Datos del trabajo


Título

ACOLHIMENTO PSICOLOGICO A MULHERES ALVO DE VIOLENCIA DE GENERO: CONTEXTO DE URGENCIA E EMERGENCIA

Introdução

As marcas da violência de gênero vão além das feridas visíveis e sintomas físicos resultantes de agressão. Para uma atenção integral à saúde, também devem ser consideradas as dimensões psicológicas deste fenômeno. Os efeitos psicológicos da violência tolhem aos poucos as defesas da mulher e sua somatização pode resultar em um espectro de problemas relacionados à saúde mental, que variam desde o isolamento até tentativa de suicídio; um quadro que reafirma a importância de profissionais na área de psicologia para melhor suporte às mulheres desde seu primeiro contato com o sistema de saúde, o que em geral se dá no contexto de Urgência e Emergência.

Objetivos

O trabalho teve como objetivo geral compreender a atuação do profissional de psicologia na prática de acolhimento a mulheres que sofrem de violência de gênero em contextos de Urgência e Emergência de um hospital da região da grande Florianópolis. Como objetivos específicos, buscou-se conhecer as políticas públicas que se relacionam à prática do acolhimento psicológico a vítimas de violência de gênero em contextos de Urgência e Emergência; identificar as práticas de acolhimento no hospital aplicadas por psicólogos em contextos que envolvam violência contra a mulher; e observar as ações de intervenção do psicólogo junto aos demais profissionais de saúde em equipes multidisciplinares no contexto de urgência e emergência de um hospital da região da grande Florianópolis.

Método

A construção do método de pesquisa se dá a partir de uma visão dos sujeitos como histórico-dialéticos inseridos em uma realidade complexa, a partir da qual buscamos compreender múltiplas perspectivas. Com o objetivo de compreender a atuação do profissional de psicologia na prática de acolhimento a mulheres que sofrem violência de gênero em contextos de urgência e emergência de um hospital da região da grande Florianópolis, escolheu-se como lócus para a pesquisa o Hospital Universitário Prof. Polydoro Ernani de São Thiago (HU/UFSC). O instrumento de coleta de informações utilizado para a presente pesquisa foi entrevistas semiestruturadas com psicólogos envolvidos no contexto hospitalar de urgência e emergência, com questões elaboradas a partir de pesquisa bibliográfica e de acordo com os objetivos da pesquisa. As informações coletadas foram analisadas qualitativamente por meio de análise de conteúdo com abordagem indutiva construtiva foi a escolhida para a realização da análise, visto que “Sua finalidade não é generalizar ou testar hipóteses, mas construir uma compreensão dos fenômenos investigados” (Moraes, 1999).

Resultados

A análise das entrevistas realizadas em campo aponta para nove unidades de análise: acolhimento psicológico, investigando como se dá a prática do psicólogo; equipes multidisciplinares, com as dinâmicas que atravessam os atendimentos; violência de gênero, compreendendo os diferentes tipos de violência cuja mulher é alvo preferencial que estão presentes no lócus; contexto de urgência e emergência, explorando as particularidades deste meio; encaminhamentos, para entender como se dá e se há continuidade do tratamento; agravos, com relatos dos sintomas e complicações psíquicas e subjetivas; questões sobre gênero, contendo as noções das entrevistadas acerca do tema; políticas públicas, levando em consideração o conhecimento ou o desconhecimento por parte das psicólogas; e medicalização, tanto nos atendimentos quando na patologização dos agressores. Concluiu-se que caráter breve do campo não atenua a importância da atuação do profissional de psicologia. Sua presença neste contexto acaba se dando como uma forma de atenuar crises agudas, situar a mulher sobre a conjuntura em que se encontra e o apoio na criação de estratégias para a superação das violências sofridas. Para além da escuta, o acolhimento também se dá por ações práticas. Desde o cuidado na garantia da privacidade da mulher dos atendimentos, até a posição de horizontalidade do olhar do profissional de psicologia, passando pela mobilização de uma rede de apoio por meio de ligações e engendramentos que variam de acordo com as demandas pessoais de cada paciente. As psicólogas destacam que, para além de uma dor física, as mulheres apresentam uma “dor subjetiva muito grande”. Mesmo em casos em que a principal queixa não é a violência de gênero, é comum histórico de violência intrafamiliar e conjugal entre as mulheres que dão entrada no serviço em por agravos psíquicos (como crises de ansiedade generalizada ou tentativa de suicídio). O acolhimento se dá de forma multiprofissional, em geral em duplas formadas por médico e enfermeira e psicólogo e assistente social. Isso se dá para evitar o desgaste da paciente. Ainda que as profissionais entrevistadas tenham demonstrado conhecimento acerca das especificidades do fenômeno da violência de gênero, relatam que já ouviram colegas fazerem comentários relacionados às circunstâncias em que as agressões ocorrem: “Você tá no consultório e alguém vem ‘ah, mas olha só também né... por quê que não foi embora’, sei lá, (...) ‘ah, por que que vem aqui? porque apanhou pela centésima vez o marido, por que ainda tá com o marido?’. Aquele exemplo bem cliché do pessoal que fala, né ‘ah mas também, tava andando dentro do ônibus sozinha, na rua, bêbada, como é que não queria ser estuprada?’”. Por isso as profissionais relatam que seu trabalho também se dá junto a equipe, com esforço para desconstruir este tipo de recorte, reafirmando sua importância na humanização do atendimento.

Considerações Finais

Questões culturais que permeiam a sociedade se mostram como um desafio e um agravador do sofrimento psíquico. Os mitos acerca das agressões e abusos afetam e isolam muitas mulheres. Frequentemente as pacientes procuram o serviço sozinhas e relatam sentir medo e vergonha, o que torna árduo a mobilização de uma rede de apoio eficiente. A desigualdade de gênero aparece como um possível potencializador da ocorrência dessas violências, destacando importância da apropriação dessas questões pelos profissionais de saúde como uma prioridade no sentido de superação do fenômeno. A figura do psicólogo e a utilidade dos saberes da psicologia não deve ser subestimada como ferramentas para acolhimento, contextualização da paciente, incentivo à superação de sua dor subjetiva e na humanização do atendimento no contexto estudado.

Palavras Chave

violência de gênero, psicologia, acolhimento psicológico, urgência e emergência

Area

Violências e Saúde

Instituciones

Universidade Federal de Santa Catarina - Santa Catarina - Brasil

Autores

Bibiana Beck Garbero