulsos e atuações sexuais, é consumido por sentimentos de vazio, vergonha, fracasso e desespero. A problemática do prazer sexual “além do princípio de prazer”, conjugada à da dor psíquica, nos conduz a uma interrogação mais rigorosa sobre a dimensão do masoquismo na vida subjetiva.

Em termos gerais, o conceito psicanalítico de masoquismo se refere ao alcance do prazer na experiência da dor. Essa noção envolve intrincada constelação de fantasias, sentimentos, ideações e comportamentos caracterizados por dor, sofrimento, culpa, humilhação ou fracasso, subjetivamente vivenciados pelo sujeito de formas singulares e diversas, que parecem excessivos e, de certa forma, auto induzidos (Maleson, 1984; Glucksman, 2015). Manifestações penosas que estariam em maior ou menor grau atreladas à obtenção de alguma forma de prazer.

No nosso entender, o amplo e complexo conceito de masoquismo serviria, portanto, como uma espécie de chave-mestra para a compreensão teórica e clínica da relação entre sexualidade e destrutividade, prototípica da adicção sexual. Além disso, através do material coletado em atendimentos realizados no Serviço de Psicologia Aplicada da PUC-Rio, pretendemos identificar os conjuntos de processos psíquicos predominantes em pacientes adictos sexuais, tendo como eixo de trabalho a dialética paradoxal entre dor psíquica e prazer sexual.

Desenvolvimento

Similar em muitos aspectos a outras adicções, na concepção de Estellon (2002), intensos sentimentos de solidão, vazio e desespero são acompanhados de um ímpeto irresistível a esgotar e erradicar as tensões sexuais internas, através de uma escolha de objeto parcial, desumanizada. No pano de fundo, impera a lógica da desesperança e do desinvestimento do objeto sexual, na qual os parceiros a conquistar são intercambiáveis, facilmente substituíveis. No entanto, as relações sexuais se dão de modo consensual. Habitualmente não se trata de abuso ou violência sexual.

André (2013) destaca que, mesmo quando se deita com múltiplos parceiros, o sex-addict sente-se isolado, alienado. Termina por padecer de severo desamparo e solidão. Além disso, a cronificação da sexualidade adictiva leva o sujeito a não conseguir mais satisfazer-se com as práticas e vivências habituais, conduzindo-o à busca de sensações mais puras e mais fortes, através de uma crescente adesão a situações de risco. Em suas manifestações mais radicais e extremas, a adicção sexual se torna paradigmática de uma vertente masoquista da vida pulsional, onde o sujeito, por meio do apelo à sexualidade, se aproxima da total destruição física e psíquica.

Para Chabert (2014), seria precisamente o masoquismo moral, uma forma particular de masoquismo proposta por Freud em 1924, que tomaria à frente da cena em configurações fronteiriças, panorama no qual a adicção é emblemática. As formas patológicas do masoquismo moral se expressam através de uma “necessidade de punição” que coage o ego e o aprisiona, levando o sujeito a agir de forma autopunitiva e autodestrutiva. Os desejos, sentidos como forças maléficas, impuras, constituem fonte de drástica retaliação, traduzida pela dimensão da desqualificação e da falta de auto estima, que impõem condutas sacrificiais visando o corpo e a psique em suas capacidades de seduzir e de experimentar o prazer. O sujeito, de diferentes formas, procuraria avidamente o estado de abandono, negligência e desamparo psíquico.

Considerações Finais

Na ausência de limites internos bem estabelecidos, o adicto sexual precisaria desesperadamente testar os limites da realidade externa, se colocando em situações onde dor e prazer sexual atingem intensidade máxima, a sexualidade assumindo mais do que nunca viés extremo, destrutivo e masoquista. Nesse contexto, a necessidade de punição, expressa em sucessivas atuações e não através de vias discursivas, vem, enfim, como um ponto de interrupção, “coup d’arrêt”, recurso extremo de freagem (Chabert, 2014, p. 105). Sua violência equivale à intensidade transbordante dos impulsos incestuosos derivados do complexo de Édipo, cujo fracasso de elaboração e recalcamento são evidentes.

Buscamos, portanto, mostrar como o sex-addict, inserindo-se repetidamente em circunstâncias penosas e possivelmente mortais estaria, de certa forma, exercendo em ato uma tentativa de auto regulação, de restrição do gozo desenfreado.

Palavras Chave

Adicção sexual ; Compulsão; Masoquismo; Psicanálise

Area

Saúde Mental

Instituciones

Puc-Rio - Rio de Janeiro - Brasil

Autores

Ney Klier Padilha Netto, Monah Winograd