Datos del trabajo


Título

BULLYING HOMOFÓBICO EM CONTEXTO ESCOLAR: CRENÇAS, PRATICAS E IMPACTOS NA SAÚDE DAS VITIMAS

Introdução

Para uma contextualização do conceito de bullying homofóbico, recolocamos a questão inicial no entendimento da prática de “Bullying”. Ainda que esta não seja uma nova conduta, a forma como é hoje entendida, pensada e interpretada é diferente e surge sem dúvida contextualizada pela modernidade (Grácio, 2011). O recente reconhecimento dos efeitos negativos para o desenvolvimento, saúde e educação dos jovens provenientes destes comportamentos causaram uma renovação da importância desta temática (Velez, 2010). Este novo interesse tem sido manifestado, entre outros, pelos diferentes membros da comunidade escolar, nomeadamente estudantes, professores e pais, pelos profissionais de saúde, pela comunicação social e pelos líderes políticos a um nível mundial. “Até então, muitos casos de bullying foram ignorados e apelidados de “coisas de criança”, inerentes ao crescimento” (Grácio, 2011, p.6). Tal como refere a OMS (1996), a prática de bullying, surge invocado como uma forma de violência, que se traduz pelo uso intencional de força ou poder, de forma efetiva ou como ameaça, contra si mesmo, outra pessoa, grupo ou comunidade e que origina ou tem grandes probabilidades de ocasionar lesões físicas e/ou psicológicas. São ainda várias as designações que compõem esta problemática, tais como, o bullying físico, psicológico, social, sexual e homofóbico. Contudo, estas denominações, que surgem associadas a uma diversidade de tipologias não podem ser entendidos de forma isolada, dado que, frequentemente, são coincidentes e atuam em paralelo. Nunca deixando de ter presente a correspondência das diferentes formas do bullying, a presente investigação foi direcionada para as questões subjacentes ao Bullying homofóbico. Este caracteriza-se por atitudes discriminatórias e persecutórias contra pessoas LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgénero e Intersexo), subjacente ao caráter heteronormativo, relacionado com as expectativas dos papéis de género (Poteat & Espelage, 2005; O’Higgins-Norman, 2008). As consequências negativas face à saúde, provenientes deste tipo de violência, são múltiplas, e envolvem os diversos agentes, como a vítima, o ofensor, a testemunha e a família. O reconhecimento das implicações da violência praticada contra homossexuais veio aumentar o interesse social e científico, promovendo a implementação de pesquisas sobre este objeto de estudo (Sebastião, 2009). Em Portugal, é visível um número significativo de estudos, nomeadamente, pela Rede ex áqueo (2008), pelo projeto Tudo irá melhorar (2012), pela Associação ILGA Portugal (2012; 2016) e pela AABCJ, Associação Anti-Bullying com Crianças e Jovens (2015). Todavia, ainda é prevalente algum défice de informação relativamente ao tema. Porém, apesar de haver um aumento da visibilidade das suas práticas e das suas consequências (Sebastião, 2009), estes estudos concluem que estes indivíduos continuam a ser objeto de discriminação, violência e preconceito. Na atualidade, a temática da orientação sexual e/ou identidade de género ainda é um tabu (Vieira, 2009). A sexualidade com os/as jovens surge frequentemente abordada de forma formal, seja através de ações em contexto escolar e/ou médico. Neste contexto, é dada uma conotação mais científica, através da advertência para uma relação sexual segura, com o uso de métodos contracetivos femininos e masculinos, ficando por refletir práticas de afetividade e todo um conjunto de outros significados que fazem parte da sexualidade, de uma maneira geral, e necessariamente das e dos jovens. Tal como sugere Vieira (2009) no seu estudo sobre Sexualidades Juvenis, temas como, por exemplo, o amor, os modelos relacionamento, o desejo, a primeira relação sexual e o prazer são frequentemente evitados ou pouco verbalizados, quer pelos pais e mães, quer pela comunidade escolar.

Objetivos

A partir deste enquadramento conceptual, o presente estudo definiu como objetivos centrais, a caraterização das práticas e significados do Bullying Homofóbico, a partir dos discursos de jovens estudantes Portugueses/as (qualitativo) e a desconstrução de crenças de género e LG (Lésbicas e Gays), a caraterização das práticas violentas dirigidas a este grupo, bem como, determinar os impactos na saúde das vítimas (quantitativo). A investigação ambiciona ainda, poder promover a temática em análise através da sua visibilidade, compreensão e da consciencialização para a importância da cooperação das Instituições Escolares e dos seus membros no apoio e na resolução destas problemáticas.

Método

Para tal optamos por uma metodologia mista: quantitativa através do preenchimento de um questionário e qualitativa, realização de cinco focus group. Nesta investigação participaram 105 estudantes de ambos os sexos (57 do sexo feminino e 48 do sexo masculino), com idades entre os 10 e os 17 anos e que frequentavam o 2º e 3º ciclo. O estudo foi dinamizado na sua totalidade na Escola Básica de Custóias que se localiza na freguesia de Custóias, concelho de Matosinhos.

Resultados

As principais conclusões do presente estudo recaem num crescimento de atitudes positivas face à orientação sexual e/ou identidade de género não heteronormativa. Nos seus discursos, foi notória a permanência de determinadas crenças e estereótipos, mas também percetíveis algumas mudanças, nomeadamente face às masculinidades e ao binarismo de sexo/género. Contudo, permanecem enraizados estigmas e crenças associadas aos indivíduos gays e lésbicas, bem como, comportamentos de carácter discriminatório, preconceituoso e violento relativamente a este grupo, ainda observado, em alguns contextos, como uma minoria. Na investigação deparamo-nos ainda com uma maior frequência de respostas desejáveis face ao reconhecimento das implicações da violência na saúde das vítimas gays e lésbicas e das atitudes/comportamentos que caraterizam o bullying homofóbico. Porém, depreendemo-nos com um número significativo de comportamentos violentos observados. Apesar de se apresentarem num número inferior, é de realçar que também foram identificadas atitudes violentas praticadas e sofridas de cariz físico, psicológico, sexual e social.

Considerações Finais

Em suma, acreditamos que através do conhecimento e da própria consciencialização das pessoas enquanto sujeitos socias, poderemos auxiliar a dar resposta ao flagelo a que a comunidade LGBTI é sujeita e motivar para a realização de mais estudos com enfoque nestas áreas. Torna-se emergente criar medidas de combate e de prevenção para dar resposta a esta problemática, começando pela inclusão efetiva da temática da orientação sexual na formação de todos os indivíduos. Por fim, é necessário uma articulação entre os meios, como as Instituições Escolares e os seus membros, as leis, as respostas/meios de apoio à população LGBTI e as TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) que surgem como impulsionadoras de uma comunicação em massa.

Palavras Chave

Bullying Homofóbico, violência, jovens estudantes, discursos, crenças gays e lésbicas, impactos na saúde

Area

Gênero, Sexualidade e Saúde

Autores

Ana Sofia Silva Queirós, Ana Sofia Antunes das Neves, Cristina Pereira Vieira